sábado, 21 de agosto de 2010

GILDO MACEDO LACERDA: SUA VIDA E SUA LUTA


Em 31 de março deste ano, completou-se quarenta anos do golpe militar no Brasil. Vários eventos foram realizados com o objetivo de se repensar o significado que os anos de ditadura militar tiveram para a sociedade brasileira. Pontos de vistas foram dados, experiências relatadas, livros novos publicados, livros antigos re-editados. Tudo muito oportuno, uma vez que o assunto é muito importante e merece tal discussão.


No entanto, não podemos deixar de (tristemente) observar que um velho vício acadêmico ainda persiste: as análises sempre são feitas enfocando os mesmos personagens, os mesmos lugares, as mesmas idéias. E a ocorrência desse vício se torna mais visível quando se trata de analisar os movimentos que buscaram opor uma certa resistência ao autoritarismo, como é o caso do movimento estudantil e de suas lideranças.


Para tentar demonstrar que tal idéia não corresponde a verdade dos fatos e, ao contrário, mostrar que o movimento de resistência erguido pelos estudantes ocorriam em outros lugares, e que, principalmente, havia outras lideranças que não as mesmas, gostaria de discorrer sobre um importante personagem: Gildo Macedo Lacerda, ex-vice-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e ex-militante da AP (Ação Popular), a maior organização brasileira de esquerda. Mas antes de falarmos sobre ele, gostaria de fazer três reflexões.


A primeira, é como estudante de história. Gostaria de chamar a atenção para a importância da história local, muitas vezes preterida em nome da história universal. O que cria, se me permitem, o curioso fato de termos pessoas que sabem todas as etapas da Revolução Francesa (nada contra ninguém), mas desconhecem dados elementares acerca de sua cidade. Aliás, é bom dizer, que há historiadores que afirmam não existir outra história que não a local, como é o caso de Pierre Goubert.3


As outras duas são de ordem metodológicas: a) alguém poderia, achar que se trata de contribuir para a formação de um mito em torno da figura de Gildo. Não, não é essa a intenção. Ao contrário. O que se tentará o tempo todo é abordar o sujeito na sua dimensão histórica e concreta; b) mas essa busca não pode, no entanto, suprimir ou ofuscar os fatos que verdadeiramente ocorreram. É sobre esses fatos que nos debruçaremos. É claro que muitos deles preferiríamos esquecer, justamente pela dor que nos trazem. Mas, exatamente para que não doam em mais ninguém, é que não podemos deixá-los no esquecimento.


Isso posto, podemos retomar nossa discussão acerca de Gildo Macedo Lacerda.


Uma pequena biografia


Gildo Macedo Lacerda nasceu em Ituiutaba em 08 de julho de 1949. Estaria hoje, portanto com 55 anos. Dona Célia, a mãe, juntamente com o pai, seu Agostinho cuidavam de uma fazenda, fruto do trabalho de ambos.


Tiveram, Célia e Agostinho, 4 filhos: Gilberto, que morre 3 meses depois do nascimento, Márcia, Gildo e Maria Aparecida. Com o intuito de lhes proporcionar uma educação mais refinada, a família Macedo Lacerda se muda para Uberaba em 1963 e vai morar na Praça Dr. Thomás Ulhôa nº 24. Seu Agostinho vende a fazenda em Ituiutaba e adquire outra no município de Veríssimo.


Gildo vai estudar no Colégio Triângulo (cuja a entrada era pela rua Padre Jerônimo), onde hoje é o campus I da Universidade de Uberaba. Lá cursa a 7ª e 8ª séries do ensino fundamental, antigamente 3ª e 4ª séries do curso ginasial4. Em 1965, transfere-se para o Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, onde ficaria por mais dois anos.


