Segundo capítulo do livro-reportagem sobre “Movimento” revela: equipe queria jornal-cooperativa, era radical contra ditadura, zombava do patrão
Jornal Movimento: uma reportagem
Por Carlos Azevedo, autor de
“Cada redator, cada colaborador de Movimento chegou ao jornal por seu caminho pessoal e na certa o vê como uma passagem: não sendo como um castelo, de pedra e argamassa, que se constrói para ser eterno, um jornal é talvez como uma viagem”. Assim começava o texto “Nasce um Jornal”, publicado no “número zero” de Movimento, na verdade, uma peça de propaganda na forma de uma edição preliminar de oito páginas em formato tabloide, com 70 mil exemplares de tiragem, destinada a conquistar acionistas e leitores. O objetivo, concretizar o projeto de um “jornal feito por uma empresa de jornalistas” que acreditavam que sua tarefa profissional era “não apenas descrever o mundo, mas ajudar a transformá-lo”.
Escrevendo na primeira pessoa do singular, o editor-chefe Raimundo Rodrigues Pereira explicava ao longo do editorial como, onde e por que nasceu a ideia de um jornal independente:
“Para mim, a viagem começa em 1968, o ano das agitações de maio da França, da invasão da Checoslováquia, da ofensiva do Tet no Vietnã do Sul e do Ato Institucional nº 5 e do fechamento do Congresso, no Brasil. Em 1968, no jornalismo brasileiro estava se fazendo a equipe de Veja e se desfazendo a equipe da Realidade (…) O fim da primeira equipe de Realidade se devia a um desses dilemas a que sistematicamente chega uma equipe que cria um jornal para uma empresa e que, com o passar do tempo, e com o sucesso da publicação, começa a acreditar que a publicação é dela, não do dono. O resultado da crise foi que a equipe saiu e o dono ficou”.
Na época, Realidade era a principal referência do bom jornalismo brasileiro, não apenas por suas reportagens, que desnudavam o País da ditadura militar, mas também pelo brilho e independência de sua redação, que se demitiu quando a interferência do patrão na vida da revista se tornou incontornável. Em parte, foi a partir da experiência em Realidade que nasceu o sonho do “jornal dos jornalistas”, das publicações sem patrão.
Raimundo Pereira em 1968 estava na revista Veja. Saiu em 1970, quando sentiu que não tinha mais condições de continuar seu trabalho. Em 1971 e 1972, comandou as edições especiais “Amazônia” e “Cidades” da revista Realidade. Nesse período, remanescentes da antiga equipe de Realidade, alimentando o desejo de autonomia, haviam criado a editora Arte & Comunicação, que fazia revistas independentes, Bondinho, Jornalivro, Grilo. Colaborador marginal dessa experiência, Raimundo imaginava a possibilidade de se fazer um jornal político junto ao pessoal da A&C.
No final de 1971 um grupo de editores e ex-editores da revista Realidade estava reunido em torno de um “boneco” (projeto gráfico) de Assuntos, uma publicação independente, a ser financiada em parte por seus editores. No grupo estavam quatro dos futuros editores de Movimento: Elifas Andreato, editor de arte da Abril Cultural, Dirceu Brisola, editor assistente de Veja no setor de política nacional, Antonio Carlos Ferreira (Tonico), jornalista e arquiteto, e eu.
Os quatro citados pelo editor-chefe faziam parte de um grupo maior, que incluía Eurico Andrade, repórter da equipe pioneira de Realidade, Dorrit Harazin, repórter da revista Veja, e Matias Molina, jornalista de Economia da Editora Abril. Juntos haviam concebido “Assuntos”, que Eurico Andrade imaginava como uma publicação de cunho político, um “Le Mondinho”, como dizia, referindo-se a uma combinação do “jornal dos jornalistas” dos franceses, o Le Monde, com o Bondinho dos brasileiros. Os dois grupos não chegaram a um acordo, a A&C faliu e a ideia ficou à espera de outras oportunidades.
