31/08/2011 11:10:05
Comissão da Verdade toma posse prometendo defender o livre acesso à história da ditadura militar
Em solenidade realizada na noite de ontem (30/08), no plenário do Conselho Seccional da OAB/MG, tomou posse a Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Política da entidade, que tem na presidência Márcio Augusto Santiago e como membros os advogados Antônio Ribeiro Romanelli, Carlos Augusto de Araújo Cateb, Carlos Vitor Delamonica, Fahid Tahan Sab e Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira e, como assessor especial, Betinho Duarte.
O evento foi aberto com a exibição de dois vídeos. O primeiro, “Os 30 anos da Anistia”, descreve sinteticamente a história do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964, chegando até à promulgação da nova Constituição brasileira, em 1988. O segundo, sobre o “Memorial da Anistia”, mostra o esforço desenvolvido pela sociedade para que fosse decretada a anistia ampla e irrestrita e o projeto de criação, na Capital mineira, do memorial que reunirá milhares de documentos que ficarão disponíveis ao público. A seguir a solenidade foi iniciada com a execução do Hino Nacional, pelo tecladista André Duval e pelo cantor Tadeu Franco.
O diretor tesoureiro da Seccional, Antônio Fabrício de Matos Gonçalves, usou da palavra para homenagear o seu ex-professor Antônio Romanelli, um dos 14 advogados que receberam o “Troféu OAB”, como reconhecimento pelo seu trabalho em defesa da cidadania e do Estado Democrático de Direito. Em seguida, de pé, os membros da Comissão prestaram o compromisso e foram declarados empossados pelo presidente Luis Cláudio. O ex-vereador Betinho Duarte fez uma homenagem a vários advogados falecidos ou desaparecidos durante a ditadura, pronunciando seus nomes enquanto, a cada um deles, a plateia respondia “presente”:
1-GERALDO MAGELA DE ALMEIDA
2-AFONSO MARIA CRUZ
3-ARIOSVALDO CAMPOS PIRES
4-EDGAR DE GODÓI DA MATA MACHADO
5-JOSÉ CARLOS DA MATA MACHADO
6-ANTONIO JOAQUIM MACHADO
(desaparecido político)
7-JOSÉ ROBERTO GONÇALVES DE REZENDE
8-ORLANDO DA SILVA ROSA BOMFIM JÚNIOR ( desaparecido político)
9-ANTONIO DE OLIVEIRA LINS
10-LOURIVAL VILELA VIANA
11-JOSÉ MATHEUS PINTO FILHO
12-DIMAS DA ANUNCIAÇÃO PERIN
13-RAUL DÉCIO DE BELÉM MIGUEL
14-ADHERBAL TEIXEIRA ROCHA
15-JOSÉ TOLEDO DE OLIVEIRA
16-SAMI SIRIHAL
O cantor e compositor Tadeu Franco cantou a música de Geraldo Vandré, “Para não dizer que não falei de flores”, uma espécie de hino da resistência à ditadura.
Manifestações
Em seu pronunciamento, o presidente Márcio Santiago destacou a importância do evento que, em sua opinião, significa um ato de afirmação do dever da OAB em seu papel de defensora da cidadania. “Não se faz um Estado Democrático de Direito ocultando cadáveres, história e fatos”, concluiu.
Por último falou o Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, começando por afirmar que a Seccional mineira demonstra estar alinhada à atuação do Conselho Federal da Ordem, “defendendo os mais nobres ideais de Minas, a democracia, a liberdade e o Estado Democrático de Direito. Passou o tempo em que anistia era sinônimo de esquecimento. Esse é um paradigma superado pela humanidade que, desde os tribunais de Nuremberg, ao final da segunda guerra mundial, apontou para o dever da memória como a arma humana contra a banalização da barbárie. Essa tradição ética precisa contaminar o Estado brasileiro e este é um dos grandes desafios que esta Comissão terá.” Após seu discurso, Paulo Abrão recebeu das mãos da secretária geral adjunta da OAB/MG, Helena Delamonica, uma placa de prata alusiva ao evento.
O presidente Luis Cláudio encerrou parabenizando o secretário Paulo Abrão pelo seu trabalho que tem desempenhado na Comissão de Anistia e pela sua presença constante nos eventos da OAB de Minas. Lembrou a comemoração a ser feita no próximo ano dos 80 anos de existência da entidade, fundada em 1932, juntamente com mais 22 Subseções em várias regiões do estado.
Acrescentou que, ao comemorar esse aniversário, é importante que a OAB faça uma manifestação pública de apoio irrestrito ao trabalho feito por Paulo Abrão. Finalizou reivindicando que a OAB tenha um espaço a ela destinado no Memorial “para que possa contar a história de advogados abnegados que lutaram para que tivéssemos hoje o Estado Democrático de Direito.”
Participaram da mesa de honra, além do presidente da Seccional, o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão; a secretária geral adjunta e o tesoureiro, Helena Delamonica e Antônio Fabrício; o presidente da nova Comissão, Márcio Augusto Santiago; o advogado geral do Estado, Marco Antônio Romanelli; a diretora da Faculdade Milton Campos, Lúcia Massara; o secretário municipal de políticas sociais, Jorge Nahas, o procurador geral do município, Marco Antônio Rezende e a vice-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, Rocksane de Carvalho Norton.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Posse da Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Politica da OAB/MG
30/08/2011 14:03:32
Posse da Comissão da Verdade contará com a presença do Secretário Nacional de Justiça.
Tomam posse nesta terça-feira (30/08) os membros da Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Política da OAB/MG. A solenidade de posse, será realizada às 20h, no Auditório da Seccional Mineira, com a presença do Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão.
A Comissão será presidida por Márcio Augusto Santiago, e contará como membros efetivos os advogados Antonio Ribeiro Romanelli, Carlos Augusto de Araujo Cateb, Carlos Vitor Alves Delamonica, Fahid Tahan Sab e Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira. O assessor especial da Comissão será Betinho Duarte.
De acordo com o presidente da Comissão, Márcio Augusto Santiago, o objetivo do grupo é organizar um movimento para efetivar a criação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, pedir apoio à criação do Memorial em Belo Horizonte, que também está em tramitação no Congresso.
O ex-vereador Betinho Duarte ressalta a importância dessa Comissão: “esse momento é histórico para a sociedade, somos os pioneiros na criação do grupo no país e estamos dispostos a mobilizar toda a sociedade civil e governantes”. E completa, “a importância de criar a Comissão se confunde com a luta da própria OAB/MG que sempre lutou pela verdade e pela democracia. O apoio dado pelo presidente Luís Cláudio será essencial em nossa luta”.
Posse da Comissão da Verdade contará com a presença do Secretário Nacional de Justiça.
Tomam posse nesta terça-feira (30/08) os membros da Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Política da OAB/MG. A solenidade de posse, será realizada às 20h, no Auditório da Seccional Mineira, com a presença do Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão.
A Comissão será presidida por Márcio Augusto Santiago, e contará como membros efetivos os advogados Antonio Ribeiro Romanelli, Carlos Augusto de Araujo Cateb, Carlos Vitor Alves Delamonica, Fahid Tahan Sab e Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira. O assessor especial da Comissão será Betinho Duarte.
De acordo com o presidente da Comissão, Márcio Augusto Santiago, o objetivo do grupo é organizar um movimento para efetivar a criação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, pedir apoio à criação do Memorial em Belo Horizonte, que também está em tramitação no Congresso.
O ex-vereador Betinho Duarte ressalta a importância dessa Comissão: “esse momento é histórico para a sociedade, somos os pioneiros na criação do grupo no país e estamos dispostos a mobilizar toda a sociedade civil e governantes”. E completa, “a importância de criar a Comissão se confunde com a luta da própria OAB/MG que sempre lutou pela verdade e pela democracia. O apoio dado pelo presidente Luís Cláudio será essencial em nossa luta”.
domingo, 28 de agosto de 2011
Dr. Luther King Jr. chora em seu túmulo
Um Memorial a ser dedicado a Martin Luther King Jr. estava para ser inaugurado no National Mall (Washington, DC), domingo – exatamente 56 anos após o assassinato de Emmett Till no Mississippi e 48 anos após a Marcha histórica à Washington por Empregos e Liberdade. (Por causa do furacão Irene, a cerimônia foi adiada.)
Estes eventos constituem marcos importantes na história turbulenta de raça e Democracia nos Estados Unidos, e o sucesso inegável do movimento dos direitos civis – que culminou com a eleição de Barack Obama em 2008
– merece a nossa atenção e exaltação. No entanto, as palavras proféticas do rabino Abraham Joshua Heschel ainda nos assombram: "O futuro dos Estados Unidos depende do impacto e da Influência do Dr. King."
Rabino Heschel pronunciou estas palavras durante os últimos anos da vida de Luther King , quando 72 por cento dos brancos e 55 por cento de negros desaprovava a oposição de Luther King à Guerra do Vietnã e seus esforços
para erradicar a pobreza nos Estados Unidos. O sonho de
Luther King de ver um Estados Unidos mais democrático havia se transformado, em suas próprias palavras, "um pesadelo", devido à persistência de "racismo, pobreza, militarismo, e do materialismo." Ele chamou os Estados Unidos de uma "sociedade doente". No domingo depois do seu assassinato, em 1968, ele era ter pregado um sermão intitulado "Por que a América pode ir para o inferno."
Não que King desejasse que os Estados Unidos devessem ir para o inferno deve ir para o inferno, mas sim que ele poderia ir para o inferno à injustiça econômica, à decadência cultural e à paralisia política. Ele não era um Gibbon americano, registrando o declínio e queda do império americano, mas um cristão negro corajoso e visionário, lutando com estilo e amor diante das quatro catástrofes que ele identificou.
Militarismo é uma catástrofe imperial que produzi o complexo industrial-militar e estado de segurança nacional e que distorcia as prioridades e estatura do país (com os “zangões” imorais jogando bombas em civis inocentes).
O materialismo é uma catástrofe espiritual, promovido por uma Mídia corporativa multiplex e uma indústria cultural corporativa que endureceu os corações dos consumidores e embruteceu a consciência de pretensos cidadãos. Truques espertos de distração das massas produzem uma horda de
viciados auto-medicados e narcisistas.
O racismo é uma catástrofe moral, visto mais graficamente no complexo industrial prisional e nos alvos da vigilância policial contra os guetos de negros e pardos invisíveis nos discursos públicos. Uso arbitrário da lei - em nome da "guerra" contra as drogas - têm produzido, nas aptas palavras da jurista Michelle Alexandre, um novo tipo de encarceramento em massa à la Jim Crow (nota: segregacionista). E a pobreza é uma catástrofe econômica
inseparável do poder de oligarcas gananciosos e plutocratas avarentos indiferentes à miséria dos pobres, das crianças, dos idosos e dos Trabalhadores.
A Era Obama tem falhado tragicamente no cumprimento do legado profético de Luther King Jr.. Ao invés de articular uma visão democrática radical e de luta a favor dos hipotecados, dos trabalhadores e das pessoas pobres na forma de alívio de crédito, criação de empregos e investimento em infra-estrutura, educação e habitação, o governo deu-nos salvamento para os bancos, lucros recordes para Wall Street, e cortes gigantes no orçamento
de programas sociais, prejudicando os mais vulneráveis.
Como o apresentador de talk show Tavis Smiley e eu dissemos em nossa caravana nacional contra a pobreza, o recente acordo em torno do orçamento é apenas a fase mais recente de 30 anos guerra unilateral, de cima para
baixo, contra o povo pobre e trabalhador em nome de uma política moralmente falida de desregulamentação dos mercados e redução de impostos e cortes no orçamento para aqueles que já são econômica e socialmente negligenciados e abandonados. Nossos dois principais
partidos políticos, ambos escravos das grandes fortunas, oferecem versões alternativas de poder meramente oligárquico.
A ausência de um discurso digno de King para revigorar os pobres e Trabalhadores deu condições para que populistas de direita possam se aproveitar do momento e se apresentar com discursos sobre corrupção e cortes de impostos indutores do crescimento. A ameaça desta direita
é uma resposta catastrófica para as quatro catástrofes mencionadas por Luther King; sua agenda criaria condições infernais para a maioria dos americanos.
Luther King Jr. chora no seu túmulo.
Ele nunca confundiu substância com simbolismo. Ele nunca combinaria um
sacrifício de corpo e sangue com um edifício de pedra de e argamassa. Nós celebramos justamente sua substância e sacrifício porque ele nos amou a todos tão profundamente.
Não fiquemos satisfeitos com o simbolismo porque muitas vezes nós tememos o desafio que ele abraçou. Nosso maior escritor, Herman Melville, que passou sua vida apaixonado pelos Estados Unidos, mesmo sendo o crítico mais feroz do mito do excepcionalismo americano, observou: "A verdade
dita sem tergiversação sempre terá bordas ásperas;por isso, a celebração de tal discurso tende a ser menos terminada do que um remate arquitetônico acabado. "
A resposta de King para a nossa crise pode ser colocada em uma só palavra: revolução. Uma revolução em nossas prioridades, uma reavaliação dos nossos valores, um revigoramento da nossa vida pública e uma transformação fundamental do nosso modo de pensar e de viver que promova a transferência de poder dos oligarcas e plutocratas para pessoas comuns e cidadãos comuns.
Em termos concretos, isso significa o apoio a políticos progressistas como o senador Bernard Sanders, de Vermont e Mark Ridley-Thomas, Supervisora do Condado de Los Angeles; ampla organização popular na comunidade e na mídia, a desobediência civil, e confronto de vida e morte com os poderosos. Como Luther King, precisamos vestir nossa mortalha e estarmos preparados para o féretro, e prontos para a próxima grande batalha democrática.
Cornel West é filósofo e professor na Universidade de Princeton.
Estes eventos constituem marcos importantes na história turbulenta de raça e Democracia nos Estados Unidos, e o sucesso inegável do movimento dos direitos civis – que culminou com a eleição de Barack Obama em 2008
– merece a nossa atenção e exaltação. No entanto, as palavras proféticas do rabino Abraham Joshua Heschel ainda nos assombram: "O futuro dos Estados Unidos depende do impacto e da Influência do Dr. King."
Rabino Heschel pronunciou estas palavras durante os últimos anos da vida de Luther King , quando 72 por cento dos brancos e 55 por cento de negros desaprovava a oposição de Luther King à Guerra do Vietnã e seus esforços
para erradicar a pobreza nos Estados Unidos. O sonho de
Luther King de ver um Estados Unidos mais democrático havia se transformado, em suas próprias palavras, "um pesadelo", devido à persistência de "racismo, pobreza, militarismo, e do materialismo." Ele chamou os Estados Unidos de uma "sociedade doente". No domingo depois do seu assassinato, em 1968, ele era ter pregado um sermão intitulado "Por que a América pode ir para o inferno."
Não que King desejasse que os Estados Unidos devessem ir para o inferno deve ir para o inferno, mas sim que ele poderia ir para o inferno à injustiça econômica, à decadência cultural e à paralisia política. Ele não era um Gibbon americano, registrando o declínio e queda do império americano, mas um cristão negro corajoso e visionário, lutando com estilo e amor diante das quatro catástrofes que ele identificou.
Militarismo é uma catástrofe imperial que produzi o complexo industrial-militar e estado de segurança nacional e que distorcia as prioridades e estatura do país (com os “zangões” imorais jogando bombas em civis inocentes).
O materialismo é uma catástrofe espiritual, promovido por uma Mídia corporativa multiplex e uma indústria cultural corporativa que endureceu os corações dos consumidores e embruteceu a consciência de pretensos cidadãos. Truques espertos de distração das massas produzem uma horda de
viciados auto-medicados e narcisistas.
