sábado, 28 de agosto de 2010

DOSSIÊ DO TERROR - CRIMES PRATICADOS PELA DITADURA MILITAR

DOSSIÊ DO TERROR
ELABORADO POR BETINHO DUARTE PRESIDENTE DO COMITÊ BRASILEIRO  PELA ANISTIA DE MINAS GERAIS - CBA/MG
A Quem Interessa o Terror
Dossiê dos Atentados Terroristas em Belo Horizonte
1977 a 1995
Apresentação
Neste país, a violência contra aqueles que defendem as
Liberdades Democráticas tem sido uma constante. Todo tipo
de arma e instrumento já foi usado, ou passa a ser, na
tentativa de fazer calar nossas vozes.
À ação dos órgãos de segurança do Estado, à censura,
às leis e atos de exceção somam-se, agora com maior
evidência, a ação de terroristas. São ameaças telefônicas,
pichações, roubos, danos, explosões a bomba, violações de
correspondências, numa escalada brutal contra todos nós.
As entidades e pessoas que vem sistematicamente
sofrendo tais atentados — embora soubessem que a
solidariedade dos demais é que garante sua segurança e a
possibilidade de levar adiante suas lutas — consideram que as
autoridades existentes, inclusive porque se arrogaram o
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papel de garantidores da segurança pública, têm a obrigação
de apurar quem são os terroristas que nos atacam. Inúmeros
pedidos de abertura de inquérito já foram feitos pelos
atingidos — sem resultado algum.
Um novo pedido, desta vez unificado, está sendo
dirigido ao Governador do Estado de Minas Gerais e ao
Secretário da Segurança Pública, por várias entidades de
Minas Gerais.
Cópia desse documento, em anexo, está sendo
remetido a todos aqueles que também defendem as
Liberdades Democráticas e que conosco têm sido sempre
solidários.
A partir de maio de 1977, grupos terroristas que se
auto-intitulam GAC e MAC (Grupo Anticomunista e Movimento
Anticomunista) voltaram a atuar em Belo Horizonte.
A inércia das autoridades responsável pela segurança
pública e a conseqüente impunidade de que gozam tais
grupos tem permitido que os atentados que perpetram se
tornem cada vez mais ostensivos e cada vez mais violentos.
A ameaça que fizeram em aviso colocado no pára-brisa
do carro da Presidente do MOVIMENTO FEMININO PELA
ANISTIA — Núcleo Minas Gerais, tem sido fielmente cumprida:
"A cada ação, uma reação".
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Em que pese os vários pedidos de abertura de
inquérito, nada foi feito até agora para pôr fim a essa
escalada de violência e terror.
Por isso, o MAC e o GAC continuam ameaçando vidas,
em ações que passamos a relatar, entre atentados a bomba,
ameaças, depredações, violações de correspondências, num
total de 24 ações.
1. No dia 11 de maio de 1977, um dia após a realização
de um ato público pedindo a libertação de estudantes e
operários presos em São Paulo, o D.A. MEDICINA/UFMG foi
invadido, vasculhado e pichado pelo MAC.
2. No dia 28 de março de 1978, simultaneamente,
vários atentados foram cometidos pelo GAC:
2.1. às 21:30 horas explodiu uma bomba na Igreja de
São Francisco das Chagas, situada no Bairro Carlos Prates.
Realizava-se no local, além do atendimento normal da Ação
Social da Paróquia, reuniões de grupos paroquiais e do
MFPA/MG, como também aulas de judô para os paroquianos;
2.2. por volta das 3 horas da madrugada, o mesmo
grupo terrorista jogou uma bomba no D.A. MEDICINA/UFMG,
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que ao explodir quebrou não só os vidros da fachada como
também trincou o piso de concreto. No local foi deixada uma
"relação de pessoas assassinadas pela subversão", assinada
com a data de 28 de janeiro;
2.3. outra bomba foi atirada no Centro Cultural do
DCE/UFMG, que ao explodir danificou toda a fachada de vidro
e laterais do prédio;
2.4. foi jogada também uma bomba no pátio de
estacionamento da FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
HUMANAS DA UFMG;
2.5. a FACULDADE DE DIREITO DA UFMG, em pleno
centro de Belo Horizonte, foi a quinta vítima, nessa mesma
data: uma bomba de alto teor explodiu na portaria da Escola,
quebrando vidros e danificando parte da esquadria metálica.
3. Dia 7 de abril de 1978 foi outra data em que o GAC
atuou simultaneamente contra várias entidades e pessoas:
3.1. um bilhete contento ameaças foi colocado no
pára-brisa do carro da Presidente do MFPA/MG, dona HELENA
GRECO, que, como se verá, tem sido um dos alvos constantes
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do GAC e MAC. Estava escrito no bilhete: "Olho por olho. A
cada ação, uma reação. GAC, 28 de janeiro".