Bernardo Kucinski, então amigo próximo de Raimundo, havia ido morar em Londres, onde conheceu o empresário Fernando Gasparian. Este também estava morando na capital inglesa, numa espécie de exílio, depois que seu amigo Rubens Paiva fora assassinado pela ditadura e ele mesmo sofrera ameaças de atentados. O empresário nacionalista queria fazer um jornal político no Rio de Janeiro. Kucinski mostrou-lhe um exemplar da edição do quarto aniversário de Veja, produzida por Raimundo a convite de Mino Carta, editor-chefe da revista, que, na apresentação, cobria Raimundo de elogios. Bernardo sugeriu que este fosse o editor do novo jornal. Gasparian reagiu positivamente.
A reação do grupo de Assuntos à proposta de Gasparian foi descrita detalhadamente no texto de Raimundo no número zero de Movimento:
“Bernardo me indicou para editor de Opinião, que era então uma espécie de The New Statesman brasileiro na cabeça de Fernando Gasparian; o grupo que pensava em Assuntos viu no convite boa oportunidade. O sentimento geral (…) era mais ou menos o seguinte: sentia-se um certo cansaço do jornalismo de grande empresa; acreditava-se que a tarefa do jornalista não é apenas a de descrever o mundo, mas de ajudar a transformá-lo; e que as grandes empresas jornalísticas tinham se acomodado a uma situação de censura progressiva que vinha asfixiando a imprensa brasileira há algum tempo. Mas havia obstáculos para um acordo com o empresário.
“O projeto de Opinião se atrasou um mês porque nós insistíamos em ter uma forma de assegurar a presença da redação em todas as decisões. Se queria ter pelo menos 49% das ações da empresa (…). Gasparian disse que não acreditava na possibilidade de sobrevivência de uma empresa que tivesse como donos muitos jornalistas. Garantiu que o fato de ele ter a propriedade jurídica de Opinião não significava que fosse dono das ideias do jornal. Concordou em fazer Opinião como um jornal que fosse propriedade intelectual de todos que o fizessem. Mas queria ter toda a propriedade jurídica.
A busca de alternativa foi infrutífera, prossegue o texto:
O grupo de Assuntos julgou que aquelas declarações não eram suficientes. Passou um mês procurando nova forma de capitalizar seu projeto. Não conseguiu; então tornou a procurar Gasparian.
Decidimos fazer Opinião nas bases propostas por Gasparian, para formar uma equipe e adquirir experiência até onde fosse possível. Depois, se a experiência fosse interrompida – uma possibilidade que já se antevia pelo fato de a redação não ter nenhum mecanismo de controle sobre o jornal – prosseguir com o projeto de ter uma empresa jornalística onde as pessoas que escrevessem, de fato e de direito, ou seja, também juridicamente, tivessedom o poder de decisão para garantir a observação de suas idéias. Opinião foi lançado em 23 de outubro de 1972, num coquetel ao qual Raimundo não compareceu, desagradando Gasparian logo de cara.
“Eu era muito purista, foi uma bobagem”, reconheceu o jornalista depois. O jornal foi pioneiro por se apresentar abertamente de oposição à ditadura, embora fortemente censurado, além de ser um exemplo de respeito à independência da redação. Como Raimundo reconheceu no texto do número zero de Movimento: Durante os 121 números em que a equipe de jornalistas que se organizou em torno daqueles editores do projeto de Assuntos esteve em Opinião, os termos do acordo com Fernando Gasparian foram cumpridos: o dono do jornal não foi simultaneamente o dono das suas idéias, mas concordou, ele também, em submeter à discussão da redação suas ideias e editoriais. Até que sobreveio a demissão do editor. O sonho do jornal independente esteve todo tempo vivo na redação de Opinião como se percebe em uma entrevista concedida por Raimundo, às vésperas do lançamento de Movimento, para outro jornal independente, o Ex, quando fez um balanço do desempenho de sua equipe em Opinião:
“A principal coisa: nós desmentimos a grande imprensa. A primeira fase de Opinião foi a fase de demonstrar o que as grandes publicações não faziam, porque tinham escolhido a estratégia da adesão. Afinal é um jornal feito com 300 mil cruzeiros (capital inicial, equivalente a 916 mil reais de 20111) e que colocou a política em primeiro lugar. E só porque para lá convergiam alguns jornalistas independentes, mais uma série de intelectuais que não tinham outro lugar para escrever, em pouco tempo Opinião estava concorrendo nas bancas com as grandes publicações”.