O racismo é uma catástrofe moral, visto mais graficamente no complexo industrial prisional e nos alvos da vigilância policial contra os guetos de negros e pardos invisíveis nos discursos públicos. Uso arbitrário da lei - em nome da "guerra" contra as drogas - têm produzido, nas aptas palavras da jurista Michelle Alexandre, um novo tipo de encarceramento em massa à la Jim Crow (nota: segregacionista). E a pobreza é uma catástrofe econômica
inseparável do poder de oligarcas gananciosos e plutocratas avarentos indiferentes à miséria dos pobres, das crianças, dos idosos e dos Trabalhadores.
A Era Obama tem falhado tragicamente no cumprimento do legado profético de Luther King Jr.. Ao invés de articular uma visão democrática radical e de luta a favor dos hipotecados, dos trabalhadores e das pessoas pobres na forma de alívio de crédito, criação de empregos e investimento em infra-estrutura, educação e habitação, o governo deu-nos salvamento para os bancos, lucros recordes para Wall Street, e cortes gigantes no orçamento
de programas sociais, prejudicando os mais vulneráveis.
Como o apresentador de talk show Tavis Smiley e eu dissemos em nossa caravana nacional contra a pobreza, o recente acordo em torno do orçamento é apenas a fase mais recente de 30 anos guerra unilateral, de cima para
baixo, contra o povo pobre e trabalhador em nome de uma política moralmente falida de desregulamentação dos mercados e redução de impostos e cortes no orçamento para aqueles que já são econômica e socialmente negligenciados e abandonados. Nossos dois principais
partidos políticos, ambos escravos das grandes fortunas, oferecem versões alternativas de poder meramente oligárquico.
A ausência de um discurso digno de King para revigorar os pobres e Trabalhadores deu condições para que populistas de direita possam se aproveitar do momento e se apresentar com discursos sobre corrupção e cortes de impostos indutores do crescimento. A ameaça desta direita
é uma resposta catastrófica para as quatro catástrofes mencionadas por Luther King; sua agenda criaria condições infernais para a maioria dos americanos.
Luther King Jr. chora no seu túmulo.
Ele nunca confundiu substância com simbolismo. Ele nunca combinaria um
sacrifício de corpo e sangue com um edifício de pedra de e argamassa. Nós celebramos justamente sua substância e sacrifício porque ele nos amou a todos tão profundamente.
Não fiquemos satisfeitos com o simbolismo porque muitas vezes nós tememos o desafio que ele abraçou. Nosso maior escritor, Herman Melville, que passou sua vida apaixonado pelos Estados Unidos, mesmo sendo o crítico mais feroz do mito do excepcionalismo americano, observou: "A verdade
dita sem tergiversação sempre terá bordas ásperas;por isso, a celebração de tal discurso tende a ser menos terminada do que um remate arquitetônico acabado. "
A resposta de King para a nossa crise pode ser colocada em uma só palavra: revolução. Uma revolução em nossas prioridades, uma reavaliação dos nossos valores, um revigoramento da nossa vida pública e uma transformação fundamental do nosso modo de pensar e de viver que promova a transferência de poder dos oligarcas e plutocratas para pessoas comuns e cidadãos comuns.
Em termos concretos, isso significa o apoio a políticos progressistas como o senador Bernard Sanders, de Vermont e Mark Ridley-Thomas, Supervisora do Condado de Los Angeles; ampla organização popular na comunidade e na mídia, a desobediência civil, e confronto de vida e morte com os poderosos. Como Luther King, precisamos vestir nossa mortalha e estarmos preparados para o féretro, e prontos para a próxima grande batalha democrática.
Cornel West é filósofo e professor na Universidade de Princeton.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Comitê Pernambucano da Verdade, Memória e Justiça
Sou Elzita Santa Cruz, mãe de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, preso político desaparecido em 23 de Fevereiro de 1974, na Cidade do Rio de Janeiro.. Venho mais uma vez representando todas as mães dos perseguidos pela ditadura, nos meus 97 anos de vida, saudar a instalação do Comitê Pernambucano da Verdade, Memória e Justiça, na perspectiva de que sejam apurados os crimes cometidos pela ditadura que infelicitou a nação brasileira por tanto tempo. A anistia pela qual lutamos, ampla, geral e irrestrita, com os esclarecimentos das torturas, assassinatos e dos mortos e desaparecidos políticos, não foi obtida pelo povo brasileiro. Agora se impõe na consolidação da democracia e do Estado Democrático de Direito, que os arquivos da repressão política sejam abertos e franqueados o seu acesso a todos interessados. Desta forma, faz-se necessário, aprovar o projeto de lei que se encontra em tramitação no Congresso Nacional, pelo fim do sigilo perpétuo imposto aos documentos públicos. Que seja criada a Comissão da Verdade, Memória e Justiça,e que tenha como foco as questões que não foram resolvidas pela anistia ,as torturas, os assassinatos e os desaparecidos forçados do campo e da cidade, isto é, os que foram mortos na guerrilha do Araguaia e as outras mortes ocorridas na cidade, em que os cadáveres também foram ocultados de seus familiares. São os mortos sem sepultura, sempre presente na luta do povo brasileiro, representada pelos Sem Terra, através da Reforma Agrária, dos Sem Tetos, por uma política de habitação popular, com a melhoria de ocupação do solo urbano, por uma escola e saúde de qualidade, universal, enfim, precisamos fazer com que a bandeira dos direitos humanos não seja empunhada apenas pelos familiares dos desaparecidos políticos,
assassinados e torturados, mas por todos que lutam e bradam por uma pátria livre, democrática, sem fome e que não haja miséria.
VIVA O COMITÊ DA VERDADE, MEMÓRIA E JUSTIÇA. VIVA A LUTA DO POVO BRASILEIRO POR JUSTIÇA SOCIAL .
Permita-me concluir este meu pronunciamento, citando Dom Helder Câmara, a quem sugiro pela sua luta pelos direitos humanos seja o patrono deste comitê: “A injustiça é una e indivisível; atacá-la e fazê-la recuar, aqui e ali, é sempre fazer avançar a justiça”.Dom Helder Câmara
assassinados e torturados, mas por todos que lutam e bradam por uma pátria livre, democrática, sem fome e que não haja miséria.
VIVA O COMITÊ DA VERDADE, MEMÓRIA E JUSTIÇA. VIVA A LUTA DO POVO BRASILEIRO POR JUSTIÇA SOCIAL .
Permita-me concluir este meu pronunciamento, citando Dom Helder Câmara, a quem sugiro pela sua luta pelos direitos humanos seja o patrono deste comitê: “A injustiça é una e indivisível; atacá-la e fazê-la recuar, aqui e ali, é sempre fazer avançar a justiça”.Dom Helder Câmara
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
CARLOS LAMARCA
Carlos Lamarca nasceu no dia 27 de outubro de 1937, no bairro do Estácio, zona norte, do Rio de Janeiro. Seu pai Antonio Lamarca era sapateiro, e sua mãe Gertrudes dona de casa. Lamarca tinha seis irmãos. Desde criança era um homem decidido e sempre teve liderança nas brincadeiras com os outros garotos. Cursou o primário na Escola Canada e o ginasial no Instituto Arcoverde, ele foi o único dos filhos a chegar a Ter curso superior.
Em 1947, Carlos Lamarca ingressa na Escola Preparatória de Cadetes em Porto Alegre, e se mostra um cadete muito aplicado
Em 1957, foi transferido para Rezende, para Academia Militar de Agulhas Negras, na Academia Lamarca lê o jornal a “Voz Operaria” do PCB ( esse jornal era colocado debaixo dos travesseiros dos cadetes escondido), e começa a se simpatizar com as idéias comunistas.
Em 1958, Lamarca fica noivo de Maria Pavan, uma amiga desde a infância.
Em 1959 ainda aspirante e contra o regulamento, casa-se secretamente com Maria, que já esperava o primeiro filho. Lamarca e Maria vão morar no campo do Santana no Rio de Janeiro, no dia 5 de maio de 1960 nasce César Lamarca ainda em 1960 Lamarca é declarado oficialmente aspirante, e vai servir em São Paulo, no 4 Regimento de infantaria em Quitaúna, Osasco.
Em 1962 vai servir como segundo tenente nas forças da ONU, na ocupação do canal de Suez, no Oriente Médio, no Suez Lamarca começa a tomar consciência da pobreza do povo Árabe , e compara a situação do povo Árabe com a situação do povo brasileiro. Nessa época Maria Pavan já estava grávida novamente, a criança nasce em outubro de 1962 e se chama Claudia.
Em 1963, volta ao brasil, nesse momento as idéias comunistas vão ganhando mais força em Lamarca através da leitura de clássicos marxistas. Lamarca serve até 1965 na 6 companhia da policia do Exército, em Porto Alegre.
Lamarca considerava Leonel Brizola um autentico líder popular, admirou a sua tentativa de resistência no Rio Grande do Sul e deplorou a atitude de Jango considerando-a covarde. Lamarca jamais concordara com o golpe militar, e não suportava ser guardião de presos políticos, numa noite de sábado promoveu a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Dandt que era acusado de atividades subversivas, esse fato ocorreu em dezembro de 1964. Após a fuga foi aberto um inquérito para apurar os responsáveis , mas o inquérito não deu em nada. Após esse acontecimento Lamarca pede transferencia para o 4 regimento de Infantaria em Quitaúna.
Em Quitáuna Lamarca reencontra velhos amigos: o cabo José Mariane, o sargento Darcy Rodrigues, todos eles de oposição dentro do Exército. Em Quitaúna Lamarca organiza um clube, um local para que os militares de oposição pudessem discutir política dentro do Quartel. Mariane, Darcy e Lamarca estavam convencidos da necessidade de estruturar o foco guerrilheiro numa área rural. Lamarca se une ao grupo de revolucionários do 4 Regimento, e logo a rede política se expande e chega até outras corporações. Apesar da atividade política Lamarca segue a risca suas obrigações no exército, tornando se um oficial exemplar e se mostrando um excelente atirador. Perante aos soldados Lamarca era severo mas amigo, sempre procurando ajudar os soldados, e chegando até a emprestar dinheiro, mas perante aos outros oficias era o inverso.
Em 25 de agosto de 1967, Carlos Lamarca é promovido a Capitão, nesse ano ele retoma os estudos sobre marxismo, o trabalho político que desenvolve com os outros militares “revolucionários” vai prosperando, e a sua idéia de guerrilha se consolida em seus planos. Em 1967 Lamarca sente muito a morte de Che Guevara e diz “perdemos um dos maiores lideres internacionalistas mas a visa é assim ou se morre ou se vence. Che Guevara morreu, mas deixa sua semente, raízes que não morrerão”.
Em 1968 Lamarca procura uma organização que tivesse em seus planos deflagrar guerrilha e levar o povo ao poder. Entra em contato com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), com Carlos Marighela ex- dirigente do PCB e principal comandante da ALN (Aliança de Libertação Nacional), e encontra-se também com a direção do PC do B.
Lamarca e o sargento Darcy ingressam na VPR em dezembro de 1968, Lamarca foi convencido pelos dirigentes da VPR que após roubar as armas do quartel a VPR teria um local para iniciar a guerrilha rural. O sargento Darcy desviava do quartel munição e granadas, já que ele falsificava documentos sobre o gasto de munição nos treinamentos. Três dias antes de Lamarca roubar as armas do quartel, militantes da VPR são presos, e pôr saberem os nomes de Lamarca, Darcy e Mariane os três resolveram tirar as armas do quartel imediatamente. Então no dia 24 de janeiro de 1969 Lamarca entra com sua Kombi no quartel de Quitaúna e retira 63 fuzis FAL, três metralhadoras INA e munição, em certo momento dois sargentos perguntam a Lamarca para que que as armas estavam sendo retiradas, e ele responde que é para um treinamento de tiro, messe momento Lamarca passa a viver na clandestinidade. Na verdade a VPR ainda não tinha condição de fazer a guerrilha, como havia dito.
Maria Pavan e os dois filhos saem do Brasil pôr segurança e vão morar em Cuba até 1969.
Após o roubo ao quartel Lamarca passa a viver em “aparelhos em São Paulo. Três meses após o roubo ao quartel Lamarca participa de sua primeira ação armada, essa ação ocorreu no dia 9 de maio de 1968, a VPR assaltou dois bancos o Mercantil e o Itáu ao mesmo tempo, durante o assalto Lamarca vê o guarda civil Orlando Pinto Saraiva apontar a arma em direção a Darcy, Lamarca então dispara e acerta a nuca do guarda. Mesmo participando da luta armada Lamarca desejava a guerra de guerrilhas no campo. A rotina de Lamarca se mantia, ele era obrigado a passar o dia todo escondido em apartamentos da VPR, com isso ele ocupa seu tempo estudando marxismo lendo sobre Trotsky, Lenin, Mao, Che Guevara, já que ele nesse momento ainda não possuía grandes conhecimentos teóricos. Lamarca enfrenta outro problema; além de não existir a área de guerrilha a, VPR a partir de janeiro de 1969 estava passando por um momento difícil após a prisão de vários militantes. Devido a crise a VPR convoca um congresso para se discutir as próximas ações, nesse congresso Lamarca é nomeado dirigente, ele aceita esse cargo a contra gosto, pois perseguia somente o papel de líder da guerrilha rural e não de uma organização tipicamente urbana onde seria obrigado a dar respostas a problemas não militares.
Já como dirigente Lamarca conhece Iara em abril de 1969, Iara era uma militante que passara por algumas organizações, e que no inicio de 1969 tinha a função de manter contato ente a VPR e a Colina Em junho de 1969 a VPR se une a Colina e forma VAR- Palmares, as duas tinham divergências mais possuíam um ponto em comum, a luta armada através da guerrilha. para uma futura união das duas organizações.
Lamarca e Iara se apaixonam, mas Lamarca tenta lutar contra esse sentimento, já que não seria justo com Maria que estava fora do país. Lamarca reluta em ficar com Iara, mas no meio de 1969 ele assume seu relacionamento com Iara e passam a viver juntos sempre que possível.
Após o assalto ao banco Lamarca comanda uma operação na casa da amante de Adhemar de Barros, um político completamente corrupto. Então no dia 18 de julho de 1969 Lamarca e seus companheiros roubam o cofre da casa, e quando o abrem vêem uma montanha de dinheiro, um total de 2 milhões e 500 mil dólares. Os militantes tiveram que trocar os dólares também no mercado negro, já que as casas de cambio freqüentemente eram vigiadas, cada militante recebeu 800 dólares para despesas, uma parte foi utilizada para preparar novas ações, uma fortuna foi gasta para manter os militantes na clandestinidade e 600 mil dólares caíram nas mãos da repressão.
Entre Julho e Agosto de 1969 se realiza o congresso da VAR-Palmares, desse congresso Lamarca , Iara e outros companheiros saem da VAR por causa de entre outros motivos a relutância da VAR em se dirigir ao campo para guerra de guerrilhas. Com isso Lamarca refunda a VPR absorvendo vários dissidentes da VAR, a nova VPR é fundada oficialmente no final de 1969.
