terça-feira, 25 de outubro de 2011

Uma nova cassação para Paulo Wright

Discurso inaugural de Paulo Stuart Wright na Assembleia Legislativa Catarinense






A Alesc – Assembleia Legislativa de Santa Catarina está prestes a cassar um deputado pela segunda vez. Para quem acha bizarra ou impossível a situação ficará mais perplexo ao saber que se trata de um deputado falecido. A polêmica acerca da mudança do nome de uma rodovia estadual, no município de Penha, Santa Catarina, deu ensejo ao movimento liderado pelo Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça que pede a não revogação ou modificação da Lei que em janeiro deste ano reverenciou o nome do único deputado catarinense cassado pela ditadura militar em 1963.


O Projeto de Lei (PL 0199.0/2011) de autoria do deputado Gilmar Knaesel (PSDB/SC) tem por objetivo modificar o nome da Rodovia Estadual Paulo Stuart Wright, que liga a BR-101 a Avenida Nereu Ramos, em Penha/SC, para Rodovia Estadual Francisco Leopoldo Fleith sob a justificativa que Fleith foi importante político local e dono de loteamento.
Memória curta?
O jornalista americano Doug Larson, conhecido por ter seus pensamentos expostos em camisetas, escreveu certa vez em sua coluna diária no Green Bay Press-Gazette que: “há muita gente que confunde memória curta com consciência tranquila”. Se o projeto de lei passar no plenário, ele revogará uma lei aprovada, por unanimidade e sem restrições, no dia 17 de janeiro de 2011. Se não bastasse este episódio, ainda há o fato de que a troca do nome da rodovia supõe que boa parte dos representantes catarinenses ignora a existência de um parlamentar que teve sua história escrita, com sangue, no parlamento.


Natural de Erval Velho, meio-oeste catarinense, Paulo Stuart Wrighté filho de missionários presbiterianos americanos. A formação cristã em sua educação; os estudos em Sociologia; e a atuação política posicionou Paulo Wright ao lado dos menos favorecidos. Seu mandato como deputado pelo extinto PSP – Partido Social Progressista, fez com que Paulo Wright conhecesse a vida difícil dos pescadores do litoral catarinense, e os organizasse numa federação chamada Fecopesca. Esse fato inspirou Dias Gomes a escrever a novela “O bem amado”. Cassado pela ditadura militar; e banido do rol de fiéis da Igreja Presbiteriana, Paulo Wright vive na clandestinidade sendo o segundo homem da APML – Ação Popular Marxista Leninista. Em 1973 é preso e torturado pelo II Exército em São Paulo, sob a coordenação do Coronel Brilhante Ustra. O corpo de Paulo, reclamado pelo governo dos Estados Unidos da América, e pelos familiares, nunca foi encontrado.


A professora Derlei Catarina De Luca, vítima da repressão armada da ditadura militar, conta que conheceu Paulo Stuart Wright num comício em Criciúma na década de 60, juntamente com o Presidente João Goulart. “Após o comício voltei a ver o Paulo (Stuart Wright) em 1968, quando eu entrei na clandestinidade com o AI-5. O Paulo era disciplinado. Havia trabalhado com os pescadores catarinenses, e os operários do ABC Paulista. Lia e escrevia muito; entendia os problemas do povo e sofria por isso. Acho que o corpo nunca foi devolvido porque o caso repercutiu nos Estados Unidos. O Senado americano chegou a fazer um dossiê e enviou o senador Edward Kennedy para acompanhar o caso. O irmão e pastor presbiteriano Jaime Wright faleceu sem encontrar o corpo do Paulo.”.


Estrada tortuosa


Em matéria veiculada pelo jornal Beira da Praia, de Penha/SC, em 12 de fevereiro de 2011, o representante do Sinjusc – Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário de Santa Catarina Ricardo Schimtz Maes menciona a trajetória de Paulo Stuart Wright e a homenagem que o deputado catarinense recebeu com a denominação rodovia SC-414. Maes, afirma que o homenageado “constitui um símbolo na luta pela liberdade e justiça social, representando todo aquele que lutou contra a opressão do regime militar”.


O projeto de lei aguarda, a partir do dia 5 de outubro, discussão e votação em 1º turno. Os Deputados Neodi Saretta (PT/SC), Volnei Morastoni (PT/SC), e Sargento Amauri Soares (PDT/SC) defenderam a continuidade do nome de Paulo Stuart Wright na rodovia.


O assunto é tortuoso. A partir das manifestações favoráveis para criação da Comissão da Verdade em Santa Catarina, através do pedido dos deputados Dirceu Dresch (PT/SC), e Volnei Morastoni (PT/SC) a ditadura militar volta a ser debatida no Estado. Já dizia Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal emérito de São Paulo e amigo do Pastor Presbiteriano Jaime Wright: “os povos que não podem ou não querem confrontar-se com seu passado histórico estão fadados a repeti-lo”.
By: Acangatu in Estácio de Sá, Sem categoria on out. 23, 2011

Por William Wollinger Brenuvida

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