O novo semanário foi um sucesso de vendas, segundo a entrevista:
“Opinião, até o número 24, foi de 28 mil pra perto de 38 mil exemplares vendidos. Veja estava vendendo pouco mais de 40 mil nas bancas, e Visão, nas bancas, vendia perto de 10 mil. A redação do Opinião chegou a ser uma das maiores do País, em termos de esforços mobilizados a favor dela. Fora do País, era um negócio maior ainda: tinha o Robert Kennedy mandando entrevistas, tinha essas grandes publicações estrangeiras cedendo direitos pro Opinião só porque o Opinião resistia à censura”.
Raimundo concluía com uma avaliação positiva: “Fizemos 121 edições em 2 anos e três meses, mais 2 meses de preparação. Total de 2 anos e meio de trabalho no Opinião. Mais ou menos o tempo que durou a equipe de Realidade, um grande tempo.”2
A POLÊMICA DA DEMISSÃO
No dia 18 de fevereiro de 1975, Fernando Gasparian havia demitido o editor chefe Raimundo Pereira, alegando “problemas pessoais”, como reafirmaria na nota publicada na edição 122 de Opinião, na semana seguinte. A redação, que havia participado da fundação do semanário e contribuído para seu indiscutível sucesso, considerou a atitude incompatível com os princípios do jornal e a grande maioria se demitiu, sem deixar de fornecer sua própria versão do episódio: em uma nota lida na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a equipe insistia no conteúdo político da demissão em um momento delicado, quando se discutia o significado da distensão prometida pelo presidente Ernesto Geisel.
Alguns episódios vinham desgastando as relações entre Gasparian e o editor-chefe. Um exemplo foi a matéria publicada em dezembro do ano anterior na seção de política, como parte de um conjunto de perfis dos deputados do MDB eleitos em novembro. O texto relatava que o deputado Marcos Tito, do MDB mineiro, havia feito campanha se apresentando como “autêntico” e depois de eleito recusou essa condição, decepcionando os estudantes que o haviam apoiado. Gasparian não costumava interferir no trabalho editorial, mas considerou a matéria uma provocação (a redação não sabia, mas ele dera apoio material à campanha de Marcos Tito) e exigiu que o responsável, Luiz Bernardes, da sucursal de Belo Horizonte, fosse demitido. Raimundo foi investigar os fatos e concluiu que Bernardes havia escrito a nota “jornalisticamente” e se recusou a demiti-lo.
Outro episódio desgastante: o governo não se limitava à censura para tentar inviabilizar Opinião. Fernando Gasparian aprendeu isso quando se deu conta de que estava sendo de diversas maneiras boicotado pelo governo. Ficou indignado quando bancos oficiais como o Banco do Brasil recusaram-se a aceitar duplicatas da Editora Inúbia, que editava o jornal. Acabou por apelar para José Aparecido, que era representante do banqueiro e senador Magalhães Pinto, presidente da Arena, o partido do governo e um dos líderes destacados do regime. Ele era dono do Banco Nacional e foi por meio dessas relações pessoais que Gasparian conseguiu descontar suas duplicatas. Uma crítica feita pelos jornalistas de Opinião a Magalhães Pinto (sua cabeça teria a forma de um joelho) pode ter colocado Gasparian em dificuldades com o seu único banqueiro.