A nova VPR compra um sítio no vale do Ribeira que seria usado para treinar os militantes para guerrilha, em janeiro de 1970 já havia chegado todos os militantes que receberiam treinamento inclusive Iara. Mas um sério distúrbio ginecológico hormonal fez com que Iara fosse obrigada a abandonar o campo de treinamento. Após o treinamento, o plano seria enviar alguns militantes para duas regiões do nordeste para desencadear a guerra de guerrilhas, mas a prisão de Mário Japa dirigente da VPR que conhecia a localização do sítio de treinamento, fez com que se desmobiliza-se parcialmente o campo de treinamento, já que Mário estando preso e sofrendo torturas poderia entregar o campo. Preocupados com a vida de Mário Japa a VPR decide seqüestrar o cônsul do Japão. Com o seqüestro, Mário e outros companheiros são soltos, mas a repressão continua a prender vários militantes, dois desses militantes delatam a área de treinamento. Lamarca ao saber da delatação inicia a evacuação da área , oito companheiros saem do campo de treinamento, nove permanecem, eram eles: Lamarca, os ex-sargentos Darcy Rodrigues e José Araujo Nóbrega, Gilberto Faria Lima, Ioshitante Fujimoto, Edmauro Gopfert, Diogenes Sabrosa, o ex-soldado Ariston Lucena e José Lavenchia. Os guerrilheiros estavam escondidos em áreas perto do campo principal. Lá pelo dia 22 de Abril já havia 1500 homens a procura dos guerrilheiros, havia vários helicópteros, aviões com pára-quedistas. José Lavenchia e Darcy Rodigues são presos pelo exército no dia 27 de Abril, os outros guerrilheiros continuavam a fugir, Lamarca e seu pequeno grupo se mostrara extremamente eficiente contra o exército. José Araujo Nobrega e Edmauro também são presos pelo exército.
No dia 8 de Maio, Lamarca num confronto consegue render um tenente, dois sargentos, dois cabos e doze soldados, e lê os termos de rendição para o tenente, 1- os guerrilheiros não fuzilariam ninguém, 2- os feridos seriam atendidos, facilitando o transporte dos mesmos, 3- os guerrilheiros apenas trocariam algumas armas sem expropriar nenhuma, 4-reabasteceriam de munição as armas, 5- O tenente levantaria o bloqueio do exército em Sete Barras (cidade próxima).
O tenente concordou com os termos só que não ordenou o levantamento do bloqueio, fazendo com que Lamarca e seu grupo caíssem numa emboscada. Os guerrilheiros conseguem fugir da emboscada e decidem executar o tenente, afinal, ele não havia comprido o acordo e não havia condição de prosseguir com ele naquela situação de cerco. O tenente deveria ser fuzilado mas para não fazer barulho o executam com uma coronhada de fuzil no dia 10 de maio.
Lamarca e seu pequeno grupo continuavam a fugir, começaram a fazer contato com os camponeses da região para obter comida e se impressionaram como eram bem recebidos na maioria das vezes, alguns camponeses que ajudaram o grupo de Lamarca foram mortos e torturados pelo exército. Lamarca decide que o companheiro Gilberto Faria Lima que não estava identificado pêlos órgãos de repressão deveria sair da região para buscar ajuda em São Paulo. No dia 30 de Maio Gilberto pega um ônibus para a Capital sem problemas.
No dia 31 de Maio Lamarca e seu grupo montam uma emboscada e conseguem capturar um veiculo do exército , fazem 5 prisioneiros, sendo um sargento e quatro soldados, os guerrilheiros vestem os uniformes dos prisioneiros e conseguem passar pelo bloqueio do exército sem problemas, e seguem para São Paulo, ao chegarem a São Paulo abandonam o caminhão e deixam os prisioneiros amarrados na caçamba.
Lamarca e seu grupo conseguem incrivelmente escapar do Vale da Ribeira, mesmo sendo perseguidos pôr milhares de soldados, sendo bombardeados pôr aviões. Essa vitória prova que um pequeno grupo se movimentando rapidamente, com tática de guerrilha é extremamente eficiente.
Após a fuga no Vale do Ribeira, Lamarca encontra sua organização em crise devido a prisão de vários militantes.
No início de junho de 1970 o Conselho Permanente de Justiça da 2° Auditoria Militar de São Paulo condena Lamarca a revelia a 24 anos de prisão pelo roubo de armas do Quartel de Quitauna, condena o ex-cabo Mariane a 12 anos e o ex-sargento Darcy Rodrigues a 16 anos.
Devido a situação difícil que passava a VPR, ela decide junto com a ALN realizar mais um seqüestro . O seqüestro foi realizado no Rio de Janeiro. Alguns militantes cercaram o carro do embaixador da Alemanha Ocidental e o seqüestraram. No dia 12 de junho, o dia após o seqüestro o presidente Médici e os ministros da justiça militar e das relações exteriores decidem aceitar parte das exigências dos seqüestradores , Os militares permitem que seja publicado na imprensa um manifesto dos militantes de nome “Ao povo brasileiro”. No dia 13 de junho o governo concorda com em libertar presos políticos, e dois dias depois um avião levanta vôo levando 40 presos políticos para a Argélia, entre os presos libertados estão: José Lavenchia, Darcy Rodrigues, José Araújo Nobrega e Edmauro Gopfert.
Em Setembro de 1970 Lamarca vai para um aparelho no interior do estado do Rio, Lamarca ainda acreditava na guerrilha, mas estava muito preocupado com o crescente numero de companheiros presos e torturados, também percebia que grande parte do povo não estava preocupado com os presos políticos e com as torturas que eles sofriam, o trabalhador explorado continuava submisso e calado.
No dia 7 de Dezembro de 1970, Lamarca comanda o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro, no momento do seqüestro o agente de segurança Hélio Araújo de Carvalho é ferido e morre no hospital, o motorista é dominado e os militantes levam o embaixador para o cativeiro. A VPR faz as seguintes exigências para libertar o embaixador: O governo deveria soltar 70 presos políticos, divulgar textos de propaganda e distribuir gratuitamente passagens nos trens do subúrbio até o final das negociações. Mas dessa vez o presidente Medici endureceu e só concordou em libertar os presos políticos, a VPR manda várias listas com os nomes dos presos que deveriam ser soltos mas o governo não concorda em libertar alguns presos citados. A nova estratégia do governo surpreende a VPR que só tinha duas opções: aceitar as condições do governo ou matar o embaixador. A maioria decide matar o embaixador, mas Lamarca é contra porque matar o embaixador iria repercutir mal junto ao povo e afinal se deixaria de libertar 70 companheiros que estavam sofrendo todo o tipo de tortura nos porões da ditadura. Então Lamarca como comandante da operação diz: “Sou o comandante da ação, decido eu. Não vamos matar Bucher.”
Após se chegar a um acordo a cerca dos presos que seriam libertados, 70 presos políticos partem no dia 16 de janeiro rumo ao Chile de Allende.
Após o fim do seqüestro Lamarca e Iara passam uns dias morando juntos, a decisão de Lamarca de não matar o embaixador é o estopim para uma série de discussões dentro da VPR. A VPR queria que Lamarca saísse do país já que ele era o homem mais procurado, mas Lamarca não aceita e permanece no Brasil.
No dia 22 de março de 1971 Lamarca rompe com a VPR e entra para o MR-8, Lamarca gostava de todos da VPR mas politicamente considera a VPR muito vanguardista, negava qualquer espaço para o povo e não via como mudar essa situação por isso entra para o MR-8, Iara o acompanha. No MR-8 Lamarca via novamente a possibilidade de ir para o campo, implantar o foco guerrilheiro e levar o povo ao poder, o MR-8 reservava ao povo um papel no processo revolucionário, isso foi um dos motivos da aproximação de Lamarca.
De repente o MR-8 começa a ruir, no dia 14 de maio Stuart Edgard Angel de 27 anos, membro da direção do MR-8 é preso e levado para a base aérea do Galeão, lá é torturado de todas as formas para dizer a localização de Lamarca, apesar das torturas Stuart não o entrega. Stuart morre após ser amarrado na traseira de um jipe da Aeronáutica e ser arrastado de um lado para o outro com a boca no cano de descarga do jipe, Stuart morre asfixiado e intoxicado pelo monóxido de carbono. Os oficiais que participaram do assassinato de Stuart eram o Brigadeiro Burnier, Carlos Afonso Dellamara comandante do CISA, os tenente-coronel Abílio Alcantra e Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena, todos do CISA., Alfredo Poeck capitão do Cenimar e pelo agente do Dops Jair Gonçalves da Mota.
Neste momento o MR-8 estava cercado no Rio de Janeiro e Lamarca e Iara estavam correndo perigo, então os dois partem em direção a Bahia ( Iara consegue vencer a resistência da Organização em deixa-la ir junto com Lamarca já que não se sabia como absorve-la no trabalho no campo. Lamarca e Iara chegam a Bahia mas não ficam juntos, Lamarca se dirige a Buriti Cristalino e Iara a Salvador.
No dia 29 de junho de 1971 Lamarca chega a área de campo em Buriti Cristalino, e fica escondido no meio do mato, somente recebendo visitas de companheiros do MR-8 que levavam sua comida, esses companheiros já estavam na região fazendo um trabalho de conscientização e educação com os camponeses. No dia 30 de julho Lamarca e seus companheiros discutem sobre a região e sobre as perspectivas de atuação, e percebem que seria um erro fazer a guerrilha ali, era necessário que a região tivesse alguma importância econômica para que a ação pudesse abalar o governo, e todo aquele agreste não tinha nenhuma importância para o país. Então ficou decidido que ali só se faria um trabalho de conscientização, recrutamento e formação de militantes de origem camponesa para mais tarde serem deslocados para uma região mais favorável a guerrilha..
No dia 6 de Agosto o militante Zé Carlos do MR-8 é preso em Salvador e fica a duvida se ele entregaria o local onde estava Lamarca e Iara, Zé Carlos é torturado mas não fala tudo de uma vez, fala sobre onde estava Iara porque achava que ela já tinha ido para Feira de Santana mas estava enganado, no dia 20 de agosto de 1971 os militares envadem o prédio onde estava Iara, prendem o companheiro Jaileno e outras pessoas, Iara parecia estar salva mas um menimo a vê com duas armas e avisa aos militares, Iara fica presa num quarto porque o menino que a viu bateu a porta e a porta só abria por fora, acuada, sem chances de escapar se suicida com um tiro no meio do peito.
Com a morte de Iara os militares tem certeza que Zé Carlos sabia onde estava Lamarca, e ainda possuíam o diário de Lamarca que falava da região onde estava. Em cima das informações de Zé Carlos e com o diário da Lamarca nas mãos, os agentes vão mapeando a região.
Lamarca e os militantes ficam sabendo que Zé Carlos estava preso, e mesmo sabendo dos riscos em permanecer em Buriti Cristalino resolvem ficar porque não podiam abandonar todo o trabalho que estava sendo feito com o povo da região, por precaução montam vários táticas de fuga caso fosse necessario.
No dia 28 de Agosto os militares e policiais chegam a Buriti Cristalino, Olderico, militante do MR-8, percebe que tudo havia sido descoberto e quando os militares ordenam que todos saiam das casas ele começa a atirar para que Zequinha e Lamarca que estavam no acampamento ouvissem os tiros e fugissem, a atitude corajosa de Olderico deu certo ao ouvirem os tiros no vilarejo Lamarca e Zequinha fugiram pela Caatinga. Olderico é baleado. Buriti Cristalino foi palco do terror com a presença dos militares e policiais na região, vários camponeses foram torturados e espancados a troco de nada, animais dos camponeses foram fuzilados só por diversão, o militante Otoniel foi morto. Os militares continuavam a perseguição a Lamarca, este estava muito doente o que dificultava sua locomoção, o próprio Lamarca dizia para Zequinha o largar e fugir mas Zequinha respondia que "Quem é amigo na vida é amigo na morte!".
No dia 17 de Setembro Zequinha e Lamarca estão descansando embaixo de uma arvore, já haviam percorrido mais de 300km em fuga, quando Zequinha percebe que estão cercados, ele então grita para Lamarca " Capitão os homens estão ai", Lamarca não tem tempo nem para atirar, é fuzilado pelo Major Cerqueira, Zéquinha corre ainda alguns metros mais também é morto, antes de cair Zequinha grita: "Abaixo a ditadura!". O corpo de Lamarca e Zequinha são levados para Brótas de Macaúbas onde são jogados num campo de futebol para todo mundo ver. Os Agentes se divertiam dando chutes nos cadaveres, rindo e dando gargalhadas de felicidade.
Em 1947, Carlos Lamarca ingressa na Escola Preparatória de Cadetes em Porto Alegre, e se mostra um cadete muito aplicado
Em 1957, foi transferido para Rezende, para Academia Militar de Agulhas Negras, na Academia Lamarca lê o jornal a “Voz Operaria” do PCB ( esse jornal era colocado debaixo dos travesseiros dos cadetes escondido), e começa a se simpatizar com as idéias comunistas.
Em 1958, Lamarca fica noivo de Maria Pavan, uma amiga desde a infância.
Em 1959 ainda aspirante e contra o regulamento, casa-se secretamente com Maria, que já esperava o primeiro filho. Lamarca e Maria vão morar no campo do Santana no Rio de Janeiro, no dia 5 de maio de 1960 nasce César Lamarca ainda em 1960 Lamarca é declarado oficialmente aspirante, e vai servir em São Paulo, no 4 Regimento de infantaria em Quitaúna, Osasco.
Em 1962 vai servir como segundo tenente nas forças da ONU, na ocupação do canal de Suez, no Oriente Médio, no Suez Lamarca começa a tomar consciência da pobreza do povo Árabe , e compara a situação do povo Árabe com a situação do povo brasileiro. Nessa época Maria Pavan já estava grávida novamente, a criança nasce em outubro de 1962 e se chama Claudia.
Em 1963, volta ao brasil, nesse momento as idéias comunistas vão ganhando mais força em Lamarca através da leitura de clássicos marxistas. Lamarca serve até 1965 na 6 companhia da policia do Exército, em Porto Alegre.
Lamarca considerava Leonel Brizola um autentico líder popular, admirou a sua tentativa de resistência no Rio Grande do Sul e deplorou a atitude de Jango considerando-a covarde. Lamarca jamais concordara com o golpe militar, e não suportava ser guardião de presos políticos, numa noite de sábado promoveu a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Dandt que era acusado de atividades subversivas, esse fato ocorreu em dezembro de 1964. Após a fuga foi aberto um inquérito para apurar os responsáveis , mas o inquérito não deu em nada. Após esse acontecimento Lamarca pede transferencia para o 4 regimento de Infantaria em Quitaúna.
Em Quitáuna Lamarca reencontra velhos amigos: o cabo José Mariane, o sargento Darcy Rodrigues, todos eles de oposição dentro do Exército. Em Quitaúna Lamarca organiza um clube, um local para que os militares de oposição pudessem discutir política dentro do Quartel. Mariane, Darcy e Lamarca estavam convencidos da necessidade de estruturar o foco guerrilheiro numa área rural. Lamarca se une ao grupo de revolucionários do 4 Regimento, e logo a rede política se expande e chega até outras corporações. Apesar da atividade política Lamarca segue a risca suas obrigações no exército, tornando se um oficial exemplar e se mostrando um excelente atirador. Perante aos soldados Lamarca era severo mas amigo, sempre procurando ajudar os soldados, e chegando até a emprestar dinheiro, mas perante aos outros oficias era o inverso.
Em 25 de agosto de 1967, Carlos Lamarca é promovido a Capitão, nesse ano ele retoma os estudos sobre marxismo, o trabalho político que desenvolve com os outros militares “revolucionários” vai prosperando, e a sua idéia de guerrilha se consolida em seus planos. Em 1967 Lamarca sente muito a morte de Che Guevara e diz “perdemos um dos maiores lideres internacionalistas mas a visa é assim ou se morre ou se vence. Che Guevara morreu, mas deixa sua semente, raízes que não morrerão”.
Em 1968 Lamarca procura uma organização que tivesse em seus planos deflagrar guerrilha e levar o povo ao poder. Entra em contato com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), com Carlos Marighela ex- dirigente do PCB e principal comandante da ALN (Aliança de Libertação Nacional), e encontra-se também com a direção do PC do B.
