segunda-feira, 11 de julho de 2011

REFÚGIO DA PERSEGUIÇÃO E TORTURA

Maria Auxiliadora: dor da divisão ainda existe entre alemães


Foi também atrás da "Cortina de Ferro" que a família do deputado mineiro Sinval Bambirra – morto em 2003 – encontrou refúgio. No Brasil, ele foi perseguido, preso, torturado e cassado por suas atuações ligadas a movimentos de esquerda. Para salvar a si e à família, fugiu para o México, mas, lá, descobriu que estava com os tímpanos estourados devido às pancadas que recebeu dos militares brasileiros. A orientação era que se dirigisse para um país com hospital e médicos preparados para a cirurgia. As opções dadas pela Federação Sindical Mundial – que estava ajudando na saída do Brasil – eram Romênia, Alemanha Oriental e União Soviética. A família optou por Berlim Oriental.


O deputado foi operado no Hospital Charité, em Berlim. Ficava bem na divisa dos lados oriental e ocidental. Foi lá também que a mulher de Sinval Bambirra, Maria Auxiliadora Bambirra, 70 anos, deu à luz seu terceiro filho. Ela havia saído do Brasil grávida. “Da janela do hospital, eu via o outro lado, mas não sabia o que era. Eu perguntei para a enfermeira o que era aquele lugar, porque achei bonito –tinha umas quadras iluminadas lá. A enfermeira me disse que era o ‘outro lado’ e que era para eu sair da janela”, lembra. Segundo ela, Berlim Oriental era uma cidade mais “escura” por causa da dificuldade em se obter energia elétrica.




De 1966, passaram-se 14 anos até a família voltar para o Brasil – somente em 1980, com o início da redemocratização do país. Nessa década e meia, Maria Auxiliadora viveu, viu e experimentou muitas situações. “Uma vez, de dentro do trem, assisti a um espetáculo de fuga, uma pessoa tentando pular uma parte do muro que era de arame farpado”, conta. Segundo ela, quando esses incidentes aconteciam, soldados dentro do trem mandavam todos os passageiros ficarem quietos.


Na Berlim Oriental, o deputado foi estudar na universidade, e Maria Auxiliadora, trabalhar na Rádio Berlim Internacional, que era oficial e produzia noticiário em nove idiomas. Os filhos iam para a escola. Maria Auxiliadora conta que havia diferenças salariais, mas não eram exorbitantes, como no mundo capitalista. “Eu ganhava 1.600 marcos, e meu chefe ganhava 5 mil marcos. O salário mínimo era 480 marcos”, conta. Ela lembra que, nos 14 anos, viu evolução no sistema, como o fim do déficit habitacional, um problema no início do regime. Entre a população, diz, era nítida a insatisfação generalizada com a divisão. “As pessoas odiavam aquele muro. Até hoje, essa dor da divisão existe entre os alemães”.
Para Maria Auxiliadora, o que determinou o fim do regime socialista na Alemanha foi a falta de liberdade, o desejo de ter acesso aos bens de consumo que o lado ocidental tinha, o avanço tecnológico e a incapacidade do governo em manter a estrutura. “O socialismo de lá não conseguiu acompanhar o capitalismo e começou a perder, principalmente, na tecnologia. E, para as pessoas, o que interessava era o direito de ir e vir. Elas tinham tudo, mas queriam o supérfluo, que só o capitalismo pode dar”.
Cláudia Rezende - Repórter - 9/11/2009 - 17:04









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