“FOI A QUESTÃO DO GEISEL”
O texto de Raimundo no número zero de Movimento citava sete incidentes entre o dono do jornal e ele. Mas antes sempre haviam chegado a um acordo, quase sempre intermediado por amigos de Gasparian e colaboradores como o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, e um editor da Editora Abril, Pedro Paulo Popovic. Algumas vezes, a redação assumia o erro, como ocorreu quando uma matéria sobre um show de Chico Buarque e Caetano Veloso reproduziu palavrões ditos pelos artistas. “Nós vamos ser fechados por ter publicado um palavrão, isso é um absurdo!”, reagiu Gasparian. Às vezes era Gasparian quem cedia, como aconteceu quando pediu a Raimundo para ler as matérias antes de serem publicadas. “Respondi: ‘Então você põe outro editor, porque esse é o meu papel’, e ele voltou atrás”, lembra Raimundo.4
Para o ex-editor-chefe de Opinião, porém, não foram esses incidentes que provocaram a demissão. Gasparian sabia que todos, inclusive os militares, o consideravam pessoalmente responsável pelo que era publicado no jornal, mesmo quando estava em desacordo com a redação, como ocorria frequentemente quando o tema era a distensão promovida por Geisel:
“A briga mesmo foi a questão do Geisel, que Gasparian dizia ser nacionalista, e nossa postura colocando em dúvida a distensão prometida por ele”, opina Raimundo. “Nós fizemos duas matérias bem fortes para mostrar quem era Geisel de fato: uma, dos votos de Geisel quando era ministro no Superior Tribunal Militar (STM), e outra, sobre a política de exploração de petróleo da Petrobras. E o Gasparian queria pôr anúncio da Petrobras de graça no Opinião!”, lembra o ex-editor-chefe.
“Nós não tínhamos a menor dúvida do caráter político da demissão, porque não estávamos fazendo isso de ingênuos.
“Tínhamos uma posição política, estávamos disputando a orientação do jornal. Chegamos a dizer: ‘Nós também somos donos do jornal’, o que é uma ficção mas também tem a ver. O jornal não saiu daquele jeito da cabeça do Gasparian. Foi resultado de uma mobilização mais ampla, onde ele teve um papel ultra importante como criador do jornal, com o peso de seu nome, trazendo as grandes figuras que deram prestígio ao jornal”.5
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lembra hoje que tentou interceder:
“Eu sempre fui contrário ao divisionismo. (…) Tem que juntar, sempre foi a minha opinião, na vida, tem que agregar, não separar. Mas é muito difícil, porque ali tinha concepções políticas diferentes. Na verdade, o Opinião, na medida em que o Gasparian tinha influência, era um jornal mais nacionalista e mais interessado na questão institucional; enquanto que o Movimento era muito mais de participação ampliada, mais popular, essa coisa toda, e a questão nacional não era tão dramática quanto a questão social. Mas todos estavam no mesmo lado, estou dizendo aqui nuances”.
AINDA A DEMISSÃO
O momento era delicado também para a redação de Opinião, traumatizada por deixar o jornal, como lembra Flávio de Carvalho, que foi editor de Internacional do semanário.
“O Raimundo chegou na redação e disse: ‘Acabou’ Foi uma grande comoção… Estava terminando uma coisa em que todo mundo estava investindo, virava a noite fazendo o jornal, enfrentava a censura, era um sacrifício danado. Aquilo era a vida de todo mundo, a gente morava no Rio e ninguém ia à praia, o máximo de farra era comer pizza no (restaurante) Guanabara. Mas ali mesmo, já naquela reunião, combinamos que íamos tentar fazer outro jornal, em São Paulo”.7
Além de superar o trauma e enfrentar a aventura de fazer um novo jornal sem os recursos financeiros e o respaldo político e intelectual de Gasparian, a redação enfrentava críticas de que estaria dividindo o movimento de resistência à ditadura.