Os tempos de “Zezão”, como já era conhecida a referida casa de educação, foram os mais intensos. Gildo se dividia entre algumas atividades: Presidente do Grêmio Estudantil Machado de Assis, ativo participante do NATA Núcleo Artístico de Teatro Amador -, orador da Mocidade Espírita Batuíra e apresentador de programas radiofônicos ligado ao espiritismo. Isso sem falar das leituras dos clássicos da esquerda revolucionária, tais como Marx e Althusser, e da participação no movimento estudantil, quando foi orador da União Estudantil Uberabense (UEU) e do Partido Unificador Estudantil. Sua mãe ainda se lembra de várias reuniões feitas em casa, onde Gildo e companheiros discutiam, entre outras coisas, política (local e nacional), teatro e a participam dos estudantes no movimento estudantil.


E nessas reuniões uma sigla se torna comum na boca dos estudantes: AP, ou seja, Ação Popular. Pode-se afirmar que Gildo, nessa época, já teria tomado contato com o programa básico da organização e a ela teria se aliado.5


A Ação Popular (AP) no Brasil e no Triângulo Mineiro


A AP surgiu dos quadros da Juventude Universitária Católica (JUC) em 1963. Após o golpe de 64, parte de seus membros defenderam a aproximação com o PC do B, Partido Comunista do Brasil, num processo de fusão que só se completaria em 1973 (CAMPOS FILHO, 1997). A aproximação entre as duas organizações era muito forte, com base na atuação do movimento estudantil, consolidando-se com a adoção de uma linha revolucionária semelhante: a defesa das concepções maoístas e, sobretudo, dos princípios leninistas acerca da revolução e da forma de organização partidária.


"O programa básico da AP afirmava a existência de uma nova época histórica, a época em que o imperialismo caminha para a ruína completa e o socialismo avança para a vitória em escala mundial. O maoísmo, ou o pensamento de Mao Tsé-Tung, afirmava, é a terceira etapa do marxismo, o marxismo-leninismo de nossa época, o marxismo levado a uma etapa completamente nova."6


Com o AI-5, instaurado em 13 de dezembro de 1968, alguns dirigentes da AP passaram a defender idéias mais radicais e o caminho da luta armada (que originalmente era pensada apenas no campo) tornava-se cada vez mais próximo. A partir de 1971 passam a defender a união de todas as correntes marxistas-leninistas (1999, MIRANDA). Como a fusão com o PC do B não era consenso dentro da Ação Popular, o grupo dissidente passou a denominar-se AP-ML Ação Popular Marxista Leninista.7


Aqui, no Triângulo Mineiro, principalmente em Uberaba e Uberlândia, a AP vai ser introduzida por volta de 1966, por militantes vindos de Belo Horizonte. Supõe-se que um deles teria sido José Carlos Novaes da Mata Machado, filho do deputado cassado pelo AI-5, Edgar Godoi da Mata Machado. Ele era estudante da Faculdade de Direito da UFMG e teria vindo para Uberaba por volta de 1967, como dirigente da AP, no intuito de ampliar os quadros da organização no interior do Estado.8


Numa visita de 3 dias, outros militantes da AP, também vindos de Belo Horizonte, entram em contato com, entre outros, Danival Roberto Alves, então estudante de filosofia na Faculdade São Tomás de Aquino, a Fista, que assim descreve o encontro:


A reunião foi na casa da Vilma Valim. Foi lá que Antônio José Duarte Jácomo, egresso de JUC (Juventude Universitária Católica), e depois de AP, cede-me a gestão dos trabalhos. Esse encontro de três dias ocorre a portas fechadas e lacradas, em face da vigilância exercida pela repressão.9


Danival Roberto Alves, hoje diretor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, torna-se, então, o responsável pelos trabalhos da AP em Uberaba e região. Fazia parte da sua função, portanto, atrair novos quadros para o movimento de resistência contra a ditadura. Ainda como estudante, Danival passa a dar aulas no Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, onde, como já dissemos, Gildo vai estudar. É certo que, com o afastamento de Danival à frente da AP, Gildo assume seu comando no Triângulo Mineiro, até sua ida para Belo Horizonte.10


E é como membro da AP que, no final de 1966, Gildo, com 17 anos, muda-se para Belo Horizonte. Vai morar na rua Guajajaras com as duas irmãs, na pensão da dona Sebastiana.11