3.2. no mesmo dia, o GAC colocou 3 (três) bananas de
dinamite no D.A. MEDICINA/UFMG, que só não explodiram
porque o pavio apagou-se. No local, foi encontrado um
bilhete do GAC: "A cada ação, uma reação." De maneira
arbitrária é tentando transformar as vítimas em réus,
intimaram o presidente do D.A. a comparecer na Polícia
Federal.
3.3. outra bomba explodiu no saguão do DIRETÓRIO
ACADÊMICO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DA
UFMG – D.A. FACE/UFMG.
4. No dia 14 de abril de 1978, uma bomba explodiu no
DIRETÓRIO ACADÊMICO DA FACE/UFMG, causando sérios
prejuízos.
5. O dia 18 de abril marcou outra dessas datas em que
o GAC ganhou as ruas várias vezes para espalhar violência:
5.1. No pátio do Colégio Santo Antônio, realizava-se
uma concentração, promovida pelo MFPA/MG, à qual
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compareceram 1.500 pessoas. Meia hora após o início da
concentração, vários agentes e um delegado do DOPS
entraram no pátio, dizendo que haviam recebido uma
denúncia de que bombas teriam sido ali colocadas. Após
evacuarem o local, realizaram uma busca que resultou no
encontro de uma bomba-relógio dentro de uma caixa de
sapatos. Nesse ínterim, 8 (oito) carros pertencentes aos
membros do MFPA/MG foram danificados (pichados com a
sigla GAC e tiveram os pneus perfurados). É interessante
salientar que antes da concentração, o local tinha sido
vistoriado por dois agentes do DOPS. Em razão do ocorrido, a
concentração foi transferida para a sede do DCE
Cultural/UFMG, onde, novamente, o GAC voltou a danificar
vários carros.
5.2. Às 20:30 horas, o GAC jogou uma bomba, através
das janelas basculantes, na oficina gráfica da Sede
Administrativa do DCE/UFMG, destruindo impressora e
mimeógrafos totalmente, bem como as instalações e
lâmpadas fluorescentes. Carros estacionados na garagem
lateral e defronte o local foram danificados por estilhaços de
vidro e argamassa, e a Rua Guajajaras ficou coberta de
destroços num raio de vinte metros de explosão.
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5.3. Na madrugada do dia 19, dando seqüência a esses
atentados simultâneos, uma bomba foi atirada de dentro de
um Volks azul, em movimento, na casa de Dona Helena
Greco, Presidente do MFPA/MG. Por sorte, a bomba bateu no
portão de ferro, caindo na calçada, onde explodiu.
Presenciaram esse atentado, além de Dona HELENA GRECO,
mais duas outras pessoas membros do MFPA. É interessante
salientar que Dona HELENA GRECO mora na Rua Juiz de Fora,
849, justamente em frente à sede da 4ª BRIGADA DE
INFANTARIA DO EXÉRCITO, considerada, inclusive, área de
segurança nacional. Existe uma guarita em frente à sede,
onde um soldado do Exército fica de sentinela.
6. No dia 11 de maio de 1978, o GAC distribuiu e afixou
em postes de diversos bairros de Belo Horizonte um cartão,
semelhante aos utilizados pelo MFPA/MG, contendo
declarações com o claro intuito de desmoralizar o MFPA/MG.
Vários cartões falsificados pelo GAC estavam sendo afixados
na Igreja São Francisco das Chagas, por 3 (três) homens,
quando um dos padres viu e impediu a continuidade da ação.
Os homens, ameaçando o padre, retiraram-se do local.
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7. Na madrugada do dia 21 de maio, invadiram o D.A.
MEDICINA/UFMG, danificando-o totalmente (quebraram o
mimeográfo e as máquinas de escrever).
8. No dia 10 de julho de 1978, o GAC jogou nos jardins
da casa da PRESIDENTE DO MFPA/MG cerca de 200 (duzentos)
cartões, enviados pelo correio ao Governador da
Pernambuco, ao diretor do Presídio e aos presos políticos de
Itamaracá. Estes cartões faziam parte da campanha de
solidariedade, promovida pelo MFPA, à greve nacional de
fome pela quebra do isolamento carcerário de presos
políticos de Itamaracá. Junto aos cartões, havia 2 (dois)
telegramas que o MFPA enviava, pelo correio, diariamente
aos presos políticos de Itamaracá. Através de seu advogado, o
MFPA pediu abertura de inquérito na Polícia Federal, por
violação de correspondência (nos cartões e telegramas
constava o carimbo dos Correios).