Lamarca e o sargento Darcy ingressam na VPR em dezembro de 1968, Lamarca foi convencido pelos dirigentes da VPR que após roubar as armas do quartel a VPR teria um local para iniciar a guerrilha rural. O sargento Darcy desviava do quartel munição e granadas, já que ele falsificava documentos sobre o gasto de munição nos treinamentos. Três dias antes de Lamarca roubar as armas do quartel, militantes da VPR são presos, e pôr saberem os nomes de Lamarca, Darcy e Mariane os três resolveram tirar as armas do quartel imediatamente. Então no dia 24 de janeiro de 1969 Lamarca entra com sua Kombi no quartel de Quitaúna e retira 63 fuzis FAL, três metralhadoras INA e munição, em certo momento dois sargentos perguntam a Lamarca para que que as armas estavam sendo retiradas, e ele responde que é para um treinamento de tiro, messe momento Lamarca passa a viver na clandestinidade. Na verdade a VPR ainda não tinha condição de fazer a guerrilha, como havia dito.
Maria Pavan e os dois filhos saem do Brasil pôr segurança e vão morar em Cuba até 1969.
Após o roubo ao quartel Lamarca passa a viver em “aparelhos em São Paulo. Três meses após o roubo ao quartel Lamarca participa de sua primeira ação armada, essa ação ocorreu no dia 9 de maio de 1968, a VPR assaltou dois bancos o Mercantil e o Itáu ao mesmo tempo, durante o assalto Lamarca vê o guarda civil Orlando Pinto Saraiva apontar a arma em direção a Darcy, Lamarca então dispara e acerta a nuca do guarda. Mesmo participando da luta armada Lamarca desejava a guerra de guerrilhas no campo. A rotina de Lamarca se mantia, ele era obrigado a passar o dia todo escondido em apartamentos da VPR, com isso ele ocupa seu tempo estudando marxismo lendo sobre Trotsky, Lenin, Mao, Che Guevara, já que ele nesse momento ainda não possuía grandes conhecimentos teóricos. Lamarca enfrenta outro problema; além de não existir a área de guerrilha a, VPR a partir de janeiro de 1969 estava passando por um momento difícil após a prisão de vários militantes. Devido a crise a VPR convoca um congresso para se discutir as próximas ações, nesse congresso Lamarca é nomeado dirigente, ele aceita esse cargo a contra gosto, pois perseguia somente o papel de líder da guerrilha rural e não de uma organização tipicamente urbana onde seria obrigado a dar respostas a problemas não militares.
Já como dirigente Lamarca conhece Iara em abril de 1969, Iara era uma militante que passara por algumas organizações, e que no inicio de 1969 tinha a função de manter contato ente a VPR e a Colina Em junho de 1969 a VPR se une a Colina e forma VAR- Palmares, as duas tinham divergências mais possuíam um ponto em comum, a luta armada através da guerrilha. para uma futura união das duas organizações.
Lamarca e Iara se apaixonam, mas Lamarca tenta lutar contra esse sentimento, já que não seria justo com Maria que estava fora do país. Lamarca reluta em ficar com Iara, mas no meio de 1969 ele assume seu relacionamento com Iara e passam a viver juntos sempre que possível.
Após o assalto ao banco Lamarca comanda uma operação na casa da amante de Adhemar de Barros, um político completamente corrupto. Então no dia 18 de julho de 1969 Lamarca e seus companheiros roubam o cofre da casa, e quando o abrem vêem uma montanha de dinheiro, um total de 2 milhões e 500 mil dólares. Os militantes tiveram que trocar os dólares também no mercado negro, já que as casas de cambio freqüentemente eram vigiadas, cada militante recebeu 800 dólares para despesas, uma parte foi utilizada para preparar novas ações, uma fortuna foi gasta para manter os militantes na clandestinidade e 600 mil dólares caíram nas mãos da repressão.
Entre Julho e Agosto de 1969 se realiza o congresso da VAR-Palmares, desse congresso Lamarca , Iara e outros companheiros saem da VAR por causa de entre outros motivos a relutância da VAR em se dirigir ao campo para guerra de guerrilhas. Com isso Lamarca refunda a VPR absorvendo vários dissidentes da VAR, a nova VPR é fundada oficialmente no final de 1969.
A nova VPR compra um sítio no vale do Ribeira que seria usado para treinar os militantes para guerrilha, em janeiro de 1970 já havia chegado todos os militantes que receberiam treinamento inclusive Iara. Mas um sério distúrbio ginecológico hormonal fez com que Iara fosse obrigada a abandonar o campo de treinamento. Após o treinamento, o plano seria enviar alguns militantes para duas regiões do nordeste para desencadear a guerra de guerrilhas, mas a prisão de Mário Japa dirigente da VPR que conhecia a localização do sítio de treinamento, fez com que se desmobiliza-se parcialmente o campo de treinamento, já que Mário estando preso e sofrendo torturas poderia entregar o campo. Preocupados com a vida de Mário Japa a VPR decide seqüestrar o cônsul do Japão. Com o seqüestro, Mário e outros companheiros são soltos, mas a repressão continua a prender vários militantes, dois desses militantes delatam a área de treinamento. Lamarca ao saber da delatação inicia a evacuação da área , oito companheiros saem do campo de treinamento, nove permanecem, eram eles: Lamarca, os ex-sargentos Darcy Rodrigues e José Araujo Nóbrega, Gilberto Faria Lima, Ioshitante Fujimoto, Edmauro Gopfert, Diogenes Sabrosa, o ex-soldado Ariston Lucena e José Lavenchia. Os guerrilheiros estavam escondidos em áreas perto do campo principal. Lá pelo dia 22 de Abril já havia 1500 homens a procura dos guerrilheiros, havia vários helicópteros, aviões com pára-quedistas. José Lavenchia e Darcy Rodigues são presos pelo exército no dia 27 de Abril, os outros guerrilheiros continuavam a fugir, Lamarca e seu pequeno grupo se mostrara extremamente eficiente contra o exército. José Araujo Nobrega e Edmauro também são presos pelo exército.
No dia 8 de Maio, Lamarca num confronto consegue render um tenente, dois sargentos, dois cabos e doze soldados, e lê os termos de rendição para o tenente, 1- os guerrilheiros não fuzilariam ninguém, 2- os feridos seriam atendidos, facilitando o transporte dos mesmos, 3- os guerrilheiros apenas trocariam algumas armas sem expropriar nenhuma, 4-reabasteceriam de munição as armas, 5- O tenente levantaria o bloqueio do exército em Sete Barras (cidade próxima).
O tenente concordou com os termos só que não ordenou o levantamento do bloqueio, fazendo com que Lamarca e seu grupo caíssem numa emboscada. Os guerrilheiros conseguem fugir da emboscada e decidem executar o tenente, afinal, ele não havia comprido o acordo e não havia condição de prosseguir com ele naquela situação de cerco. O tenente deveria ser fuzilado mas para não fazer barulho o executam com uma coronhada de fuzil no dia 10 de maio.
Lamarca e seu pequeno grupo continuavam a fugir, começaram a fazer contato com os camponeses da região para obter comida e se impressionaram como eram bem recebidos na maioria das vezes, alguns camponeses que ajudaram o grupo de Lamarca foram mortos e torturados pelo exército. Lamarca decide que o companheiro Gilberto Faria Lima que não estava identificado pêlos órgãos de repressão deveria sair da região para buscar ajuda em São Paulo. No dia 30 de Maio Gilberto pega um ônibus para a Capital sem problemas.
No dia 31 de Maio Lamarca e seu grupo montam uma emboscada e conseguem capturar um veiculo do exército , fazem 5 prisioneiros, sendo um sargento e quatro soldados, os guerrilheiros vestem os uniformes dos prisioneiros e conseguem passar pelo bloqueio do exército sem problemas, e seguem para São Paulo, ao chegarem a São Paulo abandonam o caminhão e deixam os prisioneiros amarrados na caçamba.
Lamarca e seu grupo conseguem incrivelmente escapar do Vale da Ribeira, mesmo sendo perseguidos pôr milhares de soldados, sendo bombardeados pôr aviões. Essa vitória prova que um pequeno grupo se movimentando rapidamente, com tática de guerrilha é extremamente eficiente.
Após a fuga no Vale do Ribeira, Lamarca encontra sua organização em crise devido a prisão de vários militantes.
No início de junho de 1970 o Conselho Permanente de Justiça da 2° Auditoria Militar de São Paulo condena Lamarca a revelia a 24 anos de prisão pelo roubo de armas do Quartel de Quitauna, condena o ex-cabo Mariane a 12 anos e o ex-sargento Darcy Rodrigues a 16 anos.
Devido a situação difícil que passava a VPR, ela decide junto com a ALN realizar mais um seqüestro . O seqüestro foi realizado no Rio de Janeiro. Alguns militantes cercaram o carro do embaixador da Alemanha Ocidental e o seqüestraram. No dia 12 de junho, o dia após o seqüestro o presidente Médici e os ministros da justiça militar e das relações exteriores decidem aceitar parte das exigências dos seqüestradores , Os militares permitem que seja publicado na imprensa um manifesto dos militantes de nome “Ao povo brasileiro”. No dia 13 de junho o governo concorda com em libertar presos políticos, e dois dias depois um avião levanta vôo levando 40 presos políticos para a Argélia, entre os presos libertados estão: José Lavenchia, Darcy Rodrigues, José Araújo Nobrega e Edmauro Gopfert.
Em Setembro de 1970 Lamarca vai para um aparelho no interior do estado do Rio, Lamarca ainda acreditava na guerrilha, mas estava muito preocupado com o crescente numero de companheiros presos e torturados, também percebia que grande parte do povo não estava preocupado com os presos políticos e com as torturas que eles sofriam, o trabalhador explorado continuava submisso e calado.
No dia 7 de Dezembro de 1970, Lamarca comanda o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, no bairro de Laranjeiras no Rio de Janeiro, no momento do seqüestro o agente de segurança Hélio Araújo de Carvalho é ferido e morre no hospital, o motorista é dominado e os militantes levam o embaixador para o cativeiro. A VPR faz as seguintes exigências para libertar o embaixador: O governo deveria soltar 70 presos políticos, divulgar textos de propaganda e distribuir gratuitamente passagens nos trens do subúrbio até o final das negociações. Mas dessa vez o presidente Medici endureceu e só concordou em libertar os presos políticos, a VPR manda várias listas com os nomes dos presos que deveriam ser soltos mas o governo não concorda em libertar alguns presos citados. A nova estratégia do governo surpreende a VPR que só tinha duas opções: aceitar as condições do governo ou matar o embaixador. A maioria decide matar o embaixador, mas Lamarca é contra porque matar o embaixador iria repercutir mal junto ao povo e afinal se deixaria de libertar 70 companheiros que estavam sofrendo todo o tipo de tortura nos porões da ditadura. Então Lamarca como comandante da operação diz: “Sou o comandante da ação, decido eu. Não vamos matar Bucher.”
Após se chegar a um acordo a cerca dos presos que seriam libertados, 70 presos políticos partem no dia 16 de janeiro rumo ao Chile de Allende.
Após o fim do seqüestro Lamarca e Iara passam uns dias morando juntos, a decisão de Lamarca de não matar o embaixador é o estopim para uma série de discussões dentro da VPR. A VPR queria que Lamarca saísse do país já que ele era o homem mais procurado, mas Lamarca não aceita e permanece no Brasil.
No dia 22 de março de 1971 Lamarca rompe com a VPR e entra para o MR-8, Lamarca gostava de todos da VPR mas politicamente considera a VPR muito vanguardista, negava qualquer espaço para o povo e não via como mudar essa situação por isso entra para o MR-8, Iara o acompanha. No MR-8 Lamarca via novamente a possibilidade de ir para o campo, implantar o foco guerrilheiro e levar o povo ao poder, o MR-8 reservava ao povo um papel no processo revolucionário, isso foi um dos motivos da aproximação de Lamarca.
De repente o MR-8 começa a ruir, no dia 14 de maio Stuart Edgard Angel de 27 anos, membro da direção do MR-8 é preso e levado para a base aérea do Galeão, lá é torturado de todas as formas para dizer a localização de Lamarca, apesar das torturas Stuart não o entrega. Stuart morre após ser amarrado na traseira de um jipe da Aeronáutica e ser arrastado de um lado para o outro com a boca no cano de descarga do jipe, Stuart morre asfixiado e intoxicado pelo monóxido de carbono. Os oficiais que participaram do assassinato de Stuart eram o Brigadeiro Burnier, Carlos Afonso Dellamara comandante do CISA, os tenente-coronel Abílio Alcantra e Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena, todos do CISA., Alfredo Poeck capitão do Cenimar e pelo agente do Dops Jair Gonçalves da Mota.
Neste momento o MR-8 estava cercado no Rio de Janeiro e Lamarca e Iara estavam correndo perigo, então os dois partem em direção a Bahia ( Iara consegue vencer a resistência da Organização em deixa-la ir junto com Lamarca já que não se sabia como absorve-la no trabalho no campo. Lamarca e Iara chegam a Bahia mas não ficam juntos, Lamarca se dirige a Buriti Cristalino e Iara a Salvador.
No dia 29 de junho de 1971 Lamarca chega a área de campo em Buriti Cristalino, e fica escondido no meio do mato, somente recebendo visitas de companheiros do MR-8 que levavam sua comida, esses companheiros já estavam na região fazendo um trabalho de conscientização e educação com os camponeses. No dia 30 de julho Lamarca e seus companheiros discutem sobre a região e sobre as perspectivas de atuação, e percebem que seria um erro fazer a guerrilha ali, era necessário que a região tivesse alguma importância econômica para que a ação pudesse abalar o governo, e todo aquele agreste não tinha nenhuma importância para o país. Então ficou decidido que ali só se faria um trabalho de conscientização, recrutamento e formação de militantes de origem camponesa para mais tarde serem deslocados para uma região mais favorável a guerrilha..
No dia 6 de Agosto o militante Zé Carlos do MR-8 é preso em Salvador e fica a duvida se ele entregaria o local onde estava Lamarca e Iara, Zé Carlos é torturado mas não fala tudo de uma vez, fala sobre onde estava Iara porque achava que ela já tinha ido para Feira de Santana mas estava enganado, no dia 20 de agosto de 1971 os militares envadem o prédio onde estava Iara, prendem o companheiro Jaileno e outras pessoas, Iara parecia estar salva mas um menimo a vê com duas armas e avisa aos militares, Iara fica presa num quarto porque o menino que a viu bateu a porta e a porta só abria por fora, acuada, sem chances de escapar se suicida com um tiro no meio do peito.
Com a morte de Iara os militares tem certeza que Zé Carlos sabia onde estava Lamarca, e ainda possuíam o diário de Lamarca que falava da região onde estava. Em cima das informações de Zé Carlos e com o diário da Lamarca nas mãos, os agentes vão mapeando a região.
Lamarca e os militantes ficam sabendo que Zé Carlos estava preso, e mesmo sabendo dos riscos em permanecer em Buriti Cristalino resolvem ficar porque não podiam abandonar todo o trabalho que estava sendo feito com o povo da região, por precaução montam vários táticas de fuga caso fosse necessario.
No dia 28 de Agosto os militares e policiais chegam a Buriti Cristalino, Olderico, militante do MR-8, percebe que tudo havia sido descoberto e quando os militares ordenam que todos saiam das casas ele começa a atirar para que Zequinha e Lamarca que estavam no acampamento ouvissem os tiros e fugissem, a atitude corajosa de Olderico deu certo ao ouvirem os tiros no vilarejo Lamarca e Zequinha fugiram pela Caatinga. Olderico é baleado. Buriti Cristalino foi palco do terror com a presença dos militares e policiais na região, vários camponeses foram torturados e espancados a troco de nada, animais dos camponeses foram fuzilados só por diversão, o militante Otoniel foi morto. Os militares continuavam a perseguição a Lamarca, este estava muito doente o que dificultava sua locomoção, o próprio Lamarca dizia para Zequinha o largar e fugir mas Zequinha respondia que "Quem é amigo na vida é amigo na morte!".