Na capital mineira, faz o 3º Científico integrado ao pré-vestibular e em 1968, entra para a FACE, Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, realizando, assim, um antigo sonho seu e de seus familiares.12


A UFMG era a maior base da AP em Minas Gerais e contava com mais de 60 ativos militantes. Gildo, devido a suas idéias, logo se torna uma referência no movimento estudantil e estreita laços com José Carlos Novaes da Mata Machado, então estudante de direito na mesma universidade e com José Matheus Pinto Filho, militante que, em 1966 tinha organizado o Congresso da UNE, realizado na Igreja de São Francisco de Assis (DUARTE, 1994). Os três passam boa parte de 1968 se revezando entre os estudos e as viagens a serviço do movimento estudantil e da AP.
1968 seria também o ano da primeira prisão de Gildo.


XXX CONGRESSO DA UNE:
A PRIMEIRA PRISÃO


A direção nacional da UNE sabia que a realização de seu congresso anual ocorreria sob forte vigilância do regime militar. Não obstante, realizá-lo seria uma importante vitória sobre a repressão (LIMA, 1998). É neste clima de insegurança, misturado à necessidade de se fazer algo, que é marcado para outubro de 1968 o XXX Congresso Nacional dos Estudantes. O local: Sítio Murundu, distante 22 quilômetros de Ibiúna, uma pequena cidade a 70 quilômetros de São Paulo. Vários estudantes de Minas Gerais, mesmo sabendo do risco que seria participar do congresso, dirigiram-se para lá. Entre eles, Gildo e José Carlos. Samarone Lima, autor da biografia de José Carlos Novaes da Mata Machado, descreve assim a ida de ambos para Ibiúna:


Gildo e José Carlos viajaram no dia 9 de outubro. Saíram de Belo Horizonte no último ônibus e chegaram a São Paulo no dia 10. Para participar do Congresso, teriam de encontrar Luís Custódio Costa Martins, um estudante de Agronomia da Faculdade de Botucatu e também militante da AP (...) O esquema para chegar ao local previa várias etapas. O motorista iria até um ponto da rodovia, estacionaria o carro e abriria o capô. Alguém chegaria com a pergunta-chave:
# Você tem pneu da Volkswagen?
A resposta deveria ser:
# Não, eu tenho da Fenemê.
Custódio seguiu a orientação. A resposta foi a combinada e José Carlos desceu, junto com Gildo. Dali seguiriam para o encontro.13


No afã de se realizar o encontro, os estudantes acabaram se descuidando das normas de segurança e para que a repressão descobrisse onde seria realizado o Congresso foi uma questão de tempo. Ítalo Ferrigno, delegado titular do DOPS, que comandou a operação, mais tarde diria que, desde o dia 7 de outubro, a repressão já sabia que o XXX encontro da UNE seria em Ibiúna (LIMA, 1998). O que se aguardava para prendê-los era apenas o momento certo. Deixaram para a manhã do dia 12 por julgar que todos os líderes já estariam presentes. Zuenir Ventura, jornalista carioca narra assim esse episódio:


Na chuvosa manhã de Sábado, 12 de outubro, a polícia invadiu o sítio Murundu, nas imedicações da cidade [Ibiúna], e prendeu um número de estudantes que varia, conforme a fonte, de setecentos a mil e quinhentos, pondo fim ao XXX Congresso da UNE que ali se realizava e ao sonho estudantil. 14


Com base no Decreto-lei 477, editado em fevereiro de 1969 pelo General Costa e Silva, Gildo é expulso da FACE e transfere-se primeiramente para São Paulo, mais especificamente para o ABC paulista, onde lhe interessava estabelecer contatos diretamente com a massa trabalhadora15. Posteriormente se dirige para o Rio de Janeiro. Sua luta para fugir das perseguições impostas pela repressão eram constantes.