9. A vítima seguinte dos terroristas foi a sucursal do
jornal EM TEMPO, em Belo Horizonte:
9.1. No dia 28/7/78, pela madrugada,
aproximadamente à uma hora, segundo relato posterior dos
vizinhos, ocorreu o atentado. A porta central (são três portas
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de entrada) foi arrombada. Praticamente todas as paredes,
além de algumas cadeiras e mesas, foram pichadas em
"spray" vermelho e preto, com vários dizeres: MAC + GAC: A
VOLTA SERÁ PIOR, ENTREI DE SOLA E VOLTO, etc. Foram
roubados máquinas e documentos diversos (mimeógrafo e
uma calculadora eletrônica, papéis diversos). No próprio dia
do atentado, por volta das 10 horas da manhã, dois soldados
da Polícia Militar, dizendo terem recebido ordens,
compareceram à sucursal. Como não havia sido chamada a
polícia, até aquele momento, e eles não quiseram se
identificar e nem identificar quem dera aquela ordem, foram
dispensados. Mais ou menos uma hora depois, uma outra
pessoa, dizendo-se da Polícia Federal, procurou a sucursal.
Também se recusou a identificar-se. Não foram respondidas
suas perguntas. A pessoa saiu da sucursal num OPALA preto,
chapa branca, DF 1324, BH-MG. Mais ou menos duas horas
após, chegou outra pessoa que se dizia do Serviço de
Informação do Exército e apresentou carteira com o nome de
Eustáquio Ferreira - Sargento. Disse estar ali em nome do
Coronel e que o Governo não tinha nenhuma responsabilidade
pelo atentado, principalmente neste período da abertura
política e às vésperas das eleições. Informou haver estado na
Polícia Federal e que essa de nada sabia. Perguntou o que
havia sido roubado e os dizeres da pichação — do que foi
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informado. Referindo-se a um atentado ocorrido meses antes
no DA Medicina da UFMG, insinuou que haviam sido os
estudantes os autores, "buscando publicidade". Segundo ele,
tal informação fora prestada por um informante de seu
Serviço na própria faculdade. Insinuou também que podia ser
coisa de ex-agente ou "dos que vocês, jornalistas, chamam
repressão", fazendo questão de ressaltar, no entanto, que
não havia nenhuma orientação oficial nesse sentido. No dia
04/08/78, foi pedida abertura de inquérito na Polícia Civil e
na Polícia Federal. Nenhuma providência foi por elas tomada
até agora, ao que consta.
9.2. Às 7:45 horas do dia 29 de julho, o editor
responsável do jornal DE FATO, Aloísio Morais Martins, foi
acordado com uma chamada telefônica em que um homem
com voz grossa perguntava de onde estava falando. Ao ser
informado de que se tratava da redação do jornal, a voz que
não se identificou começou a falar repetitivamente que "os
próximos serão vocês". Na véspera, havia ocorrido a invasão à
sucursal do semanário EM TEMPO, em Belo Horizonte, o que
caracterizava o telefonema como uma ameaça. Desligado o
telefone, aproximadamente uma hora mais tarde, Aloísio —
que mora nas instalações do jornal — recebeu novo
telefonema com as mesmas ameaças, desta vez feitas através
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de uma pessoa que procurava disfarçar sua voz de forma
efeminada. O fato foi levado ao conhecimento da imprensa
falada e escrita, na mesma manhã, e momentos depois, o
jornal recebia a solidariedade de diversas pessoas e
entidades da cidade. Dias antes e depois destas ameaças, foi
notada a presença de pessoas estranhas rondando a sede do
jornal durante a noite.
10. 18/08/78 - Segundo atentado à sucursal do Jornal
EM TEMPO - Belo Horizonte: No dia 18.08.78, a sucursal
sofreu novo atentado, desta vez muito mais violento.
Segundo informações posteriores dos vizinhos, entre 2:45
horas e 3 horas da madrugada, a sucursal foi invadida e
colocaram uma bomba sob ou sobre a mesa da sala de
redação que, ao explodir, destruiu a própria mesa, uma
máquina de escrever, os vidros da janela, a persiana, a
luminária e perfurou o teto e todas as paredes laterais, além
de danificar papéis e documentos ali existentes. Todas as
portas de todas as dependências foram danificadas, ao que
parece com outro instrumento, umas mais, outras menos,
sendo que duas ficaram completamente destruídas. Uma
janela que dá para a entrada da sucursal também foi
arrombada. Um veículo estacionado em frente teve seu vidro
lateral traseiro danificado. Foram roubados vários
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documentos. Um dos vizinhos chamou a Rádio-Patrulha por
volta das três horas da manhã. A polícia esteve no local
desde essa hora, até aproximadamente 9 horas da manhã,
sem a presença de qualquer uma das pessoas da sucursal.
