segunda-feira, 25 de julho de 2011

MORTOS E DESAPARECIDOS POLITICOS DO BRASIL

ROSALINDO DE SOUZA (1940–1973)


Filiação:


Lindaura Correia Silva e Rosalvo Cypriano Sousa


Data e local de nascimento:


02/01/1940, Caldeirão Grande (BA)


Organização política ou atividade:


PCdoB


Data do desaparecimento:


entre 16/08 e setembro/1973


Baiano de Caldeirão Grande mudou-se para a cidade de Itapetinga, em 1945, com a família, onde concluiu o curso ginasial no Centro Educacional Alfredo Dutra. Em 1957, já em
Salvador, interrompeu os estudos, no terceiro ano, para ingressar no serviço militar. No Exército, fez os cursos de cabo e sargento, dando baixa em 1960.


Em 1961, trabalhou como diretor da secretaria da Câmara Municipal de Itapetinga. Em 1963, iniciou o curso de Direito na Universidade Federal da Bahia, sendo nomeado na mesma
época escriturário do Instituto de
Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. Cinco anos depois, já militante do PCdoB, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico Rui Barbosa da Faculdade de Direito da UFBA, quanto teve início a sua perseguição política. Tornou-se dirigente estadual do PCdoB na Bahia.


Após o AI-5, foi impedido de se matricular em sua faculdade e mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1969, onde residiu por algum tempo com o casal Dinalva e Antonio Carlos, seus amigos da Bahia, também combatentes e mortos no Araguaia. Rosalindo terminou o curso de Direito na Faculdade Cândido Mendes e se inscreveu na OAB em 31/03/1970. Voltou a
Itapetinga e montou um escritório de advocacia. No ano seguinte, foi denunciado perante a Justiça Militar e julgado à revelia no dia 13/05/1971, sendo condenado a dois anos e dois meses


Conforme o relatório Arroyo, “


Alfredo (Antônio Alfredo) na ocasião insistiu com Zé Carlos (André Grabois) para que fossem apanhar dois porcos dele que se encontravam numa roça próxima. Os porcos ajudariam a alimentação dos guerrilheiros. Zé Carlos considerou temerário o projeto de Alfredo. Chegou a dizer: ‘Não vamos morrer pela boca’. Sabia que o Exército provavelmente estaria emboscado na roça onde se encontravam os porcos. No dia seguinte, saíram cinco companheiros para apanhar farinha num depósito e, se nada de anormal notassem, poderiam ir apanhar os porcos. Mas no caminho decidiram ir, primeiramente, apanhar os porcos. Lá chegaram cerca das 9 horas. Mataram os porcos com quatro tiros e os levaram para um lugar limpo a fim de retalhá-los. Fizeram fogo de palha para pelar os porcos. Uma hora depois estava terminado o serviço. Mas quando foram carregar a carne, as alças das mochilas quebraram. Alfredo resolveu então improvisar um atado de cipó (vira-mundo) para carregar nas costas. Quando terminou o último atado eram já 12 horas. Estavam presentes os companheiros: Zé Carlos (André), Nunes (Divino Ferreira de Souza), Alfredo, Zebão (João Gualberto) e João (Dermeval da Silva Pereira). Preparavam-se para sair quando Alfredo ouviu um barulho esquisito. Chamou a atenção de João.


Este, porém, achou que era uma palha de coqueiro que tinha caído.


Ato contínuo, apareceram os soldados, apontando suas armas. Atiraram sobre o grupo. João conseguiu escapar, os outros foram mortos. Não tiveram tempo nem de pegar as
armas (14/10/73)”.


