sexta-feira, 6 de agosto de 2010

FERIDAS QUE NÃO CICATRIZAM

Hiroshima, no Japão, sediou hoje uma cerimônia para lembrar o 65º aniversário do lançamento da primeira bomba atômica da história mundial. Apenas três dias depois, uma nova bomba seria lançada – dessa vez em Nagasaki. Ao todo, foram mais de 300 mil pessoas mortas e a destruição total das duas cidades, deixando o país arrasado e chocando o mundo com o potencial mortífero desse tipo de arma.
Hoje, milhares de pessoas se concentraram na Praça da Paz de Hiroshima, às 8h15, exata hora em que, em 1945, a bomba foi jogada. Pela primeira vez a tradicional cerimônia foi assistida por um representante dos Estados Unidos e pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.


O Greenpeace relembra o aniversário este ano com trabalhos junto ao escritório israelense, aproveitando a ocasião para não só relembrar o sofrimento das vítimas das bombas atômicas, mas também pressionar por um Oriente Médio livre de armas de destruição em massa.


As bombas de Hiroshima e Nagasaki só puderam ser produzidas com conhecimentos obtidos a partir do primeiro reator nuclear do mundo. É grande a proximidade entre a utilização de energia nuclear para fins energéticos e fins militares ou bélicos. A ameaça nuclear (energética ou militar) é um perigo desnecessário e caro. “Hiroshima é exemplo de quão perigosa pode ser a tecnologia nuclear. A linha entre a utilização militar e civil da fissão nuclear é tênue e quase inexistente. Quanto mais se aposta na utilização da energia nuclear, mais se aumenta a probabilidade de que outras Hiroshimas aconteçam. É preciso parar antes que seja inevitável”, afirma André Amaral, coordenador da campanha de nuclear do Greenpeace Brasil.


“A produção de energia nuclear é tão perigosa quanto a bomba em si. Aliás, trata-se do mesmo processo, que nos reatores é contido. Acidentes em usinas, nas minas de urânio, durante o transporte de material radioativo ou em qualquer fase de produção do combustível necessário para a geração de eletricidade nos reatores são extremamente perigosos, podendo levar a contaminação de milhares de pessoas e do meio ambiente, trazendo um legado que poderá perdurar por gerações.”, completa.


No Brasil, a Associação Paulista de Medicina promoveu no dia 02 de agosto, em São Paulo, uma cerimônia em memória das vítimas da bomba e também a abertura de uma exposição, que vai de 03 de agosto a 30 de setembro, com fotografias que contam a história das cidades – do lançamento das bombas até os dias atuais. Saiba mais aqui.


Em 1973 Vinícius de Moraes escreveu um poema sobre o tema, que se tornou muito conhecido. Confira:


Rosa de Hiroshima


Pensem nas crianças


Mudas telepáticas


Pensem nas meninas


Cegas inexatas


Pensem nas mulheres


Rotas alteradas


Pensem nas feridas


Como rosas cálidas


Mas, oh, não se esqueçam


Da rosa da rosa


Da rosa de Hiroshima


A rosa hereditária


A rosa radioativa


Estúpida e inválida


A rosa com cirrose


A anti-rosa atômica


Sem cor sem perfume


Sem rosa, sem nada

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