Aliás, a primeira empregada da sucursal a chegar no local foi
impedida de entrar e os policiais se negaram a dizer o que a
perícia estava levando (saíram portanto vários embrulhos).
Foram procurados o DOPS e a Polícia Federal — ambos
responderam que de nada sabiam, sendo que o Delegado da
Polícia Federal, Wilson Ramalho, afirmou que não realizava e
nem realizaria perícia por não ter equipamento para tanto.
Pouco tempo depois disso, no entanto, compareceram à
sucursal dois agentes da Polícia Federal, Sr. José Osmar e Sr.
Taveira, que fizeram várias perguntas e anotaram nome e
endereço de três pessoas da sucursal. Disseram que não
sabiam para que fim seriam utilizadas as informações ali
colhidas. Foi procurada a Polícia Militar e o Capitão
Gladstone informou que a Polícia Militar estivera no local,
guardando-o, até por volta das 9 horas da manhã, e que a
perícia fora feita pelo Instituto de Criminalística. No
Instituto, o perito confirmou a informação, dizendo que eles
apenas haviam levado estilhaços da bomba e que o laudo
estaria pronto em 30 dias. No dia 22.08.78, foi encaminhado
ao Exmo. Sr. Secretário de Segurança Pública do Estado de
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Minas Gerais uma representação, solicitando abertura de
inquérito pelo órgão policial competente. Na mesma data,
também foi encaminhado ao Exmo. Sr. Procurador Geral do
Estado, pedido de nomeação de promotor para acompanhar o
inquérito. Em 29/08/78, pelo ofício 421/78, de 25/08/78, o
Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado comunicou à sucursal a
nomeação do Promotor para atuar no inquérito. No dia
06/09/78, o Instituto de Criminalística forneceu cópia do
laudo pericial referente ao atentado à bomba. Desde o
último atentado, há policiamento na sucursal nos seguintes
horário: das 23:00 horas às 09:00 horas (de segunda à
sábado), de 17:00 horas do sábado até as 09:00 horas de
segunda-feira, conforme pedido da sucursal e deferimento do
Comandante de Policiamento da Capital. A sucursal de EM
TEMPO teve um prejuízo calculado em duzentos mil
cruzeiros.
11. No dia 1º de setembro, por volta das 12:00 horas,
quando se realizavam as eleições diretas para o DCE/UFMG,
uma bomba foi colocada em uma as urnas que recolhiam
votos do D.A. ICEx, destruindo-a totalmente. No mesmo dia,
no D.A. Medicina, outra bomba destruiu 6 (seis) urnas.
Telefonemas anônimos já vinham sendo feitos ameaçando
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não só a realização das eleições, como também a posse da
nova diretoria.
12. Na madrugada do dia 2 de setembro, as ameaças
ao Jornal DE FATO vieram a ser concretizadas. Depois de
arrombarem o cadeado do portão e uma das portas das
instalações do jornal, invasores roubaram o aparelho de
telefone e duas cadernetas com anotações de números de
telefone de pessoas ligadas ao jornal, deixando em cima de
um móvel uma bomba semi-deflagrada, junto ao pé-de-cabra
usado no arrombamento e a uma garrafa plástica contendo
álcool. O aparelho de telefone, como medida de segurança,
era sempre retirado do gancho quando membros da equipe do
DE FATO deixavam sua sede, impedindo, portanto, que ele
fosse usado para se saber se havia alguém presente. No dia
da invasão, infelizmente, o telefone foi esquecido no gancho,
e Aloísio Morais Martins dormira fora. Ao tomarem
conhecimento do atentado, membros da equipe do jornal
comunicaram o fato à Polícia Militar e à Polícia Federal,
tendo dois patrulheiros da primeira comparecido ao local,
onde verificaram a ocorrência, fazendo as devidas anotações
de praxe e convocando ao local a Polícia Criminalística, que
enviou dois peritos, um deles de nome Alberto. O material da
bomba foi recolhido e levado para exames periciais, assim
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como o pé-de-cabra. Dias depois, o advogado Geraldo Magela
de Almeida enviou ofício à Secretaria da Segurança Pública,
solicitando abertura de inquérito sobre o caso e policiamento
para a sede do jornal. Até o presente momento o jornal não
foi notificado da efetivação das providências solicitadas.
13. No dia 11 de setembro, às 21 horas, explodiu uma
bomba no banheiro do auditório do Colégio Santo Agostinho.
Realizava-se naquele local um debate promovido por um
grupo de universitários católicos sobre DIREITOS HUMANOS.
Participavam deste aproximadamente 100 (cem) pessoas. O
banheiro ficou totalmente destruído, sendo que a porta do
mesmo foi arremessada a uns cinco metros de distância, com
o impacto da explosão. Estiveram no local elementos da
Polícia Militar, Criminal e do DOPS, sendo que estes últimos
chegaram 45 minutos após o atentado.