Em abril de 1969, um “mini” congresso é realizado num sítio em Jacarepaguá16, e Gildo, então presidente do DCE de Minas Gerais, é eleito um dos vice-presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) para a gestão 69/70. Na presidência, Jean-Marc van der Weid, antigo militante da AP. Esta seria a última diretoria, uma vez que a entidade seria totalmente desarticulada pelas forças da ditadura. Juntamente com Jean Marc e Gildo, foram eleitos também: Honestino Guimarães, presidente da Federação dos Estudantes de Brasília; José Genuíno Neto, presidente do DCE do Ceará; Helenira Resende, do Centro Acadêmico de Letras da USP; Humberto Câmara, da UEE de Pernambuco e Ronald Rocha, do Rio de Janeiro (ROMAGNOLI & GONÇALVES 1979).


Em 197217, Gildo, já como dirigente nacional da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), foi deslocado para Salvador, BA, “onde dirigiu a implantação do trabalho camponês da organização no Nordeste” (DUARTE, 1994, p. 42). Na cidade baiana, utilizava o nome de Cássio Oliveira Alves, sob o qual vivia e trabalhava (MIRANDA, 1999). É provável que, durante sua estada em Salvador, Gildo conhecesse aquela que viria ser a sua companheira e com quem teria uma filha, batizada com o nome de Tessa: Mariluce Moura, jornalista baiana e também militante da AP.


Com medo de que sua família em Uberaba fosse molestada pelos agentes da repressão, Gildo enviava suas cartas para um amigo do pai em Veríssimo e este, então, as repassava a seu pai Agostinho.


Numa dessas cartas, ele manifestava a tristeza por não receber notícias da família e a saudade que sentia de todos. Incomodava-lhe também o fato de não poder apresentar sua companheira, Mariluce, a seus familiares.


Muito tempo sem ver a família, o desejo de que seus pais conhecessem Mariluce e, sobretudo, o número de prisões efetuadas pelo governo Médici fazem o casal Gildo e Mariluce, no começo de Outubro de 1973, vir para o sítio da família, em Veríssimo. Nesse tempo, Mariluce já suspeitava estar grávida. A filha Tessa nasceria 8 meses após a morte do pai.


AS TORTURAS E A MORTE


Gildo e Mariluce foram presos no dia 22 de outubro de 1973, logo que regressaram para Salvador. Ele, por volta de meio-dia, ao sair de casa. Ela, uma hora depois, em frente ao Elevador Lacerda, importante ponto turístico da capital baiana.


Foram levados, junto com outros presos, para a Superintendência da Polícia Federal da capital baiana. Mariluce estava grávida de 2 meses, confirmando suas suspeitas. À noite, ela e Gildo foram separados e cada um foi para uma sala. Nunca mais se veriam.


No dia seguinte, 23, Mariluce foi transferida para o quartel do Forte de São Pedro. Gildo, juntamente com Oldack Miranda, jornalista de Salvador, foi levado ao Quartel do Barbalho. Gildo é, posteriormente, transferido para o DOI-CODI do Recife, onde foi violentamente torturado. Por ser dirigente nacional da AP, seus algozes, usando as mais cruéis formas de tortura, tentaram arrancar dele todas as informações possíveis. Como Gildo nada dizia, foi brutalmente assassinado no dia 28. Neste mesmo dia, Mariluce recebe a notícia de que Gildo fora levado para uma longa viagem.


No dia 1º de novembro, um oficial dizendo-se capelão, conta-lhe que Gildo estava morto desde 28 de outubro. Para confirmar a história, apresentava-lhe um recorte de jornal que trazia a versão oficial de sua morte.


A FARSA


Márcia Macedo Lacerda, irmã mais velha de Gildo, então com 25 anos, assistia ao Jornal Nacional naquele 1º de novembro de 1973. Com sua nacionalmente conhecida voz, Cid Moreira assim anunciava:


Entre outras prisões, caiu em São Paulo José Carlos Novaes da Mata Machado e, em Salvador, Gildo Macedo Lacerda. Interrogados, "abriram” um ponto com o dirigente “Antônio” [possivelmente Paulo Stuart Wright, outro dirigente da AP] às 19:30 do dia 28, à avenida Caxangá com general Polidoro, no Recife. À hora aprazada um homem forte, louro, branco, percebendo a armadilha, abriu fogo contra seus companheiros aos gritos de “traidores”. Mesmo ferido, teria escapado depois de deixar Gildo morto e José Carlos mortalmente ferido.18

Essa foi a versão oficial da morte de Gildo. Esses “tiroteios” era uma das formas mais usadas pela repressão para justificar a morte de algum preso político. Os militantes da AP, ao ouvirem a versão do Governo, imediatamente perceberam a farsa.