Matérias publicada no jornal O Globo, em 02/05/96 com os títulos, “Ex-guia mostra onde os corpos foram enterrados”, “De Xambioá a Marabá, o roteiro dos cemitérios” e“Moradores
contam a prisão e a morte de guerrilheiros”, assinadas por Amaury Ribeiro Jr., trouxeram depoimento de uma testemunha ocular do ocorrido. Segundo o guia Manuel Leal Lima, o
Vanu, contou ao jornalista, “ele guiava o pelotão de 15 soldados, comandados pelos oficiais Cid e Adulpro, por volta das 2h da tarde. Famintos, os quatro guerrilheiros
carregavam nas costas três porcos abatidos na Fazenda do Caçador, de propriedade de Geraldo de Souza, um ex-delegado de São Domingos que trabalhava como guia do
Exército. O barulho dos tiros dos guerrilheiros para matar os porcos alertou a patrulha. Segundo Vanu, o Exército chegou na fazenda atirando.


Alfredo ainda tentou reagir, disparando dois tiros que se perderam na mata.


Foi fuzilado em seguida. João Gualberto também foi morto, quando tentou se esconder atrás de uma castanheira. André Grabois foi o primeiro a ser atingido, morrendo em


seguida. Depois de recolher a munição e as armas dos guerrilheiros – sete quilos de munição e cinco revólveres 38 – o major Cid ordenou ao guia: - Ponha os corpos em cima do
burro e enterre os terroristas a três quilômetros de distância em direção ao rio. As covas têm que ficar a um quilômetro e meio de distância uma da outra. - As cabeças dos‘paulistas’ iam balançando no burro lentamente, totalmente arrebentadas.


Depois de enterrar os corpos, fui resgatado por um helicóptero que levou o Nunes, ferido com vários tiros, até o DNER, onde ele e mais 20 outros guerrilheiros foram enterrados –
conta Vanu”.
Dias antes do julgamento, em 22/04/1971, viajou para o Araguaia, região de Caianos, integrou-se ao Destacamento C e ficou conhecido como Mundico. Lá, desenvolveu o hábito de fazer cordéis, sendo de sua autoria um que aborda os 27 pontos da União de Luta pelos Direitos do Povo – ULDP. Esse cordel chegou a ser recitado por moradores da região.


Quanto à data de sua morte, existe uma referência ao dia 16 de agosto, mas também existe o registro do mês setembro. Ângelo Arroyo comenta em seu relatório: “
...acontecimentos negativos ocorreram também em setembro: a morte de Mundico, do C, por acidente com a arma que portava..”.. No entanto, segundo o Relatório do Ministério do Exército, entregue em 1993 ao ministro da Justiça Maurício Corrêa, Rosalindo “teria sido morto no dia 6 Ago 73, em combate com as forças de segurança”. Já o relatório da Marinha, do mesmo ano, também marca setembro: “relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morto em SET 73”.


Em declaração prestada ao Ministério Público, em São Geraldo do Araguaia, em 19/07/01, Sinésio Martins Ribeiro, ex-colaborador do Exército na região, conta que quando ainda estava preso no curral da base de Xambioá, viu a cabeça do Mundico. Isto se deu entre agosto e setembro, “porque as roças ainda não tinham sido queimadas e quem descobriu a sepultura foi o João do Buraco, proprietário do local onde estava enterrado o Mundico. As terras do João do Buraco eram freqüentadas pelos guerrilheiros e João do Buraco, ao ser preso pelo Exército, mostrou a sepultura. O Exército não havia travado combates neste local e por isso disse que foram os guerrilheiros que mataram o Mundico.


O Exército chegou lá por volta de 4 ou 5 dias após, cavou a sepultura, cortou a cabeça e enterrou novamente o corpo. A cabeça foi levada para a base e mostrada aos presos
para reconhecimento. Ela estava meio destruída, o cabelo solto e João do Buraco reconheceu o Mundico.


Os documentos estavam com o morto e a cabeça do Mundico ficou exposta uns dois dias perto do barracão do Exército e foi enterrada perto de um pé de jatobá que ficava perto da base”.


Importa registrar, aqui, que nos dois livros mais recentes sobre o episódio histórico do Araguaia, os autores dão guarida a uma versão que militares participantes da repressão à
guerrilha sustentam, taxativamente, de que Mundico teria sido “justiçado” pelos próprios guerrilheiros.