14. No dia 13 de setembro, dois atentados foram
cometidos:
14.1. O primeiro foi na Igreja São Francisco das
Chagas, onde se realizava uma vigília de solidariedade ao
preso CAJÁ (membro da comissão de Justiça e Paz do Recife
e da Pastoral da Juventude da Região Nordeste II da CNBB).
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Uma bomba de alto poder explodiu aos 15 minutos da
madrugada do dia 13 (1:15 hora após a vigília), destruindo
totalmente a portaria da Secretaria da Igreja. Inúmeros
moradores do bairro acordaram assustados. A quantidade de
estilhaços encontrados fizeram supor que granadas é que
tinham sido jogadas naquele local. No dia anterior, várias
ameaças tinham sido feitas aos padres responsáveis pela
Igreja. Na porta da mesma foi afixado um cartaz, contendo
uma "Oração Anti-Vigília". Entre outras coisas estava escrito
"Dente por Dente", "O país nosso de cada dia nos apóia hoje".
Durante o dia, houve vários telefonemas anônimos para
a Secretaria da Igreja, ameaçando com represálias caso a
vigília fosse realizada, e um indivíduo que dizia-se chefe da
Polícia Federal de Minas telefonou proibindo a vigília,
afirmando que mandaria a polícia para impedi-la. Na manhã
do dia 13 de agosto, dois agentes da Polícia Federal
estiveram no local para investigar o atentado.
14.2. Precisamente à 1:00 hora da madrugada do dia
13.9.78, defronte ao Edifício Alfeo Piana, onde reside o
advogado Geraldo Magela, foi detonada uma bomba, que
havia sido colocada sob o motor de seu veículo — Brasília
1977, cor vermelha, placa AW-8244. O advogado, bem como
todos os moradores do referido edifício, que foram acordados
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pela explosão, além de vizinhos dos prédios próximos,
acorreram ao local, onde constataram danos não só no
automóvel do advogado, como também em dois outros
veículos: um Volkswagen que teve seu vidro dianteiro
arrebentado e uma Caravan, com perfurações dos estilhaços.
Imediatamente, a Polícia foi chamada ao local, assim como
os peritos da Polícia Técnica. A explosão foi tão violenta que
os nove apartamentos do edifício onde mora o advogado,
tiveram suas vidraças partidas. A Polícia Técnica também
constatou este fato. A bomba colocada sob o veículo destruiu
completamente o seu motor, além de estourar um pneu.
Neste mesmo dia, o advogado tomou as seguintes
providências: levou o fato ao conhecimento do Secretário de
Segurança Pública, para a instauração de inquérito e ao
conhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil, para as
providências que esta julgasse necessárias.
O mero relato dos atentados e das providências
tomadas faz ressaltar duas questões principais. A primeira,
que a audácia e a violência desses grupos cresce a cada dia,
deixando patente que a eles não importa atingir a vida e a
integridade física seja de seus alvos, seja das pessoas que
habitam as imediações dos locais que atacam ou que,
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circunstancialmente, podem vir a passar por ali nesses
momentos.
Em segundo lugar, que tem sido até agora
absolutamente inútil e infrutífera qualquer iniciativa de
obter das autoridades qualquer providência que possa pôr fim
a esses atos brutais.
Os pedidos de abertura de inquérito, feitos na maioria
dos casos pelos atingidos, além de não resultarem em
qualquer esclarecimento e identificação dos autores,
serviram para exacerbar intimidações evidenciadas no caso
das entidades estudantis.
O temor de que outros atentados venham a ser
perpetrados, justificado pelo fato de que as ameaças tem
sido rigorosamente cumpridas, faz com que, por este
instrumento, as entidades e pessoas infra-nomeadas, venham
insistir na abertura de inquérito unificado e demais
providências cabíveis, com a pretensão de que, identificados
os autores desses crimes, se ponha um paradeiro nesta
escalada de violência.
Belo Horizonte 20 de setembro de 1978
1. MOVIMENTO FEMININO PELA ANISTIA/MG –
DONA HELENA GRECO
2. JORNAL EM TEMPO - BETINHO DUARTE
3. JORNAL DE FATO
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4. DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTUDANTES da UFMG
5. Dr. GERALDO MAGELA ALMEIDA ( advogado )
6. DONA HELENA GRECO ( presidente MFPA/MG )
7. GRUPO DE PADRES PELOS DIREITOS HUMANOS
8. IGREJA SÃO FRANCISCO DAS CHAGAS
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As pessoas que adiante assinam, responsáveis pelo
Centro Cultural Operário (CCO), Fundação Centro de Estudos
do Trabalho (CET), Grupo de Estudos e Trabalho em Educação
Comunitária (GETEC) e Corpo Editora Limitada (responsável
pela publicação do Jornal dos Bairros), todas estas entidades
localizadas em Belo Horizonte, respectivamente nos
seguintes endereços: Avenida Castelo Branco, 61 (Vila São
Paulo), Rua José Brandão, 564 (Barreiro de Baixo), Rua
Noronha Guarani, 200 (Bairro Santa Margarida), e Rua Álvaro
da Silveira, 626 (Bairro Santa Margarida), vêm representar a
V. Sa. os fatos que adiante expomos:
Na madrugada do dia 1º de maio, ontem, as sedes das
entidades acima referidas foram vítimas de crime de furto.
