Sem medo
Quem resistiu está credenciado a integrar a Comissão da Verdade
São impressionantes as marcas que um regime opressivo deixam em um povo. Durante as discussões sobre a criação da Comissão da Verdade, foi perceptível uma preocupação com alguma eventual reação dos militares em relação à iniciativa.
A impressão que se tem é que as Forças Armadas do país são um monstro adormecido que pode ser acordado com algum tipo de movimento mais brusco da democracia brasileira. Não gratuitamente, há cuidados especiais em todos os atos e declarações relacionados ao período da ditadura militar.
Evidentemente que pode haver um exagero nessa análise. Normalmente, quem a faz vivenciou ou conheceu, de alguma forma, os grandes estragos causados pelo período opressivo. Mas é aí que reside o problema. O exagero é, sem dúvida, uma consequência do sofrimento e da brutalidade do regime militar, estabelecido em 1964.
Dina Sfat, atriz brasileira que usou de forma brilhante o seu talento e o teatro como forma de resistência, conseguiu retratar muito bem esse fantasma que ronda a sociedade brasileira ao dizer diretamente para um coronel que tinha medo dos coronéis. Ela disse isso ainda no período de repressão, dando assim um exemplo de coragem.
Essa coragem de Dina deve ser exemplo para os brasileiros que venham a assumir a Comissão da Verdade. O país não pode ter medo da verdade, assim como não pode ter medo de assumir que ainda existe uma ameaça velada e calada, mas não morta e eliminada.
É preciso, sim, que aqueles que sofreram na carne a violência da ditadura façam parte dessa comissão. Foram eles que tiveram a coragem de dizer não ao sistema repressivo, mesmo sob tortura. Eles são a história. (Carla Kreefft)
Publicado no Jornal OTEMPO em 19/11/2011
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