Os restos mortais de Gildo nunca foram devolvidos à família. Primeiramente, o corpo foi para a vala comum no Buraco do Inferno. Em 1986, foi transferido para outra vala comum, no Cemitério Parque das Flores.


A TRAIÇÃO


Em 1971, Gilberto Prata não queria mais ser revolucionário. Cansara da militância. Saiu da AP, foi cuidar da vida. Providenciou documentos e resolveu acompanhar as coisas de longe. Entretanto, em fevereiro 1973 foi procurado pelo CIEX - Centro de Informação do Exército19 - e decidiu colaborar (ainda hoje não se sabe bem porque)20. Sua missão: fingir voltar à militância na AP, descobrir onde estavam escondidos suas principais lideranças e entregá-las para a repressão. No comando da operação, o delegado Sérgio Paranhos Fleury, responsável pelo DOPS de São Paulo e um dos mais temidos torturadores do país (LIMA, 1998).


O trunfo que Gilberto tinha nas mãos é justamente o que torna sua traição mais chocante: ele era irmão de Maria Madalena Prata Soares e cunhado de José Carlos Novaes da Mata Machado, importantes líderes da AP naquele momento. Ao primeiro sinal de que queria voltar às operações da AP, foi recebido com entusiasmo pela irmã e pelo cunhado.


A partir daí, Gilberto serviu de “guia” para a repressão policial-militar. Quando os agentes perdiam José Carlos, Madalena, Gildo e outros militantes que passaram a ser seguidos, Gilberto restabelecia o elo. Isso podia ser em Salvador, no Recife, Rio de Janeiro e em São Paulo.


Em 1993, em depoimento perante a Comissão Externa sobre os Mortos e Desaparecidos da Câmara Federal, onde fica público seu papel, Gilberto revela:


"No período [maio a outubro de 1973], quem era da AP e entrou em contato comigo direta ou indiretamente, como José Carlos, Gildo, Madalena, dançou [foi preso] e tenho certeza absoluta de que se alguém pode dar conta de onde estão os corpos [dos que foram mortos] é o pessoal do CIEX”.21


De algum modo, a morte de Gildo e de vários outros militantes da AP decorreram do “trabalho” de Gilberto Prata Soares como guia da repressão.


AS MÃOS SUJAS.


A epígrafe que abre este trabalho cita um trecho da peça de teatro “As mãos sujas” de Jean-Paul Sartre, importante filósofo existencialista do século XX, lançada em 1947. Nesta obra, Sartre tenta mostrar que, em certos momentos da vida de um militante de esquerda (e isso vale também para qualquer um de nós), mais importante do que discutir qual o caminho a ser tomado é tomar um caminho. Ou seja, é importante sujar as mãos, envolver-se com as questões que estão ao nosso redor. Não nos cabe, ao menos nessa hora, dizer se o caminho de luta tomado por Gildo e por tantos outros foi ou não o mais correto. Interessa-nos mostrar que alguns não se omitiram diante dos problemas que tinham de ser enfrentados, mesmo tendo que pagar com suas próprias vidas.