Vale registrar que tal informação também pode representar mais uma tentativa de desmoralizar os militantes mortos, como era prática rotineira dos órgãos de segurança do regime militar, conforme já relatado em inúmeros casos deste livro-relatório.






ROSALINDO SOUZA


Militante do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).


Nasceu a 2 de janeiro de 1940, em Caldeirão Grande, Estado da Bahia, filho de Rosalvo Cypriano Sousa e Lindaura Correia de Sousa


Desaparecido desde 1973 na Guerrilha do Araguaia, aos 33 anos.


Mudou-se com sua família, em 1945, para Itapetinga, onde concluiu o curso ginasial no Centro Educacional Alfredo Dutra.


Em 1961 trabalhou como diretor da secretaria da Câmara Municipal de Itapetinga, Bahia.


Indo para Salvador, iniciou o científico no Colégio Antônio Vieira, em 1957, interrompeu o curso no 3° ano para ingressar no serviço militar. No Exército, fez os cursos de Cabo e Sargento, dando baixa em 1960. Também em Salvador, fez o curso de contabilidade no Instituto Valença.


Em 1963 iniciou o curso de Direito na UFBa e nesta mesma época foi nomeado escriturário do IAPETEC (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários).


Em 1968 foi eleito presidente do Diretório Acadêmico Rui Barbosa da Faculdade de Direito da UFBa, quanto teve início a perseguição política.


No ano seguinte, foi impedido de se matricular, indo para o Rio de Janeiro, onde terminou o curso na Faculdade Cândido Mendes. Inscreveu-se na OAB em 31 de março de 1970, sob o n° 3106. Voltou a Itapetinga, montando escritório de advocacia, em 1970. Também era poeta.


Foi indiciado na Justiça Militar com outros 10 estudantes e julgado à revelia no dia 13 de maio de 1971, sendo condenado a 2 anos e 2 meses de reclusão. Dias antes do julgamento, em 22 de abril de 1971, viajou para o Araguaia para a região de Caiano, integrando-se ao Destacamento C da Guerrilha.


O Relatório do Ministério do Exército diz que foi “morto em confronto com as forças de segurança em 16 de agosto de 1973.”


Poema de Rosalindo, publicado no “O Anuário do Colégio Antônio Vieira”, em 1958:


GRANDEZAS


Aos píncaros mais altos


Sonhei um dia subir,


Galgar em grandes saltos


A glória de um belo porvir.


Imaginava grandeza


Em tudo, não sei porque.


O futuro uma beleza,


Ser grande, queria ser.


Sonhei viver abastado,


Senti o amor nascer,


Sonhei na glória e honrado,


Sonhei meu nome crescer...


As dificuldades chegaram


Trazendo mil confusões,


Os sonhos elas levaram


Deixando desilusões.


Vivo hoje acabrunhado,


Cismando, só a pensar,


Me sentindo o culpado


Deixando o tempo passar.


Mas não morre a esperança


De uma glória eu alcançar,


Porque fica na lembrança


A vontade de lutar!!






ROSALINDO DE SOUZA (1940-1973)


Baiano de Caldeirão Grande, Rosalindo mudou-se em 1945, com a família, para a cidade de Itapetinga, onde concluiu o curso ginasial no Centro Educacional Alfredo Dutra. Em 1957, já em Salvador, interrompeu os estudos no terceiro ano do ensino médio, para ingressar no serviço militar,dando baixa em 1960. Em 1963, iniciou o curso de Direito na Universidade Federal da Bahia e, já militante do PCdoB, foi eleito presidente do diretório acadêmico.


Após o AI-5, foi impedido de se matricular em sua faculdade. Em 1969, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde residiu por algum tempo com o casal Dinalva e Antonio Carlos, seus amigos da Bahia, também combatentes e mortos no Araguaia.


Rosalindo viajou para a região de Caianos em abril de 1971, dias antes de ser condenado à revelia a dois anos e dois meses de prisão pela Justiça Militar. No Araguaia, integrou-se ao Destacamento C da guerrilha e ficou conhecido como Mundico. Era um artista, fez canções, poemas, peças de teatro.