No dia 17 de Setembro Zequinha e Lamarca estão descansando embaixo de uma arvore, já haviam percorrido mais de 300km em fuga, quando Zequinha percebe que estão cercados, ele então grita para Lamarca " Capitão os homens estão ai", Lamarca não tem tempo nem para atirar, é fuzilado pelo Major Cerqueira, Zéquinha corre ainda alguns metros mais também é morto, antes de cair Zequinha grita: "Abaixo a ditadura!". O corpo de Lamarca e Zequinha são levados para Brótas de Macaúbas onde são jogados num campo de futebol para todo mundo ver. Os Agentes se divertiam dando chutes nos cadaveres, rindo e dando gargalhadas de felicidade.
sábado, 20 de agosto de 2011
PROJETO RUA VIVA
Direcionando todo seu trabalho em favor de uma sociedade justa, solidária e democrática, BETINHO DUARTE nele incluiu a preocupação de não deixar que se perdessem no tempo a lembrança e a história de seus companheiros de geração que, nos porões da ditadura, perderam a vida por defenderem seus ideais. Gradativamente desde 1993, cada um deles teve seu nome dado a uma rua de Belo Horizonte, dentro do projeto RUA VIVA, imortalizando no chão da cidade a memória daqueles bravos lutadores e reunindo suas histórias individuais em um livro. A primeira edição foi lançada em 1993 e a segunda, com dois volumes, em 2004. Foram homenageados até agora 164 companheiros. Dando prosseguimento, o vereador Tarcísio Caixeta, PT, da Câmara Municipal de Belo Horizonte apresentou no dia 18 de agosto projetos de leis com os nomes abaixo. Esta iniciativa está inserida nas comemorações dos 32 anos da anistia politica. Depois de aprovados solicitamos ao prefeito de Belo Horizonte , Dr. Márcio Lacerda , sanção conjunta na presença de familiares. Estamos sugerimos mudar do nome do Elevado Castelo Branco para Dona Helena Greco falecida recentemente. Uma das justificativas é que durante o seu mandato como vereadora ela teve a coragem de mudar o nome da rua Dan Mitrione para José Carlos da Mata Machado , em 17/05/1963. Pretendemos publicar a terceira edição do livro, em 2012, no aniversário da Anistia Politica.
BETINHO DUARTE
Membro da AP - Ação Popular na década de 60.
Diretor das sucursais de Minas Gerais dos jornais Movimento e Em Tempo.
Presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia/MG (1978/1979).
Vereador da Câmara Municipal de Belo Horizonte de Belo Horizonte (1993/2004).
Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (2003/2004).
Vice Presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil.
01 - Afonso Vítor Pachola
02 - Aides Dias de Carvalho
03 - Alcides de Oliveira
04 - Álvaro Veveco Hardy
05 - Álvaro Martins Rabêlo
06 - Alvino Ferreira Felipe
07 - Andréia Marques Rodrigues
08 - Antônio José dos Reis
09 - Ary de Souza
10 - Carlos Alberto Scotti
11 - Carmela Pezzuti
12 - Carmem Jânea Lima
13 - Celius Aulicus Jardim
14 - Darcy Ribeiro
15 - Dazinho Gomes Pimenta
16 - Eliane Martins
17 - Euro Luís Arantes
18 - Evelyne Pape Singer
19 - Francisco Nascimento (UTP)
20 - Geraldo Bernardo da Silva
21 - Geraldo Ludovico
22 - Gilson Miranda
23 - Guido Rocha
24 - Guinaldo Nicolaevscky
25 - Guta Carneiro Ribeiro
26 - João Domingos Fassarela
27 - José Isabel do Nascimento (Ipatinga)
28 - José Teubner Ferreira
29 - Lúcia Helena Mellino
30 - Luís Bento
31 - Luiz Lyrio
32 - Lourival Vilela Viana
33 - Marcelo Guimarães
34 - Maria da Penha Lima (MST)
35 - Maria Regina Nabuco
36 - Mariza Afonso
37 - Olavo Brasil Júnior
38 - Olympio Perez Munhoz
39 - Reinaldo Melgaço
40 - Sebastião Tomé da Silva
41 - Stela Mares Rafante
42 - Valmir José de Rezende
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Criada a Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Política da OAB/MG
Na tarde da última terça-feira (16/08), em reunião no gabinete da presidência, foi criada a Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Política da OAB/MG. A proposta de criação da Comissão foi feita pelo ex-vereador e vice-presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, Betinho Duarte, e foi prontamente atendido pelo presidente da OAB/MG, Luís Cláudio Chaves.
A Comissão da OAB será composta pelos seguintes integrantes: Márcio Augusto Santiago (presidente); Carlos Vitor Alves Delamonica; Carlos Frederico Pires Veloso; Antonio Ribeiro Romanelli; Carlos Cateb; Fahid Tahan Sab; Betinho Duarte (membro colaborador).
De acordo com o presidente da Comissão, Márcio Augusto Santiago, o objetivo do grupo é organizar um movimento para efetivar a criação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, pedir apoio à criação do Memorial em Belo Horizonte, que também está em tramitação no Congresso.
O ex-vereador Betinho Duarte ressalta a importância dessa Comissão: “esse momento é histórico para a sociedade, somos os pioneiros na criação do grupo no país e estamos dispostos a mobilizar toda a sociedade civil e governantes”. E completa, “a importância de criar a Comissão se confunde com a luta da própria OAB/MG que sempre lutou pela verdade e pela democracia. O apoio dado pelo presidente Luís Cláudio será essencial em nossa luta”.
Além da criação da Comissão, o presidente Luís Cláudio se prontificou a convidar o ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, a proferir uma palestra sobre o assunto na Seccional mineira.
A primeira reunião da Comissão será realizada ainda nessa semana e os integrantes irão discutir a cartilha sobre a Comissão da Verdade e as formas de mobilização das subseções e seccionais da OAB por todo o país.
Estiveram presentes na reunião além dos já citados acima, o secretário geral da OAB, Sérgio Murilo Braga; o tesoureiro da Ordem, Antônio Fabrício de Matos; a secretária-geral adjunta, Helena Delamonica; o presidente da CAA/MG, Walter Cândido dos Santos; o presidente da Comissão de Cultura, Augusto José Vieira Neto.
17/08/2011 10:56:14
COMEMORAÇÃO DOS 10 ANOS DA COMISSÃO DA ANISTIA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Gabinete do Ministro de Estado
Comissão de Anistia
Ofício nº 556/2011/CA/Presidência
Brasília-DF, 10 de agosto de 2011.
CONVITE
Prezado Senhor Betinho Duarte,
O Ministério da Justiça, por meio de sua Comissão de Anistia, tem a honra de convidar Vossa Senhoria para participar do Ato Solene em Comemoração aos 10 anos da Comissão de Anistia a ser realizado no Salão Negro do Palácio da Justiça Raymundo Faoro, sede deste Ministério, em Brasília, no dia 24 de agosto, às 11 horas.
A atividade faz parte da programação oficial da I Semana da Anistia, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de agosto celebrando os 10 anos de criação da Comissão, os cinqüenta anos da campanha da legalidade e a realização da qüinquagésima edição das Caravanas da Anistia.
O Ato Solene contará com a presença dos Excelentíssimos Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dentre outras autoridades. No período da tarde ocorrerá uma sessão especial de julgamento de requerimentos de anistia política.
A presença de Vossa Senhoria em muito honrará o evento e reafirmará a importância das iniciativas que contribuem com o resgate da memória e das lutas pela redemocratização do nosso país.
Para sua comodidade, deixamos disponível a funcionária Mayane Burti para quaisquer esclarecimentos, por meio do telefone (61) 2025-9254, ou pelo correio eletrônico mayane.barbosa@mj.gov.br. Contando com sua valorosa presença, rogamos a gentileza de confirmar presença até o próximo dia 19 de agosto.
Atenciosamente,
Paulo Abrão Pires Junior
Secretário Nacional de Justiça
Presidente da Comissão de Anistia
Gabinete do Ministro de Estado
Comissão de Anistia
Ofício nº 556/2011/CA/Presidência
Brasília-DF, 10 de agosto de 2011.
CONVITE
Prezado Senhor Betinho Duarte,
O Ministério da Justiça, por meio de sua Comissão de Anistia, tem a honra de convidar Vossa Senhoria para participar do Ato Solene em Comemoração aos 10 anos da Comissão de Anistia a ser realizado no Salão Negro do Palácio da Justiça Raymundo Faoro, sede deste Ministério, em Brasília, no dia 24 de agosto, às 11 horas.
A atividade faz parte da programação oficial da I Semana da Anistia, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de agosto celebrando os 10 anos de criação da Comissão, os cinqüenta anos da campanha da legalidade e a realização da qüinquagésima edição das Caravanas da Anistia.
O Ato Solene contará com a presença dos Excelentíssimos Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dentre outras autoridades. No período da tarde ocorrerá uma sessão especial de julgamento de requerimentos de anistia política.
A presença de Vossa Senhoria em muito honrará o evento e reafirmará a importância das iniciativas que contribuem com o resgate da memória e das lutas pela redemocratização do nosso país.
Para sua comodidade, deixamos disponível a funcionária Mayane Burti para quaisquer esclarecimentos, por meio do telefone (61) 2025-9254, ou pelo correio eletrônico mayane.barbosa@mj.gov.br. Contando com sua valorosa presença, rogamos a gentileza de confirmar presença até o próximo dia 19 de agosto.
Atenciosamente,
Paulo Abrão Pires Junior
Secretário Nacional de Justiça
Presidente da Comissão de Anistia
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
BED PEACE starring John Lennon & Yoko Ono
Yoko Ono divulga documentário gravado com Lennon em 1969
Vídeo registrou o protesto que o casal fez contra a guerra do Vietnã, no qual ficaram deitados em uma cama por uma semana
O documentário Bed Peace, gravado pelo casal John Lennon e Yoko Ono em 1969 foi diponibilizado pela viúva do cantor em seu site oficial neste fim de semana. Para quem não se lembra, o filme foi produzido em protesto contra a guerra do Vietnã e foi lançado em VHS, porém acabou caindo no esquecimento.
O documentário registrou a lua de mel de Yoko e Lennon, momento em que eles protestaram contra os conflitos ficando deitados em uma cama por uma semana inteira. Na ocasião eles receberam visitas de pessoas como o ativista Dick Gregory, o assessor dos Beatles, Derek Taylor e o porta-voz do LSD, Timothy Leary.
Primeiramente a artista iria remover a publicação depois de 48 horas. Devido a pedidos de fãs, o prazo foi estendido até 21 de agosto. Junto ao vídeo, Yoko divulgou também uma nota, falando sobre a importância do filme no contexto atual:
“Caros amigos, em 1969, John e eu éramos muito ingênuos por pensar que fazer o Bed-In ajudaria a mudar o mundo. Bem, talvez nós pudéssemos mesmo. Mas, na época, nós não sabíamos. Mas foi bom que tenhamos filmado. O filme é poderoso agora. O que dissemos na época poderia ser dito agora.
Na verdade, há algumas coisas que nós dissemos nesse filme que podem servir de encorajamento e inspiração para os ativistas de hoje. Boa sorte pra todos nós. Vamos lembrar que a GUERRA ACABA se nós quisermos. É nossa responsabilidade e de ninguém mais. John gostaria de ter dito isso.”
VIDA LOUCA ESTA DE PEDRO LOBO
Pedro Lobo: 80 anos de um verdadeiro herói brasileiro
Conheça a trajetória desse homem que ousou enfrentar à bala os militares durante os Anos de chumbo.
Pedro Lobo de Oliveira nasce em 28 de julho de 1931, nos cafundós da Serra do Mar paulista. Para fugir da miséria que assola a região, no início dos anos 50 ele abandona seu torrão natal em busca de um eldorado chamado Mato Grosso. No caminho, quase se torna escravo branco em uma plantação de bananas, trabalha como servente de pedreiro, metalúrgico, e acaba engajado na Força Pública, hoje Polícia Militar.
Contagiado pela luta ideológica que divide o mundo durante a Guerra Fria, o então sargento Lobo se converte ao socialismo e passa a militar no Partidão de Luís Carlos Prestes. Considerando-se um operário fardado — cuja ferramenta de trabalho é um fuzil —, ele adere à tese da luta armada e vai às últimas consequências quando ajuda
a fundar uma das mais ativas organizações guerrilheiras que atuam no país durante os Anos de Chumbo.
Companheiro do lendário Capitão Carlos Lamarca e seguidor ardoroso das teorias foquistas de Ernesto Che Guevara, Pedro se converte em Getúlio ou Gegê, para mergulhar de cabeça na luta contra a ditadura implantada a ferro e fogo em março de 1964.
Odiado pelos militares por sua obstinação e bravura, o militante da Vanguarda Popular Revolucionária é preso e massacrado nos cárceres da repressão política. Solto durante as negociações pela libertação de um embaixador sequestrado, ele passará pela Argélia, Cuba, Chile e Argentina, antes de se fixar na Alemanha Oriental, do outro lado do que o Ocidente convencionou chamar de A Cortina de Ferro.
Sobrevivente de uma guerra sem regras, Pedro volta ao Brasil com a anistia e é reintegrado à Polícia Militar como se sua vida encerrasse um caprichoso ciclo. Hoje capitão, ele se mantém a postos para retomar a luta de resistência caso a democracia seja novamente ameaçada. Obstinação, desprendimento, aventura e muita emoção não faltam na memórias desse brasileiro de vida ímpar.
E a vida desse herói está registrada no livro Pedro e os Lobos - Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano.
Conheça a trajetória desse homem que ousou enfrentar à bala os militares durante os Anos de chumbo.
Pedro Lobo de Oliveira nasce em 28 de julho de 1931, nos cafundós da Serra do Mar paulista. Para fugir da miséria que assola a região, no início dos anos 50 ele abandona seu torrão natal em busca de um eldorado chamado Mato Grosso. No caminho, quase se torna escravo branco em uma plantação de bananas, trabalha como servente de pedreiro, metalúrgico, e acaba engajado na Força Pública, hoje Polícia Militar.
Contagiado pela luta ideológica que divide o mundo durante a Guerra Fria, o então sargento Lobo se converte ao socialismo e passa a militar no Partidão de Luís Carlos Prestes. Considerando-se um operário fardado — cuja ferramenta de trabalho é um fuzil —, ele adere à tese da luta armada e vai às últimas consequências quando ajuda
a fundar uma das mais ativas organizações guerrilheiras que atuam no país durante os Anos de Chumbo.
Companheiro do lendário Capitão Carlos Lamarca e seguidor ardoroso das teorias foquistas de Ernesto Che Guevara, Pedro se converte em Getúlio ou Gegê, para mergulhar de cabeça na luta contra a ditadura implantada a ferro e fogo em março de 1964.
Odiado pelos militares por sua obstinação e bravura, o militante da Vanguarda Popular Revolucionária é preso e massacrado nos cárceres da repressão política. Solto durante as negociações pela libertação de um embaixador sequestrado, ele passará pela Argélia, Cuba, Chile e Argentina, antes de se fixar na Alemanha Oriental, do outro lado do que o Ocidente convencionou chamar de A Cortina de Ferro.
Sobrevivente de uma guerra sem regras, Pedro volta ao Brasil com a anistia e é reintegrado à Polícia Militar como se sua vida encerrasse um caprichoso ciclo. Hoje capitão, ele se mantém a postos para retomar a luta de resistência caso a democracia seja novamente ameaçada. Obstinação, desprendimento, aventura e muita emoção não faltam na memórias desse brasileiro de vida ímpar.