Sem deixar marcas visíveis de arrombamento, os assaltantes
roubaram seguintes bens móveis:
Do Centro Cultural Operário: uma coleção do Jornal EM
TEMPO; exemplares do Jornal Movimento; exemplares do
Jornal Versus; exemplares do Cadernos do CET; cinzeiros e
um mapa confeccionado em metal. Do Centro de Estudos do
Trabalho: duas máquinas de escrever; um mimeógrafo a
álcool; um grampeador elétrico; um telefone; um rádio;
1.500 exemplares dos Cadernos do CET; outras publicações e
livros; chaves e lâmpadas; dinheiro (no valor de
Cr$1.000,00); todo material de escritório; cadernos de
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controle de vendas; pastas arquivadoras e material de
pesquisa constante no arquivo.
Do GETEC: uma máquina impressora "off-set";
mimeógrafo a tinta; uma gravadora eletrônica de estêncil;
um telefone; publicações e documentação.
Do Jornal dos Bairros: quatro máquinas de escrever;
uma calculadora FACIT; um telefone; um mimeógrafo à
álcool; três grampeadores; três tesouras; um rádio; mil
exemplares do Jornal dos Bairros; blocos de nota fiscal em
branco; blocos de recibo em branco; recibos batidos; dez
caixas de arquivo; todo arquivo de fotografias do acervo da
empresa; caixa contendo material de arte gráfica para
anúncios; cem cadernos do CET; dinheiro de venda de
publicações; outras publicações.
Pelo exposto, caracterizado como prática criminosa,
requeremos de V. Sa. se digne determinar a imediata
abertura do competente inquérito.
Pedem Deferimento
Belo Horizonte, 2 de maio de 1979.
1 – CENTRO CULTURAL OPERÁRIO
2 – FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO TRABALHO
3 – GRUPO DE ESTUDOS E TRABALHO EM EDUCAÇÃO
COMUNITÁRIA
4 – JORNAL DOS BAIRROS
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Terceiro Atentado à Sucursal do Jornal EM TEMPO - 8/07/79 -
Na madrugada de domingo, dia 8 de julho de 1979, a sucursal
do jornal EM TEMPO sofreu o terceiro atentado em menos de
um ano. Desta vez, os terroristas usaram, ao que parece,
chave falsa, uma vez que não se constatou nenhum sinal de
arrombamento na porta central, que foi encontrada apenas
cerrada na manhã de domingo.
Em todas as dependências da sucursal os criminosos
derramaram ácido em grandes quantidades no chão, nas
cadeiras, mesas e demais utensílios, papéis e documentos,
em todas as máquinas de escrever, num aparelho de
TELEFAX, em todos os arquivos e até em um cofre que
pertencia à proprietária do imóvel que o havia deixado lá por
ser muito pesado. Os terroristas chegaram a requintes de
barbárie destruindo com ácido coleções da revista VEJA e
livros de consulta do nosso arquivo e pesquisa.
Um químico por nós consultado sobre os efeitos do
ácido calculou entre 10 a 15 litros o total utilizado na
sucursal. Para evitar o risco de continuidade dos efeitos do
ácido e de sua ação tóxica sobre as pessoas, tivemos de lavar
toda a sucursal, pisos, paredes e utensílios com água, numa
proporção de 3 litros por 1 litro de ácido.
Providências: imediatamente após a constatação do
atentado, no domingo por volta das 10 horas da manhã,
22
comunicamos o ocorrido a toda a imprensa e solicitamos a
presença da Polícia Técnica que vistoriou o local e recolheu
materiais para a feitura do laudo. Redigimos também uma
nota oficial à população e convocamos, juntamente com o
Sindicato dos Jornalistas, uma reunião com entidades e toda
imprensa, às 14 horas do dia 9 de julho, para denúncia do
fato e discussão de propostas. Estamos promovendo
diariamente, nas escadarias da Igreja de São José uma vigília
de 11 às 13 horas com a finalidade: 1) denunciar mais
amplamente a violência de que fomos vítima a omissão e
cumplicidade do governo — uma vez que não tomou nenhuma
providência quanto aos atentados anteriores, nem mesmo
quanto ao andamento do inquérito por nós requerido no ano
passado – 2) angariar fundos para a reconstrução da sucursal.