Desenvolveu o hábito de fazer cordéis, sendo de sua autoria um que aborda os 27 pontos da União de Luta pelos Direitos do Povo – ULDP. Esse cordel chegou a ser recitado por moradores da região.


Quanto à data de sua morte, existem referências ao dia 16 de agosto e também ao mês de setembro.


Ângelo Arroyo comenta em seu relatório: “[...] acontecimentos negativos ocorreram também em setembro: a morte de Mundico, do C, por acidente com a arma que portava...”. No entanto, segundo o relatório do Ministério do Exército, de 1993, Rosalindo “teria sido morto no dia 6 Ago 73, em combate com as forças de segurança”. O relatório da Marinha marca setembro.


Em declaração prestada ao Ministério Público, em São Geraldo do Araguaia, em 19 de julho de 2001, Sinésio Martins Ribeiro, ex-colaborador do Exército na região, conta que, quando ainda estava preso no curral da base de Xambioá, viu a cabeça de Rosalindo. Isto se deu entre agosto e setembro porque as roças ainda não tinham sido queimadas e quem descobriu a sepultura foi o João do Buraco,  proprietário do local onde estava enterrado o Mundico. As terras do João do Buraco eram frequentadas
pelos guerrilheiros e João do Buraco, ao ser preso pelo Exército, mostrou a sepultura. O Exército não havia travado combates neste local e por isso disse que foram os guerrilheiros que mataram o Mundico. O Exército chegou lá por volta de 4 ou 5 dias após, cavou a sepultura, cortou a cabeça e enterrou novamente o corpo. A cabeça foi levada para a base e mostrada aos presos para
reconhecimento. Ela estava meio destruída, o cabelo solto e João do Buraco reconheceu o Mundico.


Os documentos estavam com o morto e a cabeça do Mundico ficou exposta uns dois dias perto do barracão do Exército e foi enterrada perto de um pé de jatobá que ficava na base.


Nos dois livros mais recentes sobre o episódio histórico do Araguaia, os autores dão guarida à versão que militares participantes da repressão à guerrilha sustentam, taxativamente, de que Mundico teria sido “justiçado” pelos próprios guerrilheiros. Tal informação, entretanto, poderia representar mais uma tentativa de desmoralizar os militantes mortos, como era prática rotineira dos órgãos de segurança.
(do livro Habeas Corpus)




Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos da Bahia


O Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos da Bahia foi edificado na praça Tancredo Neves e inaugurado em 9 de julho de 1998, por iniciativa do Grupo Labor – Assessoria, Documentação e Pesquisa. O monumento presta homenagem àqueles que foram submetidos aos horrores da Ditadura Militar, instalada no Brasil, em 1964. Traz uma figura humana vazada, dando o sentido de ausência. A arte é dos conquistenses Romeu Ferreira e Ana Palmira Cassimiro. Os nomes dos baianos, vítimas fatais do Regime Militar, são os seguintes:


Antonio Carlos Monteiro Teixeira


Aderval Alves Coqueiro


Carlos Marighela


Demerval da Silva Pereira


Dinaelza Soares Santana Coqueiro


Dinalva Oliveira Teixeira


Ednaldo Gomes da Silva


José Lima Piauhy Dourado


João Carlos Cavalcante Reis


José Campos Barreto


Joel Vasconcelos Santos


Jorge Leal Gonçalves Pereira


Luis Antonio Santa Bárbara


Mário Alves de Sousa Vieira


Maurício Grabois


Nelson Lima Piauhy Dourado


Nilda Carvalho Cunha


Péricles Gusmão Régis


Pedro Domiense de Oliveira


Otoniel Campos Barreto


Rosalindo Souza


Sérgio Landulfo Furtado


Stuart Edgard Angel Jones


Uirassú de Assis Batista


Vandick Reidner Pereira Coqueiro


Vitorino Alves Martinho


Walter Ribeiro Novaes






 

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