segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ROSE NOGUEIRA SOBREVIVENTE DA DITADURA MILITAR

Rose Nogueira, uma sobrevivente do porão da ditadura militar


Jornalista passou quase um ano sob tortura do esquadrão da morte. Seu crime? Dar abrigo a Frei Betto e a Carlos Marighella perseguidos do regime..


No ano de 1969, Rose Nogueira e seu marido foram presos em sua residência. Foi separada do seu filho recém nascido há apenas um mês, levada pelo esquadrão da morte e lá foi torturada de diversas formas, além de ser obrigada a desfilar nua. As torturas lhe proporcionaram a o fim do direito à maternidade. Na época ela ainda tinha leite que escorria e cheirava azedo. Isso incomodava os torturadores que a obrigaram a tomar uma injeção para cortar o leite gerando uma infecção que futuramente a impossibilitaria gerar um filho.


Rose ficou 50 dias presa no DOPS. Os agentes chegaram a levar seu filho lá duas vezes, pois além da tortura física também coagiam psicologicamente, usando a criança para lhe ameaçar.


Saiu da prisão no auge da ditadura, mas ainda ficou dois anos com liberdade vigiada: toda semana tinha que comparecer na auditoria militar para assinar uma ficha. Seu marido ainda continuou preso por mais um ano. Perdeu o emprego, no qual estava de licença maternidade no período da prisão, era jornalista da Folha da Manha, que lhe conferiu abandono de emprego.


Conseguiu um trabalho em uma revista especializada “Construção em São Paulo”, e não imaginava que mesmo assim eles continuavam a vigiando. “Foram 16 anos de perseguição”, lembra Rose. “Quando eu fui buscar meu dossiê na antiga SMI, hoje ABIN, lá estava. Eles fizeram meu
acompanhamento”.


“Depois que a minha vida estava desgraçada, depois que me torturam, tiraram meu direito de ser mãe novamente, me privaram de ver meu filho crescer no seu primeiro ano de vida, depois de tudo isso, fui julgada e absolvida”.


Essa é uma entre tantas outras histórias que marcam o passado do Brasil, um passado vergonhoso, mas que não deve e não pode ser esquecido. A luta do GTNM é pelo direito à vida, à história e aos mortos. Pois, os familiares têm o direito de enterrar seus entes queridos.


Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo


O GTNM foi fundado no ano de 1977. O ponto de partida foi a morte do Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975. Logo em seguida um grupo de pessoas se posicionaram contra a tortura. Já em 1976, morreu o operário Manoel Fiel Filho também sob tortura. Esse foi o estopim para fundação do grupo. Seus fundadores foram Dom Paulo Evaristo Arns, rabino Henry Sobel, Hélio Bicudo, Maragarida Chenevoa, todos militantes dos Direitos Humanos. Nesse período, começou a campanha pela anistia total e irrestrita.


Atualmente, o grupo luta pelos direitos econômicos, sociais, melhor distribuição de renda e estrutura familiar. Tudo o que possa melhorar a sociedade de modo geral, além das lutas particulares, como é o caso de identificação de desaparecidos políticos, a eterna luta pela abertura dos arquivos e por todo e qualquer direito humano.


O Grupo tem sua sede na rua Frei Caneca, no centro da cidade de São Paulo. São duas salas cedidas pela igreja católica. Eles não pagam aluguel, mas têm outras dívidas como água, luz, telefone, internet e o salário de uma secretária.


O GTNM é mantido por doações de seus associados e não tem um patrocinador. “Cada um dá o que pode, uns dão 10 reais, outros dão 50 e alguns dão duzentos”, afirma a presidente. Cada um contribui com o que pode não tendo um valor estipulado. São cerca de 30 associados que se reúnem um sábado por mês para trocarem experiências. Os integrantes são livres para fazerem seus trabalhos, mas há uma coordenação da presidente do grupo.


A cada dois anos é realizada uma eleição para escolher o presidente e há também uma diretoria executiva. O Grupo também se articula com o CONDEP (Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana). Além disso, integra o Movimento Nacional dos Direitos Humanos e participa mensalmente de reuniões na Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência da República.


O Grupo disponibiliza na sua sede uma biblioteca e um arquivo que podem ser consultados por quem tiver interesse. O objetivo é, quando houver condições, digitalizar esse acervo.


O Endereço da sede do Grupo Tortura Nunca Mais é na rua Frei Caneca, nº 986 centro- SP. Fone: (11) 3283-3082

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