E a vida desse herói está registrada no livro Pedro e os Lobos - Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano.
sábado, 13 de agosto de 2011
As próprias pedras gritarão
Este é o depoimento de um preso político, frei Tito de Alencar Lima, 24 anos. Dominicano. (redigido por ele mesmo na prisão). Este depoimento escrito em fevereiro de 1970 saiu clandestinamente da prisão e foi publicado, entre outros, pelas revistas Look e Europeo.Fui levado do presídio Tiradentes para a "Operação Bandeirantes", OB (Polícia do Exército), no dia 17 de fevereiro de 1970, 3ª feira, às 14 horas. O capitão Maurício veio buscar-me em companhia de dois policiais e disse: "Você agora vai conhecer a sucursal do inferno". Algemaram minhas mãos, jogaram me no porta-malas da perua. No caminho as torturas tiveram início: cutiladas na cabeça e no pescoço, apontavam-me seus revólveres.Preso desde novembro de 1969, eu já havia sido torturado no DOPS. Em dezembro, tive minha prisão preventiva decretada pela 2ª auditoria de guerra da 2ª região militar. Fiquei sob responsabilidade do juiz auditor dr Nelson Guimarães. Soube posteriormente que este juiz autorizara minha ida para a OB sob “garantias de integridade física”.Ao chegar à OB fui conduzido à sala de interrogatórios. A equipe do capitão Maurício passou a acarear-me com duas pessoas. O assunto era o Congresso da UNE em Ibiúna, em outubro de 1968. Queriam que eu esclarecesse fatos ocorridos naquela época. Apesar de declarar nada saber, insistiam para que eu “confessasse”. Pouco depois levaram me para o “pau-de-arara”. Dependurado nu, com mãos e pés amarrados, recebi choques elétricos, de pilha seca, nos tendões dos pés e na cabeça. Eram seis os torturadores, comandados pelo capitão Maurício. Davam-me "telefones" (tapas nos ouvidos) e berravam impropérios. Isto durou cerca de uma hora. Descansei quinze minutos ao ser retirado do "pau-de-arara". O interrogatório reiniciou. As mesmas perguntas, sob cutiladas e ameaças. Quanto mais eu negava mais fortes as pancadas. A tortura, alternada de perguntas, prosseguiu até às 20 horas. Ao sair da sala, tinha o corpo marcado de hematomas, o rosto inchado, a cabeça pe sada e dolorida. Um soldado, carregou-me até a cela 3, onde fiquei sozinho. Era uma cela de 3 x 2,5 m, cheia de pulgas e baratas. Terrível mau cheiro, sem colchão e cobertor. Dormi de barriga vazia sobre o cimento frio e sujo.Na quarta-feira fui acordado às 8 h. Subi para a sala de interrogatórios onde a equipe do capitão Homero esperava-me. Repetiram as mesmas perguntas do dia anterior. A cada resposta negativa, eu recebia cutiladas na cabeça, nos braços e no peito. Nesse ritmo prosseguiram até o início da noite, quando serviram a primeira refeição naquelas 48 horas: arroz, feijão e um pedaço de carne. Um preso, na cela ao lado da minha, ofereceu-me copo, água e cobertor. Fui dormir com a advertência do capitão Homero de que no dia seguinte enfrentaria a “equipe da pesada”.Na quinta-feira três policiais acordaram-me à mesma hora do dia anterior. De estômago vazio, fui para a sala de interrogatórios. Um capitão cercado por sua equipe, voltou às mesmas perguntas. "Vai ter que falar senão só sai morto daqui", gritou. Logo depois vi que isto não era apenas uma ameaça, era quase uma certeza. Sentaram-me na "cadeira do dragão" (com chapas metálicas e fios), descarregaram choques nas mãos, nos pés, nos ouvidos e na cabeça. Dois fios foram amarrados em minhas mãos e um na orelha esquerda. A cada descarga, eu estremecia todo, como se o organismo fosse se decompor. Da sessão de choques passaram-me ao "pau-de-arara". Mais choques, pauladas no peito e nas pernas a cada vez que elas se curvavam para aliviar a dor. Uma hora depois, com o corpo todo ferido e sangrando, desmaiei. Fui desamarrado e reanimado. Conduziram-me a outra sala dizendo que passariam a carga elétrica para 230 volts a fim de que eu falasse "antes de morrer". Não cheg aram a fazê-lo. Voltaram às perguntas, batiam em minhas mãos com palmatória. As mãos ficaram roxas e inchadas, a ponto de não ser possível fechá-las. Novas pauladas. Era impossível saber qual parte do corpo doía mais; tudo parecia massacrado. Mesmo que quisesse, não poderia responder às perguntas: o raciocínio não se ordenava mais, restava apenas o desejo de perder novamente os sentidos. Isto durou até às 10 h quando chegou o capitão Albernaz."Nosso assunto agora é especial", disse o capitão Albernaz, ligou os fios em meus membros. "Quando venho para a OB - disse - deixo o coração em casa. Tenho verdadeiro pavor a padre e para matar terrorista nada me impede... Guerra é guerra, ou se mata ou se morre. Você deve conhecer fulano e sicrano (citou os nomes de dois presos políticos que foram barbaramente torturados por ele), darei a você o mesmo tratamento que dei a eles: choques o dia todo. Todo "não" que você disser, maior a descarga elétrica que vai receber". Eram três militares na sala. Um deles gritou: "Quero nomes e aparelhos (endereços de pessoas)". Quando respondi: "não sei" recebi uma descarga elétrica tão forte, diretamente ligada à tomada, que houve um descontrole em minhas funções fisiológicas. O capitão Albernaz queria que eu dissesse onde estava o Frei Ratton. Como não soubesse, levei choques durante quarenta minutos.Queria os nomes de outros padres de São Paulo, Rio e Belo Horizonte "metidos na subversão". Partiu para a ofensa moral: "Quais os padres que têm amantes? Por que a Igreja não expulsou vocês? Quem são os outros padres terroristas?". Declarou que o interrogatório dos dominicanos feito pele DEOPS tinha sido "a toque de caixa" e que todos os religiosos presos iriam à OB prestar novos depoimentos. Receberiam também o mesmo "tratamento". Disse que a "Igreja é corrupta, pratica agiotagem, o Vaticano é dono das maiores empresas do mundo". Diante de minhas negativas, aplicavam-me choques, davam-me socos, pontapés e pauladas nas costas. À certa altura, o capitão Albernaz mandou que eu abrisse a boca "para receber a hóstia sagrada". Introduziu um fio elétrico. Fiquei com a boca toda inchada, sem poder falar direito. Gritaram difamações contra a Igreja, berraram que os padres são homossexuais porque não se casam. Às 14 horas encerraram a sessão. Carregado, voltei à cela onde fiquei estirado no chão.Às 18 horas serviram jantar, mas não consegui comer. Minha boca era uma ferida só. Pouco depois levaram-me para uma "explicação". Encontrei a mesma equipe do capitão Albernaz. Voltaram às mesmas perguntas. Repetiram as difamações. Disse que, em vista de minha resistência à tortura, concluíram que eu era um guerrilheiro e devia estar escondendo minha participação em assaltos a bancos. O "interrogatório" reiniciou para que eu confessasse os assaltos: choques, pontapés nos órgãos genitais e no estomago palmatórias, pontas de cigarro no meu corpo. Durante cinco horas apanhei como um cachorro. No fim, fizeram-me passar pelo "corredor polonês". Avisaram que aquilo era a estréia do que iria ocorrer com os outros dominicanos. Quiseram me deixar dependurado toda a noite no "pau-de-arara". Mas o capitão Albernaz objetou: "não é preciso, vamos ficar com ele aqui mais dias. Se não falar, será quebrado por dentro, pois sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis". "Se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia".Na cela eu não conseguia dormir. A dor crescia a cada momento. Sentia a cabeça dez vezes maior do que o corpo. Angustiava-me a possibilidade de os outros padres sofrerem o mesmo. Era preciso pôr um fim àquilo. Sentia que não iria aguentar mais o sofrimento prolongado. Só havia uma solução: matar-me.Na cela cheia de lixo, encontrei uma lata vazia. Comecei a amolar sua ponta no cimento. O preso ao lado pressentiu minha decisão e pediu que eu me acalmasse. Havia sofrido mais do que eu (teve os testículos esmagados) e não chegara ao desespero. Mas no meu caso, tratava-se de impedir que outros viessem a ser torturados e de denunciar à opinião pública e à Igreja o que se passa nos cárceres brasileiros. Só com o sacrifício de minha vida isto seria possível, pensei. Como havia um Novo Testamento na cela, li a Paixão segundo São Mateus. O Pai havia exigido o sacrifício do Filho como prova de amor aos homens. Desmaiei envolto em dor e febre.Na sexta-feira fui acordado por um policial. Havia ao meu lado um novo preso: um rapaz português que chorava pelas torturas sofridas durante a madrugada. O policial advertiu-me: "o senhor tem hoje e amanhã para decidir falar. Senão a turma da pesada repete o mesmo pau. Já perderam a paciência e estão dispostos a matá-lo aos pouquinhos". Voltei aos meus pensamentos da noite anterior. Nos pulsos, eu havia marcado o lugar dos cortes. Continuei amolando a lata. Ao meio-dia tiraram-me para fazer a barba. Disseram que eu iria para a penitenciária. Raspei mal a barba, voltei à cela. Passou um soldado. Pedi que me emprestasse a "gillete" para terminar a barba. O português dormia. Tomei a gillete. Enfiei-a com força na dobra interna do cotovelo, no braço esquerdo. O corte fundo atingiu a artéria. O jato de sangue manchou o chão da cela. Aproximei-me da privada, apertei o braço para que o sangue jorrasse mais depressa. Mais tarde recobrei os sentidos num leito do pron to-socorro do Hospital das Clínicas. No mesmo dia transferiram-me para um leito do Hospital Militar. O Exército temia a repercussão, não avisaram a ninguém do que ocorrera comigo. No corredor do Hospital Militar, o capitão Maurício dizia desesperado aos médicos: "Doutor, ele não pode morrer de jeito nenhum. Temos que fazer tudo, senão estamos perdidos". No meu quarto a OB deixou seis soldados de guarda.No sábado teve início a tortura psicológica. Diziam: "A situação agora vai piorar para você, que é um padre suicida e terrorista. A Igreja vai expulsá-lo". Não deixavam que eu repousasse. Falavam o tempo todo, jogavam, contavam-me estranhas histórias. Percebi logo que, a fim de fugirem à responsabilidade de meu ato e o justificarem, queriam que eu enlouquecesse.Na segunda noite recebi a visita do juiz auditor acompanhado de um padre do Convento e um bispo auxiliar de São Paulo. Haviam sido avisados pelos presos políticos do presídio Tiradentes. Um médico do hospital examinou-me à frente deles mostrando os hematomas e cicatrizes, os pontos recebidos no hospital das Clínicas e as marcas de tortura. O juiz declarou que aquilo era "uma estupidez" e que iria apurar responsabilidades. Pedi a ele garantias de vida e que eu não voltaria à OB, o que prometeu.De fato fui bem tratado pelos militares do Hospital Militar, exceto os da OB que montavam guarda em meu quarto. As irmãs vicentinas deram-me toda a assistência necessária Mas não se cumpriu a promessa do juiz. Na sexta-feira, dia 27, fui levado de manhã para a OB. Fiquei numa cela até o fim da tarde sem comer. Sentia-me tonto e fraco, pois havia perdido muito sangue e os ferimentos começavam a cicatrizar-se. À noite entregaram-me de volta ao Presídio Tiradentes.É preciso dizer que o que ocorreu comigo não é exceção, é regra. Raros os presos políticos brasileiros que não sofreram torturas. Muitos, como Schael Schneiber e Virgílio Gomes da Silva, morreram na sala de torturas. Outros ficaram surdos, estéreis ou com outros defeitos físicos. A esperança desses presos coloca-se na Igreja, única instituição brasileira fora do controle estatal-militar. Sua missão é: defender e promover a dignidade humana. Onde houver um homem sofrendo, é o Mestre que sofre. É hora de nossos bispos dizerem um BASTA às torturas e injustiças promovidas pelo regime, antes que seja tarde.A Igreja não pode omitir-se. As provas das torturas trazemos no corpo. Se a Igreja não se manifestar contra essa situação, quem o fará? Ou seria necessário que eu morresse para que alguma atitude fosse tomada? Num momento como este o silêncio é omissão. Se falar é um risco, é muito mais um testemunho. A Igreja existe como sinal e sacramento da justiça de Deus no mundo"Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio. Fomos maltratados desmedidamente, além das nossas forças, a ponto de termos perdido a esperança de sairmos com vida. Sentíamos dentro de nós mesmos a sentença de morte: deu-se isso para que saibamos pôr a nossa confiança, não em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos" (2Cor, 8-9).Faço esta denúncia e este apelo a fim de que se evite amanhã a triste notícia de mais um morto pelas torturas.Frei Tito de Alencar Lima, OP
Fevereiro de 1970
Fonte:
http://www.torturanuncamais-sp.org/site/index.php/historia-e-memoria/270-relato-da-tortura-de-frei-tito
Fevereiro de 1970
Fonte:
http://www.torturanuncamais-sp.org/site/index.php/historia-e-memoria/270-relato-da-tortura-de-frei-tito
domingo, 7 de agosto de 2011
sábado, 6 de agosto de 2011
Despejo forçado em Itabira, MG, Brasil: terrorismo do Estado!
Qui, 04 de Agosto de 2011 15:56
Despejo forçado em Itabira, MG, Brasil: terrorismo do Estado!
Gilvander Luís Moreira[1]
Nos dias 01 e 02 de agosto de 2011, em Itabira, MG, Brasil, no bairro Drummond, 300 famílias sem teto que ocupavam, há 11 anos, uma área abandonada, que não cumpria a função social, foram vítimas de um despejo forçado.
A família Rosa, que ganhou na (in)justiça a reintegração de posse, deve à prefeitura de Itabira mais de 1 milhão de reais, em IPTU, dívida não executada por nenhum prefeito de Itabira nos últimos 47 anos.
Dezenas de policiais de MG ocuparam a comunidade Drummond, por vários dias, fortemente armados, antes do dia marcado para o despejo (01/08/2011) e pressionaram as 300 famílias a sair. “Se vocês não saírem antes do dia 1º de agosto, sairão sob a mira das armas”, era o recado.
O Governo de Minas (PSDB + DEM), o Tribunal de Justiça e o juiz da 1ª Vara Cível de Itabira, André Luiz Pimenta e a família Rosa não apresentaram uma alternativa de moradia digna para as 296 famílias com renda de 0 a 3 salários – segundo cadastro da prefeitura.
Dia 02/08/2011, último dia do despejo forçado, centenas de policiais, fortemente armados, com dezenas de soldados da cavalaria, com dois helicópteros e vários tratores foi consumada uma verdadeira sexta-feira da paixão em Itabira: o despejo forçado de 300 famílias sem teto.
O prefeito de Itabira, Sr. João Izael (do PR), montou um “Campo de refugiados” – “campo de concentração de guerra” -, do outro lado da cidade e chamou de “abrigo” cubículos de madeirite, de 3 X 4 metros, um estábulo que não serve nem para animais irracionais. Muitas famílias ao serem jogadas nos cubículos, chorando, clamaram: “Não somos cachorros para viver num caixote desses, não.” Pouquíssimos banheiros para 50 famílias...
Dezenas de caminhões e caçambas, escoltados pela polícia, levaram os pertences das 300 famílias de Drummond. Para onde? Não se sabe ao certo. Nos cubículos do “abrigo” não dá para as pessoas dormirem, quanto mais para colocar os móveis e objetos das famílias.