Belo Horizonte, 08 de julho de 1979.
BETINHO DUARTE
SUCURSAL DO JORNAL EM TEMPO
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BOMBAS NUNCA MAIS
Nova onda de atentados terroristas abala Belo
Horizonte. Como se não bastasse o aumento da violência,
principalmente contra as mulheres, estamos agora vivendo
um período de violência política.
Dezenas de atentados, entre bombas e ameaças, foram
cometidos nos últimos tempos. Os mais graves foram uma
bomba que explodiu no banheiro da Delegacia de Furtos e
Roubos no momento em que a repartição era inspecionada
por uma comissão de delegados corregedores. Agora, mais
recentemente, várias bombas explodiram em locais diversos:
no banheiro do Cine Nazaré-Liberdade, na garagem do
coronel reformado da PM Felisberto Egg, na sede do Sindicato
dos Jornalistas Profissionais de MG, nos Diários Associados -
jornais "Estado de Minas" e "Diário da Tarde", no Fórum
Lafayette e na OAB — seção Minas Gerais.
No caso do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de
MG, não foi a primeira vez. Por ser uma categoria expressiva
e democrática, que sempre apoiou as lutas democráticas, em
77 e 78 sofreu dois atentados, sendo que o primeiro foi a
invasão do Sindicato com arrombamento do cofre e a
destruição de documentos e o segundo, uma bomba que
destruiu a porta principal.
24
Nesse período não só o sindicato foi atingido como
dezenas de outras entidades e pessoas que lutavam pela
Democracia em nosso país, num total de 36 atentados.
Igrejas como a São José e São Francisco de Chagas, colégios
Santo Agostinho e Santo Antônio, jornais Em Tempo e De
Fato, diretórios estudantis e a UTE sofreram violências e
arbitrariedades.
Naquela época havia uma ditadura militar que, para
fazer prevalecer seus interesses, além de prender, torturar,
matar, acobertava atos dessa natureza.
Apesar das manifestações contra tais atos, nada foi
apurado e nenhum responsável foi punido.
Na verdade não havia interesse, pelo contrário,
incentivavam tais ações, visando amedrontar e calar o povo
brasileiro.
Hoje, aos poucos, na calada da noite, eles estão
voltando.
São os mesmos, aliados a outros grupos clandestinos
que trabalham com garimpo ilegal de pedras preciosas, que
extorquem comerciantes, aliciam prostitutas e protegem o
tráfico de drogas e o jogo do bicho.
Num primeiro momento, aparentava ser um fato
isolado. Mas as próprias autoridades reconhecem que existe
um grupo radical na Polícia civil, auto denominado REAÇÃO.
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O Brasil vive uma democracia. Não a ideal porque
temos milhões de pessoas passando fome e desempregadas,
excluídas dos mais elementares direitos, inclusive o
fundamental que é o direito à vida.
Nossa luta é pela justiça, pela paz e pela vida. Que
todos tenham condições de viver com dignidade e justiça. Por
isso torna-se importante não só denunciar tais atos
terroristas, como também apurar, prender e condenar os
responsáveis. Que haja vontade política dos governantes
tomando atitudes firmes e transparentes nesse sentido, e que
os órgãos federais, como a Polícia Federal, participem das
investigações.
O povo brasileiro é contra a volta ao passado, a
ditadura militar.
Esses grupos terroristas que mandaram e desmandaram
e que se enriqueceram ilicitamente, precisam ser punidos. A
nós, democratas, cabe continuar lutando por um Brasil
melhor.
Nossa solidariedade a todos os atingidos.
Bombas nunca mais! Viva a liberdade e a democracia.
Pela Vida, pela Justiça e pela Paz!
BETINHO DUARTE
Vereador do PT
Comitê Brasileiro pela Anistia/MG
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ATENTADOS A PARTIR DE 1990
ENTIDADES ATINGIDAS
1. COPASA
2. Edifício Central na Praça da Liberdade
3. Escola Estadual Santos Dumont
4. BH Shopping
5. Escola Estadual Pedro II
6. Empresa Autopeças em Contagem
7. Depósito de Material de Construção no bairro
Aparecida
8. Fórum Lafayette
9. Shopping Del-Rey
10. Delegacia de Furtos e Roubos
11. Cine Nazaré-Liberdade
12. Casa do Coronel PM Reformado Felisberto Egg
13. Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG
14. Diários Associados — "Estado de Minas" e "Diário da
Tarde"
15. Fórum Lafayette
16. Ordem dos Advogados do Brasil — Seção Minas
Gerais
17. Colégio Promove - Pampulha BH
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CRONOLOGIA DOS ATENTADOS COMETIDOS EM BH NA
DÉCADA DE 90
10/12/91 - Duas bombas explodem em dois diferentes
postos da Copasa, uma do Eldorado e outra do Barreiro,
causando danos. Não houve vítimas.
