quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Willian Waack e as Relações Promíscuas da Globo c/ Governo Americano

Já era do conhecimento de muitos que o modelo comercial exitoso da Rede Globo no Brasil deveu-se à transferência de expertise técnica, gerencial e mesmo à aplicação de capitais do grupo americano Time-Life. O acordo celebrado entre os dois grupos em 1960 foi crucial ao empreendimento pelo fato de haver proporcionando à emissora, em curto espaço de tempo, conhecimento empresarial até então de domínio exclusivo das mais avançadas emissoras em funcionamento nos Estados Unidos.



Entre 1962 e 1967 a Globo já era dominante no mercado brasileiro de televisão, o que lhe serviu de base para que depois de 50 anos se constituísse o centro de gravidade de um conglomerado de cerca de 100 empresas. Só em televisão são 68 emissoras afiliadas, 26 emissoras de rádio, uma empresa de TV a cabo, uma empresas de serviços de internet, um jornal impresso (o segundo do país), uma agência de notícias, uma editora e uma produtora de áudio,vídeo e filmes. Dados do TBI Yearbook de 2000 indicam que a emissora de TV cobre 100% do território nacional dispõe de 65% da audiência do país, sendo o restante dividido entre as demais emissoras.


A rede Globo é considerada a terceira emissora em tamanho de audiência do mundo, ao lado das 3 grandes americanas NBC, ABC e CBS (dados que excluem Índia e China onde vigoram monopólios estatais). É dela cerca de 80% das despesas com publicidade de anunciantes brasileiros, o que corresponde a 60% dos investimentos com propaganda nos 7 maiores mercados do mundo.


Como revelam Guimarães e Amaral no texto Mídia e Monopólio no Brasil de 1996, o monopólio da emissora foi construído à sombra do regime militar brasileiro, sendo sua consolidação garantida pelo sistema de patronagem da Nova República que a beneficiou intensamente. Durante ambas as fases da história foi-lhe assegurada a transferência de recursos na forma de investimentos públicos e uso de infraestrututa tecnológica de propriedade do Estado.


Segundo os mesmos autores a imbricação entre negócios e política no desenvolvimento da emissora teve dimensões pouco vistas no resto do mundo em empresas privadas, sendo impossível aos seus controladores (família Marinho) expandi-la sem o apoio explícito da emissora a candidatos do governo. Declarou Roberto Marinho ao Diário de Lisboa em 30 de julho 1984: “...enquanto o governo permanecer forte, seremos solidários a ele; se a coisa muda na opinião pública, mudaremos também”. Disse-o à véspera da dissolução do regime militar que apoiava.


As ligações com os americanos constituem capítulo à parte. Quando a Time-Life procuravam parcerias no Brasil recusaram-na os grupos O Estado de São Paulo e Diários Associados. À época a legislação do país proibia empresas estrangeiras de possuir participação no capital ou na administração de empresas de comunicação.


Dada a influência que disponha junto a atores governamentais, a família Marinho manobrou para que a legislação fosse mudada em torno de um novo eixo de políticas que no entender de próceres do regime promovessem a unidade nacional e preparassem as reformas econômicas que o país precisava. Era a época de programas nacionalistas como “Amaral Neto Repórter” e coisas do gênero.


Pelo contrato principal assinado pela empresa Globo com a Time-Life em 24 de julho de 1962, com duração de 11 anos, foi criada em Nova Iorque a TV Globo Inc. Na oportunidade, a família Marinho recebeu a importância de US$ 2 milhões a titulo de adiantamentos e o controle de 51% das cotas do negócio (foram dois contratos, um chamado de principal e outro de assistência técnica).


Ficou estabelecido no contrato de assistência, entre outras coisas, que o grupo estrangeiro além de livre acesso às dependências da emissora e poder para examinar contas, teria também plena liberdade para informar-se com qualquer funcionário de seu interesse. Essas relações teriam sido mantidas de modo formal até meados dos anos 70.


O que não se sabia é que essa troca de informações perdurasse até hoje. Documentos diplomáticos do governo norte-americano vazados recentemente pela Organização Wikileaks apontam como informante do Departamento de Estado ninguém menos que um dos principais âncoras dos telejornais da Globo, o jornalista Wiliam Waack.


Os documentos divulgados pela Organização, constituídos de despachos diplomáticos enviados a Washington pelas representações consulares dos Estados Unidos no Brasil, citam três encontros de Waack com emissários da administração do EUA.


O primeiro deles foi em abril de 2008 (junto com outros jornalistas) com o almirante Philip Cullom, que estava no Brasil para acompanhar exercícios conjuntos entre as marinhas dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina. O segundo encontro aconteceu em 2009, quando Waack foi chamado para prestar informações sobre as movimentações dentro dos partidos visando o processo eleitoral de 2010. O terceiro foi em 2010, com o atual embaixador estadunidense Thomas Shannon, momento em que o jornalista novamente abasteceu o governo americano com informações detalhadas sobre os então candidatos às eleições presidenciais no Brasil.


Outro nome proeminente requisitado pelos analistas americanos é o do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, da Folha de São Paulo. Os documentos revelados pelo WikiLeaks dão conta de quatro participações do jornalista em reuniões de brasileiros com representantes da administração Bush: um membro do Departamento de Estado, um senador, o cônsul-geral no Brasil e um secretário para assuntos do hemisfério ocidental. Na pauta, o repasse de informações sobre os partidos eleitoreiros no Brasil e sobre a exploração de petróleo na camada pré-sal.


Ainda outro implicado pelos documentos é o jornalista Fernando Rodrigues, repórter especial de política do mesmo jornal, o qual, segundo o wikileaks, chegou a dar explicações ao governo americano sobre o funcionamento do Tribunal de Contas da União.


Mais está por vir à tona. A representante do WikiLeaks no Brasil, a jornalista Natália Viana, adiantou que a organização divulgará em breve milhares de documentos inéditos da diplomacia ianque sobre o Brasil produzidos durante o governo Lula por meio de colaboradores da Rede Globo de Televisão.


Fontes: Helena de Souza, em seu paper “Re-expotando o modelo de Tv norte-americano” e Organização Wilileaks Brasil.

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