O déficit habitacional em Minas Gerais está acima de 1 milhão de moradias. O (des)governo de Minas (PSDB + DEM), em 12 anos, construiu apenas 28 mil moradias no estado, nenhuma na capital. Mesmo diante deste cenário, em Itabira, um massacre branco ocorreu: 300 casas de alvenaria, construídas com muito suor e trabalho árduo, foram destruídas com vários tratores e 300 famílias jogadas nas agruras da “rua”. Indenizarão as famílias pelos prejuízos sofridos? Óbvio que não. O povo deve ter investido na construção das 300 casas de alvenaria mais de R$4.000.000,00. Puderam levar só algumas portas e janelas. Isso enquanto há 9,8 milhões de pessoas sem casa no Brasil. É a opressão da classe dominante sobre a classe empobrecida. É o “projeto de políticas públicas” que um Estado capitalista, com “políticos profissionais”, tem para os pobres. Diante deste quadro, como calar? Como obedecer? Como não ouvir o grito de dor, o clamor...?
Numa postura de Pilatos, oficiais de justiça, policiais, funcionários da prefeitura de Itabira, o juiz, desembargadores e .... alegavam: “estamos cumprindo ordens.” A esses recordo: ninguém está obrigado a cumprir leis e ordens injustas. A lei maior do Deus da vida diz: não matarás! nem sob o fogo das armas e nem a conta-gota. A Carta magna do Estado brasileiro, logo no primeiro artigo, assegura como princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana. Todas as demais leis, ordens, ações públicas ou privadas só devem ser respeitadas e cumpridas se respeitaram este princípio, caso contrário, trata-se de leis e ações imorais e inconstitucionais.
O Ministério Público Federal encaminhou parecer ao Governador Anastasia, dizendo: “Preocupa-nos o fato de que os despejos forçados, por si só, possuam efeitos profundos e duradouros na vida das famílias atingidas, sendo incompatíveis com o cumprimento de diversos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, afirmados em nossa Constituição Federal de 1988 e na legislação interna em matéria de proteção à dignidade da pessoa humana e do direito humano à moradia.”
Nunca vi tanta desolação, tanta dor e tanta lágrima! Crianças, mulheres, homens, doentes e idosos com voz trêmula desabafavam: “Isso é um terror! Estão nos apunhalando. Querem nos matar aos poucos.” Várias pessoas foram hospitalizadas. Mulheres grávidas que, sob o choque do despejo, estão com a gravidez em risco.
As bananeiras, as mangueiras, as hortas, os jardins, as casas, os sonhos... Tudo foi arrancado para ceder lugar a um bairro nobre – condomínio de luxo – que a Família Rosa fará na área. Com essa ação injusta e covarde, esse território ficou amaldiçoado.
Para as 300 famílias que, com hortas, bananal e muita criatividade, conquistavam sua alimentação, agora, despejadas, resta a fome, a humilhação, o descaso, a dor... e se levantar e continuar lutando.
Centenas de crianças foram jogadas em cubículos de madeirite, de 3 X 4 metros, sob um calor federal. Cadê o respeito à dignidade humana? É assim que se cria “marginais”: marginaliza-se para depois dizer em alto e bom som, em todos os meios de comunicação: “são marginais”. Mas quem os marginalizou? Aliás, por que a Imprensa de Minas não esteve no local para noticiar o que aconteceu? Está “censurada” pelo capital. Os direitos de centenas de crianças, assegurados no ECA[2], foram pisados. Jogadas em um Campo de Refugiados, do outro lado da cidade de Itabira, não poderão continuar na escola. Triste de um país que humilha suas crianças! Por que o juiz e o TJMG não puderam esperar construir moradias dignas para as famílias?
Mas, despejo forçado, injustiça, opressão e humilhação não são, não podem ser, não serão as últimas palavras! O povo seguirá lutando em Itabira, em Minas Gerais, em todo canto do Brasil e do mundo. As últimas palavras hão de ser Liberdade, Justiça social, dignidade humana e planetária. Mesmo com lágrimas, nossos braços se erguerão e do nosso peito sempre um forte grito, rasgando o céu e o chão, ecoará: PÁTRIA LIVRE! VENCEREMOS! Um domingo de ressurreição brotará da luta dos justos e dos pobres.
[1] Frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA -, em Belo Horizonte – e no Seminário da Arquidiocese de Mariana, MG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira
[2] Estatuto da Criança e do Adolescente.
Para se ter uma noção do clima do despejo de 3.000 famílias em Uberlândia no início de agosto assista o video, clicando no link, abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=133O6jysalA
Despejo forçado em Itabira, MG, Brasil: terrorismo do Estado!
Gilvander Luís Moreira[1]
Nos dias 01 e 02 de agosto de 2011, em Itabira, MG, Brasil, no bairro Drummond, 300 famílias sem teto que ocupavam, há 11 anos, uma área abandonada, que não cumpria a função social, foram vítimas de um despejo forçado.
A família Rosa, que ganhou na (in)justiça a reintegração de posse, deve à prefeitura de Itabira mais de 1 milhão de reais, em IPTU, dívida não executada por nenhum prefeito de Itabira nos últimos 47 anos.
Dezenas de policiais de MG ocuparam a comunidade Drummond, por vários dias, fortemente armados, antes do dia marcado para o despejo (01/08/2011) e pressionaram as 300 famílias a sair. “Se vocês não saírem antes do dia 1º de agosto, sairão sob a mira das armas”, era o recado.
O Governo de Minas (PSDB + DEM), o Tribunal de Justiça e o juiz da 1ª Vara Cível de Itabira, André Luiz Pimenta e a família Rosa não apresentaram uma alternativa de moradia digna para as 296 famílias com renda de 0 a 3 salários – segundo cadastro da prefeitura.
Dia 02/08/2011, último dia do despejo forçado, centenas de policiais, fortemente armados, com dezenas de soldados da cavalaria, com dois helicópteros e vários tratores foi consumada uma verdadeira sexta-feira da paixão em Itabira: o despejo forçado de 300 famílias sem teto.
O prefeito de Itabira, Sr. João Izael (do PR), montou um “Campo de refugiados” – “campo de concentração de guerra” -, do outro lado da cidade e chamou de “abrigo” cubículos de madeirite, de 3 X 4 metros, um estábulo que não serve nem para animais irracionais. Muitas famílias ao serem jogadas nos cubículos, chorando, clamaram: “Não somos cachorros para viver num caixote desses, não.” Pouquíssimos banheiros para 50 famílias...
Dezenas de caminhões e caçambas, escoltados pela polícia, levaram os pertences das 300 famílias de Drummond. Para onde? Não se sabe ao certo. Nos cubículos do “abrigo” não dá para as pessoas dormirem, quanto mais para colocar os móveis e objetos das famílias.
O déficit habitacional em Minas Gerais está acima de 1 milhão de moradias. O (des)governo de Minas (PSDB + DEM), em 12 anos, construiu apenas 28 mil moradias no estado, nenhuma na capital. Mesmo diante deste cenário, em Itabira, um massacre branco ocorreu: 300 casas de alvenaria, construídas com muito suor e trabalho árduo, foram destruídas com vários tratores e 300 famílias jogadas nas agruras da “rua”. Indenizarão as famílias pelos prejuízos sofridos? Óbvio que não. O povo deve ter investido na construção das 300 casas de alvenaria mais de R$4.000.000,00. Puderam levar só algumas portas e janelas. Isso enquanto há 9,8 milhões de pessoas sem casa no Brasil. É a opressão da classe dominante sobre a classe empobrecida. É o “projeto de políticas públicas” que um Estado capitalista, com “políticos profissionais”, tem para os pobres. Diante deste quadro, como calar? Como obedecer? Como não ouvir o grito de dor, o clamor...?
Numa postura de Pilatos, oficiais de justiça, policiais, funcionários da prefeitura de Itabira, o juiz, desembargadores e .... alegavam: “estamos cumprindo ordens.” A esses recordo: ninguém está obrigado a cumprir leis e ordens injustas. A lei maior do Deus da vida diz: não matarás! nem sob o fogo das armas e nem a conta-gota. A Carta magna do Estado brasileiro, logo no primeiro artigo, assegura como princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana. Todas as demais leis, ordens, ações públicas ou privadas só devem ser respeitadas e cumpridas se respeitaram este princípio, caso contrário, trata-se de leis e ações imorais e inconstitucionais.
O Ministério Público Federal encaminhou parecer ao Governador Anastasia, dizendo: “Preocupa-nos o fato de que os despejos forçados, por si só, possuam efeitos profundos e duradouros na vida das famílias atingidas, sendo incompatíveis com o cumprimento de diversos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, afirmados em nossa Constituição Federal de 1988 e na legislação interna em matéria de proteção à dignidade da pessoa humana e do direito humano à moradia.”
Nunca vi tanta desolação, tanta dor e tanta lágrima! Crianças, mulheres, homens, doentes e idosos com voz trêmula desabafavam: “Isso é um terror! Estão nos apunhalando. Querem nos matar aos poucos.” Várias pessoas foram hospitalizadas. Mulheres grávidas que, sob o choque do despejo, estão com a gravidez em risco.
As bananeiras, as mangueiras, as hortas, os jardins, as casas, os sonhos... Tudo foi arrancado para ceder lugar a um bairro nobre – condomínio de luxo – que a Família Rosa fará na área. Com essa ação injusta e covarde, esse território ficou amaldiçoado.
Para as 300 famílias que, com hortas, bananal e muita criatividade, conquistavam sua alimentação, agora, despejadas, resta a fome, a humilhação, o descaso, a dor... e se levantar e continuar lutando.
Centenas de crianças foram jogadas em cubículos de madeirite, de 3 X 4 metros, sob um calor federal. Cadê o respeito à dignidade humana? É assim que se cria “marginais”: marginaliza-se para depois dizer em alto e bom som, em todos os meios de comunicação: “são marginais”. Mas quem os marginalizou? Aliás, por que a Imprensa de Minas não esteve no local para noticiar o que aconteceu? Está “censurada” pelo capital. Os direitos de centenas de crianças, assegurados no ECA[2], foram pisados. Jogadas em um Campo de Refugiados, do outro lado da cidade de Itabira, não poderão continuar na escola. Triste de um país que humilha suas crianças! Por que o juiz e o TJMG não puderam esperar construir moradias dignas para as famílias?
Mas, despejo forçado, injustiça, opressão e humilhação não são, não podem ser, não serão as últimas palavras! O povo seguirá lutando em Itabira, em Minas Gerais, em todo canto do Brasil e do mundo. As últimas palavras hão de ser Liberdade, Justiça social, dignidade humana e planetária. Mesmo com lágrimas, nossos braços se erguerão e do nosso peito sempre um forte grito, rasgando o céu e o chão, ecoará: PÁTRIA LIVRE! VENCEREMOS! Um domingo de ressurreição brotará da luta dos justos e dos pobres.
[1] Frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor do Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA -, em Belo Horizonte – e no Seminário da Arquidiocese de Mariana, MG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: gilvander.moreira
[2] Estatuto da Criança e do Adolescente.
Para se ter uma noção do clima do despejo de 3.000 famílias em Uberlândia no início de agosto assista o video, clicando no link, abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=133O6jysalA
6 DE AGOSTO DE 1945 -OS EUA LANÇAM BOMBA ATÔMICA SOBRE HIROSHIMA
O dia 6 de Agosto de 1945 amanheceu claro e quente em Hiroshima, sétima maior cidade do Japão, com 343 mil habitantes e uma guarnição militar de 150 mil soldados. Hiroshima fica junto ao delta do rio Ota, que desemboca no mar Interior. Naquela Segunda-feira, apesar da guerra travada nas ilhas do oceano Pacífico contra os Estados Unidos da América, a vida corria como sempre: os comerciantes já tinham aberto as lojas, os estudantes estavam nas salas de aula, os escritórios e as fábricas estavam a pleno vapor.
Pouco antes das 8 horas da manhã, toca a sirene avisando sobre a presença de aviação inimiga. O alerta era tão corriqueiro que pouca gente correu para os abrigos antiaéreos. A sirene parou. Às 8:15h, bem alto no céu, surge uma faísca branco-azulada que se transforma num arco rosado. Em décimos de segundo, Hiroshima (Ilha Larga) fica branca. Prédios e casas levitam. Pessoas e animais evaporam; telhados e tijolos derretem. Uma onda de calor de 5,5 milhões graus Celsius e ventos de 385 Km/h arrasam a cidade.
Vinda do céu, a punição à cidade japonesa era a primeira bomba atómica usada para fins militares, lançada por um bombardeiro B-29, a Superfortaleza Voadora, dos Estados Unidos. Nem mesmo a tripulação do B-29 - apelidado de Enola Gay - sabia que tipo de bomba transportava. Inocentemente chamada Little Boy, a bomba foi lançada a 10 mil metros de altura, tendo descido de pára-quedas e explodindo a 650 metros do solo sobre o centro da cidade. Tudo que se encontrava a 500 metros do epicentro da explosão foi imediatamente incinerado. Segundos depois, a onda de choque atingia um raio de mais de 7 quilómetros. Menos de uma hora depois da explosão, 78 mil pessoas tinham morrido e 10 mil simplesmente evaporaram. Foram 37 mil feridos e milhares de pessoas foram morrendo nos dias, meses e anos seguintes. Durante muitos anos nasceram crianças deficientes devido à radiação a que as mães tinham sido expostas. Na cidade arrasada, a sombra de pessoas, de plantas, pontes ficou impressa em negativo - a marca da sombra atómica.
A explosão libertou uma quantidade absurda de radiação e o mundo conheceu pela primeira vez a imagem do temido cogumelo atómico. Ao todo, morreram cerca de 300 mil pessoas em consequência directa do ataque. Quem não morreu queimado, esmagado ou pulverizado sofreu mais tarde com os efeitos da radiação - em geral, morte por cancro.
A vez de Nagasaki
A intenção do governo dos Estados Unidos era de que o Japão se rendesse. Mesmo com a destruição de Hiroshima, o governo do imperador Hirohito não apresentou a rendição. Três dias depois, em 9 de Agosto, a operação militar-científica repetiu-se em Nagasaki, na ilha de Kyushu, mais ao sul no Japão. O B-29 Grand Artist lança a bomba número 2, Fat Boy, às 11:02h. Dos 250 mil habitantes, 36 mil morreram nesse dia. A carnificina não foi maior porque o terreno montanhoso protegeu o centro da cidade. Quatro meses depois, porém, as mortes na cidade chegavam a 80 mil. Nagasaki, na verdade, era o objectivo secundário. Foi atingida porque as condições meteorológicas de Kokura, o alvo principal, impediam que os efeitos destrutivos da bomba fossem os planeados. Em 1950, o census nacional do Japão indicou que havia no país 280 mil pessoas contaminadas pela radiação das bombas de Hiroshima e Nagasaki.
Rendição incondicional
Historiadores e analistas militares consideram o ataque atómico às duas cidades japonesas totalmente desnecessário, além de desumano. O mundo inteiro já sabia que o Japão estava derrotado. Os Estados Unidos fechavam o cerco sobre o arquipélago japonês depois da conquista de Iwo Jima e Okinawa, ilhas próximas do Japão. A rendição incondicional do Japão ocorreu no dia 14 de Agosto, mas a Segunda Guerra Mundial só seria encerrada oficialmente em 2 de Setembro de 1945, um Domingo, assim que os representantes japoneses assinaram a declaração, a bordo do couraçado norte-americano Missouri.
Pouco antes das 8 horas da manhã, toca a sirene avisando sobre a presença de aviação inimiga. O alerta era tão corriqueiro que pouca gente correu para os abrigos antiaéreos. A sirene parou. Às 8:15h, bem alto no céu, surge uma faísca branco-azulada que se transforma num arco rosado. Em décimos de segundo, Hiroshima (Ilha Larga) fica branca. Prédios e casas levitam. Pessoas e animais evaporam; telhados e tijolos derretem. Uma onda de calor de 5,5 milhões graus Celsius e ventos de 385 Km/h arrasam a cidade.