Mais que dar nome ao Diretório Central dos Estudantes, Gildo Macedo Lacerda, com sua trajetória de vida, nos ensina que a liberdade deve ser perseguida sempre e que somos todos responsáveis por ela.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CAMPOS FILHO, Romualdo. A guerrilha do Araguaia. Universidade Federal de Goiás. Goiânia, GO. 1997.
DUARTE, Betinho (organizador). Rua Viva Homenagem aos mortos e desaparecidos políticos mineiros. Editado pela Assembléia dos deputados de Minas Gerais. 1994.
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. Companhia das Letras. São Paulo, SP. 2002.
GOUBERT, Pierre. História Local. In História e Perspectivas. Revista de História editada pelo departamento de História da Universidade Federal de Uberlândia UFU. Edição jan/jun. 1992
LIMA, Samarone. Zé José Carlos Novaes da Mata Machado, uma reportagem. Mazza Edições. Belo Horizonte, MG. 1998.
MIR, Luis. A revolução impossível. Editora Best Sellers. São Paulo, SP. 1994.
MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos. Dos filhos desse solo. Boitempo Editorial e Fundação Perséu Abramo. São Paulo, SP. 1999.
ROMAGNOLI, Luis Henrique & GONÇALVES, Tânia. A volta da UNE De Ibiúna a Salvador. Editora Alfa-Ômega. São Paulo, SP. 1979.
SARTRE, Jean-Paul. As mãos sujas. Citado em www.primeiraleitura.com.br. Acessado em 20/05/2004
VENTURA, Zuenir. 1968, o ano que não terminou. Círculo do livro. Rio de Janeiro, RJ. 1988.


Depoimentos:

Célia Garcia Macedo Lacerda
Danival Roberto Alves
Jean Marc van der Weid
Maria Aparecida Macedo Lacerda
Maria Madalena Prata Soares


Notas


1. Estudante do 4º ano de História da Universidade de Uberaba. E-mail: mozart.lacerda@uol.com.br.


2.SARTRE, Jean-Paul. As mãos sujas. Citado em www.primeiraleitura.com.br. Acessado em 20/05/2004.


3.História e Perspectiva, Uberlândia, jan/jul, 1992, p. 45

4. LACERDA, Maria Aparecida Macedo. Dep. a/a.

5. ALVES, Danival Roberto. Dep. a/a.

6. MIR, Luis. A revolução impossível. 1994, p. 453.


7. SOARES, Maria Madalena Prata. Dep. a/a.


8. Sobre a vinda de José Carlos Novaes da Mata
Machado à Uberaba, foram ouvidas duas pessoas: Madalena Prata, sua ex-companheira e Danival Roberto Alves, um dos primeiros dirigentes da AP no Triângulo Mineiro. Para Madalena, é possível que José Carlos realmente estivesse por aqui, uma vez que ele tinha uma namorada em Uberaba, que estudava no Colégio Nossa Senhora das Dores. Já Danival reconhece José Carlos quando o autor mostra-lhe uma fotografia, publicada no livro “Dos Filhos Desse Solo” (ver bibliografia).


9. ALVES, Danival Roberto. Dep. a/a.


10.ALVES, Danival Roberto. Dep. a/a.


11. LACERDA, Maria Aparecida Macedo. Dep. a/a.


12. LACERDA, Célia Garcia Macedo. Dep. a/a.


13. LIMA, Samarone. 1998, p. 64/65.


14. VENTURA, Zuenir. 1988. 1º edição. p. 220.


15. SOARES, Maria Madalena Prata. Dep. a/a.


16. WEID, Jean Marc Van. Dep. a/a., via e-mail.


17. Não conseguimos localizar, ainda, nenhuma informação confiável referente ao período em que Gildo se torna vice-presidente da UNE, em 1969, até 1972, quando ele é mandado para Salvador.
18. MIRANDA, Nilmário e TIBÚRCIO, Carlos. 1999, p. 495.


19. Com relação a nomenclatura dessa sigla, não há consenso. Os autores Samarone Lima, Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio grafam Ciex, com o x no final, e em letras minúsculas. Já Elio Gaspari, em seu trabalho sobre a ditadura militar, traz a grafia CIE, sem o x e em letras maiúsculas. Para referência completa dos autores, ver referências bibliográficas.


20. Há duas hipóteses que tentam explicar a traição de Gilberto Prata. Segundo sua irmã, Madalena Prata, Gilberto exerceu o poder de irmão mais velho, que julga ter o direito de decidir o destino da irmã. Ou seja, para Madalena, a traição foi fruto do machismo que impera nas relações familiares. No entanto, Nilmário Miranda, em seu livro (ver referências bibliográficas), afirma que Gilberto Prata recebeu, por 8 anos, ajuda de custo do CIEX.

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