12/12/91 - Uma bomba-relógio explodiu no Edifício
Central, Praça da Liberdade, ferindo o camelô Oséas Santos
Silva, 24. O artefato estava dentro de uma sacola.
19/12/91 - Outra bomba explode no pátio da Escola
Estadual Santos Dumont, em Venda Nova. Não houve vítimas.
20/02/92 - Uma bomba é encontrada no
estacionamento do BH-Shopping.
01/04/92 - Explosão em uma autopeças no centro de
Contagem causou danos irreparáveis ao proprietário. O
coquetel "molotov" foi jogado por um rapaz que estava numa
moto.
29/08/93 - Três bombas são colocadas no laboratório
da Escola Estadual Pedro II, em Santa Efigênia. Uma explodiu.
02/07/94 - Uma bomba explode no banheiro do Fórum
Lafayette.
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07/07/94 - Outra bomba explode no banheiro
masculino do Shopping Del Rey, ferindo o vendedor
Normando Marcos Silva, 39.
10/05/94 - Uma bomba de alto teor de explosão é
detonada no banheiro masculino da Delegacia de Furtos e
Roubos, no momento em que a mesma era inspecionada por
uma comissão de delegados corregedores.
04/02/95 - Outra bomba explode no banheiro
masculino do Cine Nazaré-Liberdade, após um incidente com
um policial civil que tentou entrar de graça no cinema,
através da famosa “carteirada”.
12/02/95 - Um artefato de baixo teor de explosão é
jogado na garagem da residência do coronel PM reformado
Felisberto Egg, no bairro Nova Suíça, depois de um incidente
entre a Polícia Militar e a Polícia Civil na porta do Hospital de
Pronto Socorro.
10/03/95 - Uma bomba de alto teor de explosão foi
jogada sobre o telhado da Casa do Jornalista, na avenida
Álvares Cabral, 400, causando danos. Não houve vítimas.
18/03/95 - Bombas explodem em frente aos Diários
Associados — Estado de Minas e Diário da Tarde — destruindo
parcialmente um veículo modelo PASSAT e portas da Sede do
Sistema Estaminas.
29
20/03/95 - Bomba explode em frente ao Fórum
Lafayette. Ameaças de bomba ao BDMG, ao Terminal
Rodoviário de BH e ao Edifício Mercantil, onde funciona o
Gabinete do Vice-Prefeito de BH, Dr. Célio de Castro. Neste
local estava acontecendo uma reunião com o objetivo de se
avaliar as providências a serem tomadas contra os atentados.
21/03/95 - Bomba explode no banheiro do segundo
andar da sede da Ordem dos Advogados do Brasil — Seção
Minas Gerais, durante um ato público em protesto contra os
atentados terroristas na cidade. A explosão destruiu o forro
falso de gesso do banheiro.
ATENTADOS AO SINDICATO DOS JORNALISTAS
PROFISSIONAIS DE MG
Em 30/04/79 houve um atentado ao Sindicato, que foi
invadido e teve seu cofre arrebentado, com a destruição de
vários documentos importantes.
Em 27/06/80, véspera da visita do Papa João Paulo II a
Belo Horizonte, outra bomba explodiu no Sindicato. Na
ocasião, a capital vivia um período de agitação, com intensos
movimentos estudantis e seguidos atentados à bomba contra
bancas de jornais, editoras gráficas, universidades e
entidades religiosas. Os atos terroristas eram reivindicados
30
pelos grupos anticomunistas GAC e MAC, além da TFP
(Tradição, Família e Propriedade) e o CCC (Comando de Caça
aos Comunistas).
As bombas, de alto poder de explosão, causavam danos
e ameaçavam a integridade física de pessoas inocentes.
Havia ainda pichações, ameaças telefônicas e violação de
correspondência.
Em meio a este clima de tensão, um artefato foi
jogado na porta do sindicato causando danos e perplexidade.
As paredes foram pichadas com as frases "Casa de
Comunistas", "A hora é chegada", "Fora Comunistas", "Viva o
Papa Anticomunista" e "Este é um Aviso à Imprensa
Comunista".
Em 83, um arremesso de bomba foi deixado sob
encomenda para o então presidente do Sindicato, Tilden
Santiago, quando ele recebia em sua sala, dois membros do
sindicato polonês. Um telefonema anônimo alertou o
presidente para a entrega da bomba, permitindo assim sua
desativação. Os atentados da época eram planejados e
executados por membros da extrema direita, dentre os quais
muitos policiais e pessoas infiltradas nas corporações.

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