Vinda do céu, a punição à cidade japonesa era a primeira bomba atómica usada para fins militares, lançada por um bombardeiro B-29, a Superfortaleza Voadora, dos Estados Unidos. Nem mesmo a tripulação do B-29 - apelidado de Enola Gay - sabia que tipo de bomba transportava. Inocentemente chamada Little Boy, a bomba foi lançada a 10 mil metros de altura, tendo descido de pára-quedas e explodindo a 650 metros do solo sobre o centro da cidade. Tudo que se encontrava a 500 metros do epicentro da explosão foi imediatamente incinerado. Segundos depois, a onda de choque atingia um raio de mais de 7 quilómetros. Menos de uma hora depois da explosão, 78 mil pessoas tinham morrido e 10 mil simplesmente evaporaram. Foram 37 mil feridos e milhares de pessoas foram morrendo nos dias, meses e anos seguintes. Durante muitos anos nasceram crianças deficientes devido à radiação a que as mães tinham sido expostas. Na cidade arrasada, a sombra de pessoas, de plantas, pontes ficou impressa em negativo - a marca da sombra atómica.
A explosão libertou uma quantidade absurda de radiação e o mundo conheceu pela primeira vez a imagem do temido cogumelo atómico. Ao todo, morreram cerca de 300 mil pessoas em consequência directa do ataque. Quem não morreu queimado, esmagado ou pulverizado sofreu mais tarde com os efeitos da radiação - em geral, morte por cancro.
A vez de Nagasaki
A intenção do governo dos Estados Unidos era de que o Japão se rendesse. Mesmo com a destruição de Hiroshima, o governo do imperador Hirohito não apresentou a rendição. Três dias depois, em 9 de Agosto, a operação militar-científica repetiu-se em Nagasaki, na ilha de Kyushu, mais ao sul no Japão. O B-29 Grand Artist lança a bomba número 2, Fat Boy, às 11:02h. Dos 250 mil habitantes, 36 mil morreram nesse dia. A carnificina não foi maior porque o terreno montanhoso protegeu o centro da cidade. Quatro meses depois, porém, as mortes na cidade chegavam a 80 mil. Nagasaki, na verdade, era o objectivo secundário. Foi atingida porque as condições meteorológicas de Kokura, o alvo principal, impediam que os efeitos destrutivos da bomba fossem os planeados. Em 1950, o census nacional do Japão indicou que havia no país 280 mil pessoas contaminadas pela radiação das bombas de Hiroshima e Nagasaki.
Rendição incondicional
Historiadores e analistas militares consideram o ataque atómico às duas cidades japonesas totalmente desnecessário, além de desumano. O mundo inteiro já sabia que o Japão estava derrotado. Os Estados Unidos fechavam o cerco sobre o arquipélago japonês depois da conquista de Iwo Jima e Okinawa, ilhas próximas do Japão. A rendição incondicional do Japão ocorreu no dia 14 de Agosto, mas a Segunda Guerra Mundial só seria encerrada oficialmente em 2 de Setembro de 1945, um Domingo, assim que os representantes japoneses assinaram a declaração, a bordo do couraçado norte-americano Missouri.
“68 A GERAÇÃO QUE QUERIA MUDAR O MUNDO"
A ideia do livro nasceu em fins de 2006, quando homenageamos nosso companheiro Elmar de Oliveira na Taberninha da Glória. Era novembro e o Elmar tinha feito a grande viagem. Concluímos, naquele dia, mais uma vez, que tínhamos que dar início a um livro de memórias, que deveria estar pronto até meados do ano seguinte para ser editado e lançado no início de 2008, quando o ápice do nosso movimento completasse 40 anos.
A maneira como devemos passar nossas vivências para os nossos filhos e netos sempre foi motivo de preocupação para nós, atentos ao que é ensinado nas escolas, inquietos com a desinformação geral dos jovens. Pensamos em registrar, nós mesmos, nossas experiências em uma coletânea que contivesse parte da História do Brasil contada pelos próprios participantes, onde nosso lado humano e afetivo fosse sua característica essencial e se mostrasse presente em cada vírgula, em cada palavra ou parágrafo.
68 A Geração que Queria Mudar o Mundo compõe-se de histórias reais ocorridas desde 1964 até a abertura política - nas reuniões, na militância, nas manifestações, nas discussões, na prisão, nas ações armadas ou não, nos treinamentos, na clandestinidade, no Brasil ou no exterior, no exílio. O diferencial do nosso livro caracteriza-se pela revelação do lado humano e afetivo daqueles que não aceitaram a prepotência do Golpe de 64, concebido e engendrado nos Estados Unidos.
São descritos acontecimentos interessantes de que o autor tenha participado ou que tenha presenciado. Episódios, momentos íntimos; aquilo que se conta quando se está em uma roda de amigos; aquilo que ainda não foi narrado; aquela circunstância singular que o colaborador vivenciou ou a que tenha assistido; fragmentos relevantes da nossa vivência na luta por um Brasil melhor.
Somos 100 colaboradores. 100 personagens, mais de 170 relatos. Cada página é um testemunho vivo de eventos autênticos, pequenos detalhes, retratos instantâneos de um período que marcou nossa geração, indignada com as arbitrariedades estabelecidas pelos golpistas. (...)
Urariano Mota: a história viva dos anos da ditadura
O livro “68 a geração que queria mudar o mundo” é um calhamaço de 690 páginas que, em vez de assustar pelo peso e volume, deixa em toda a gente um fascínio. Explico, ou tento explicar. De agora em diante, ele será um volume de consulta obrigatória, para que não se cometam mais tantos atentados à história e à verossimilhança em telenovelas, peças e filmes no Brasil, quando o assunto for ditadura.
Por Urariano Mota
Organizado por Eliete Ferrer, editado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, no livro participam 100 autores em 170 relatos. Em mensagem coletiva no grupo da internet “os amigos de 68”, Eliete informa que nele se encontram “histórias reais ocorridas desde 1964 até a abertura política - nas reuniões, na militância, nas manifestações, nas discussões, na prisão, nas ações armadas ou não, nos treinamentos, na clandestinidade, no Brasil ou no exterior, no exílio. O diferencial do nosso livro caracteriza-se pela revelação do lado humano e afetivo daqueles que não aceitaram a prepotência do Golpe de 64, concebido e engendrado nos Estados Unidos”.
De fato, se em alguns relatos individuais as angústias e o heroísmo de militantes socialistas nem sempre se acham realçados, na maioria dos textos e no seu quadro geral se depreende uma história rica da vida de jovens, de homens e mulheres na última ditadura, que, setores à direita queiram ou não, está na agenda do mundo político do Brasil. O livro vem numa luta que exige resposta da civilização brasileira aos assassinatos até hoje encobertos. Mais precisamente, na batalha incansável dos familiares dos mortos que continuam a busca dos corpos dos filhos, pais e irmãos. “68 a geração que queria mudar o mundo” é parte ativa da consciência do país que deseja uma punição exemplar para crimes contra a humanidade, que são imprescritíveis por todas as convenções internacionais do Direito.
O melhor e mais agradável em “68 a geração que queria mudar o mundo” é que ele não é um volume de teses. Em seu conjunto lêem-se relatos plenos de frescor, isso quer dizer, de sangue vivo, da hora, recuperado com o frescor da memória. É um livro necessário, porque nele estão as chamadas fontes primárias, as pessoas fora dos arquivos, contando o que viveram, penaram ou mesmo imaginaram nos anos do terror da ditadura brasileira. Delas vêm os documentos primários da luta dos malditos anos. É um livro urgente, para ser lido e divulgado.
Nele hão de se debruçar historiadores, roteiristas, cineastas, teatrólogos e jovens de todo o gênero e escolas para que compreendam o mundo que ainda lhes é desconhecido, de pessoas iguais a eles, que viveram, morreram ou escaparam por um triz, em situação-limite. São relatos da vida clandestina, de acontecimentos inimagináveis de “expropriações revolucionárias”, ou como a repressão as chamava, de assaltos a bancos por terroristas. Histórias de treinamento de guerrilha no Brasil, um documento vivo e inédito, e de amor, do amor que sobrevivia entre as porradas e tensões.
O curioso, para muitos, é que nele há também lugar para o humor, pois que os tempos eram duríssimos, mas os homens além do terror e crimes sofridos, também possuíam ou procuravam motivos para rir. Como neste caso, digno de Stanislaw Ponte Preta, o grande humorista que desmontou o ridículo da ditadura brasileira. Copio trecho do depoimento de Emílio Myra e Lopez:
“Um colega seu de ofício (do advogado Lino Ventura) defendia uma mulher e durante o seu processo ocorre o fato, verídico e registrado em seus autos. O advogado de sua defesa inquire o sargento, sua testemunha de acusação.
- Senhor sargento, por que o senhor acusa minha cliente de ser subversiva?
- Pelo material apreendido em sua casa – responde.
- Mas, especificamente, que material?
- Umas cartas...
O advogado prossegue.
- Sargento, seriam estas castas, às quais se refere?
- Sim, senhor, são estas cartas.
- Mas sargento, estas cartas estão escritas em idioma francês, o senhor tem conhecimento do idioma francês?
- Não senhor – responde o sargento para espanto e risos no plenário.
Insiste o advogado.
- Senhor sargento, se o senhor não conhece o idioma francês, como pode, por estas cartas, acusar minha cliente de ser subversiva?
- Mas é claro – prossegue convicto o sargento – eu li nas entrelinhas”.
Há outros, muitos outras histórias, casos, depoimentos, poemas, entre o drama, o trágico e a comédia. Há pelo menos 169 outros relatos. Mas tenham pena deste digitador. Leiam o livro.
A maneira como devemos passar nossas vivências para os nossos filhos e netos sempre foi motivo de preocupação para nós, atentos ao que é ensinado nas escolas, inquietos com a desinformação geral dos jovens. Pensamos em registrar, nós mesmos, nossas experiências em uma coletânea que contivesse parte da História do Brasil contada pelos próprios participantes, onde nosso lado humano e afetivo fosse sua característica essencial e se mostrasse presente em cada vírgula, em cada palavra ou parágrafo.
68 A Geração que Queria Mudar o Mundo compõe-se de histórias reais ocorridas desde 1964 até a abertura política - nas reuniões, na militância, nas manifestações, nas discussões, na prisão, nas ações armadas ou não, nos treinamentos, na clandestinidade, no Brasil ou no exterior, no exílio. O diferencial do nosso livro caracteriza-se pela revelação do lado humano e afetivo daqueles que não aceitaram a prepotência do Golpe de 64, concebido e engendrado nos Estados Unidos.
São descritos acontecimentos interessantes de que o autor tenha participado ou que tenha presenciado. Episódios, momentos íntimos; aquilo que se conta quando se está em uma roda de amigos; aquilo que ainda não foi narrado; aquela circunstância singular que o colaborador vivenciou ou a que tenha assistido; fragmentos relevantes da nossa vivência na luta por um Brasil melhor.
Somos 100 colaboradores. 100 personagens, mais de 170 relatos. Cada página é um testemunho vivo de eventos autênticos, pequenos detalhes, retratos instantâneos de um período que marcou nossa geração, indignada com as arbitrariedades estabelecidas pelos golpistas. (...)
Urariano Mota: a história viva dos anos da ditadura
O livro “68 a geração que queria mudar o mundo” é um calhamaço de 690 páginas que, em vez de assustar pelo peso e volume, deixa em toda a gente um fascínio. Explico, ou tento explicar. De agora em diante, ele será um volume de consulta obrigatória, para que não se cometam mais tantos atentados à história e à verossimilhança em telenovelas, peças e filmes no Brasil, quando o assunto for ditadura.
Por Urariano Mota
Organizado por Eliete Ferrer, editado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, no livro participam 100 autores em 170 relatos. Em mensagem coletiva no grupo da internet “os amigos de 68”, Eliete informa que nele se encontram “histórias reais ocorridas desde 1964 até a abertura política - nas reuniões, na militância, nas manifestações, nas discussões, na prisão, nas ações armadas ou não, nos treinamentos, na clandestinidade, no Brasil ou no exterior, no exílio. O diferencial do nosso livro caracteriza-se pela revelação do lado humano e afetivo daqueles que não aceitaram a prepotência do Golpe de 64, concebido e engendrado nos Estados Unidos”.
De fato, se em alguns relatos individuais as angústias e o heroísmo de militantes socialistas nem sempre se acham realçados, na maioria dos textos e no seu quadro geral se depreende uma história rica da vida de jovens, de homens e mulheres na última ditadura, que, setores à direita queiram ou não, está na agenda do mundo político do Brasil. O livro vem numa luta que exige resposta da civilização brasileira aos assassinatos até hoje encobertos. Mais precisamente, na batalha incansável dos familiares dos mortos que continuam a busca dos corpos dos filhos, pais e irmãos. “68 a geração que queria mudar o mundo” é parte ativa da consciência do país que deseja uma punição exemplar para crimes contra a humanidade, que são imprescritíveis por todas as convenções internacionais do Direito.
O melhor e mais agradável em “68 a geração que queria mudar o mundo” é que ele não é um volume de teses. Em seu conjunto lêem-se relatos plenos de frescor, isso quer dizer, de sangue vivo, da hora, recuperado com o frescor da memória. É um livro necessário, porque nele estão as chamadas fontes primárias, as pessoas fora dos arquivos, contando o que viveram, penaram ou mesmo imaginaram nos anos do terror da ditadura brasileira. Delas vêm os documentos primários da luta dos malditos anos. É um livro urgente, para ser lido e divulgado.
Nele hão de se debruçar historiadores, roteiristas, cineastas, teatrólogos e jovens de todo o gênero e escolas para que compreendam o mundo que ainda lhes é desconhecido, de pessoas iguais a eles, que viveram, morreram ou escaparam por um triz, em situação-limite. São relatos da vida clandestina, de acontecimentos inimagináveis de “expropriações revolucionárias”, ou como a repressão as chamava, de assaltos a bancos por terroristas. Histórias de treinamento de guerrilha no Brasil, um documento vivo e inédito, e de amor, do amor que sobrevivia entre as porradas e tensões.
O curioso, para muitos, é que nele há também lugar para o humor, pois que os tempos eram duríssimos, mas os homens além do terror e crimes sofridos, também possuíam ou procuravam motivos para rir. Como neste caso, digno de Stanislaw Ponte Preta, o grande humorista que desmontou o ridículo da ditadura brasileira. Copio trecho do depoimento de Emílio Myra e Lopez:
“Um colega seu de ofício (do advogado Lino Ventura) defendia uma mulher e durante o seu processo ocorre o fato, verídico e registrado em seus autos. O advogado de sua defesa inquire o sargento, sua testemunha de acusação.
- Senhor sargento, por que o senhor acusa minha cliente de ser subversiva?
- Pelo material apreendido em sua casa – responde.
- Mas, especificamente, que material?
- Umas cartas...
O advogado prossegue.
- Sargento, seriam estas castas, às quais se refere?
- Sim, senhor, são estas cartas.
- Mas sargento, estas cartas estão escritas em idioma francês, o senhor tem conhecimento do idioma francês?
- Não senhor – responde o sargento para espanto e risos no plenário.
Insiste o advogado.
- Senhor sargento, se o senhor não conhece o idioma francês, como pode, por estas cartas, acusar minha cliente de ser subversiva?
- Mas é claro – prossegue convicto o sargento – eu li nas entrelinhas”.
Há outros, muitos outras histórias, casos, depoimentos, poemas, entre o drama, o trágico e a comédia. Há pelo menos 169 outros relatos. Mas tenham pena deste digitador. Leiam o livro.
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