Na entrevista citada, Fernando Henrique Cardoso lembrou: “No primeiro momento, fiquei contra dividir. Pra que dividir?” Ele achava que podia pôr em risco o Opinião e não conseguir concretizar uma alternativa. (Poderia) ficar sem instrumento, sem a força do Opinião. Ficar sem um instrumento qualquer. Mas depois, dado que era inevitável, fiquei nos dois. Fui do conselho dos dois, escrevia nos dois…”
Daí a preocupação de Raimundo no texto do número zero de Movimento em demonstrar que haviam feito tudo o que podiam para reverter a decisão de Gasparian – “as discussões com Gasparian se prolongaram ao longo de vários dias” – e que as previsões de FHC não se confirmariam:
“A possibilidade de transformar a crise em um acontecimento criativo para o País surgiu quando nós decidimos fazer Movimento e, além disso, quando a maioria da equipe se convenceu de que, a despeito de o dono do jornal ter tomado uma decisão fundamentalmente errada, se devia lutar por Opinião, ajudando-o a conservar princípios duramente conquistados”.
Raimundo repetiu em entrevista em outubro de 2009 que a redação fez tudo o que pôde para manter-se em Opinião, oferecendo primeiro a possibilidade de formar uma comissão para editar o jornal e depois outro nome do time para substituir o editor-chefe:
“Eu estou quase certo que houve até o seguinte: o cara de quem o Gasparian gostava pessoalmente era o Marcos Gomes (…). Eu já sou meio avacalhado hoje, se vocês me vissem na época, eu ia com uma bermuda, dormia no meio da minha sala com uma lauda com um buraco para deixar o nariz pra fora… E o Marcos estava sempre bem vestido, era um sujeito muito mais político, tinha sido dirigente da UNE, tinha política na cabeça, conversava muito com o Gasparian. Já nós éramos jornalistas e, assim, tinha uma coisa meio liberal anarquista, né?”
Marcos Gomes opina que “a diferença se dava primeiro talvez por minha experiência política. Eu, ainda que fosse uma pessoa muito jovem, o via (Gasparian) claramente como um aliado. E eu não estava a fim de escandalizá-lo de nenhuma maneira. Quer dizer, era um escândalo para ele o Raimundo ir para a redação de bermuda, toda esfiapada (…) Então, eu tinha uma boa interlocução com ele. Uma interlocução educada, desde cumprimentá-lo”.
Luis Marcos Magalhães Gomes, então com 27 anos, de fato, já acumulara considerável experiência política. Havia tido intensa militância no movimento estudantil em Belo Horizonte. Foi eleito vice-presidente da UNE em 1966. Entrou para Ação Popular (AP), se deslocou para o meio operário, participou da organização das greves dos metalúrgicos de 1968 em Minas Gerais escrevendo jornais para os operários. Preso diversas vezes, transferiu-se para São Paulo, onde participou da direção regional da AP. Preso outra vez em 1969, acusado em 22 processos, condenado a uma pena de 4 anos, foi cumpri-la no presídio Tiradentes. Teve sua pena reduzida e foi libertado após 20 meses, em setembro de 1971. Ao sair, vigiado pelos órgãos de repressão, encontrou dificuldades para retomar a militância em Ação Popular, foi trabalhar como redator em uma agência de publicidade no Rio de Janeiro. Em 1972, seu irmão Frederico o apresentou a Raimundo Pereira, que o convidou para trabalhar em Opinião. Junto com Raimundo e Tonico, ele iria formar o trio de jornalistas que “tocava” o dia a dia na redação. Raimundo declarou em entrevista que Marcos “foi muito importante em Opinião no enfoque político mais adequado para as matérias, na definição das pautas e nos entendimentos com Gasparian”.
Sobre os motivos para a demissão de Raimundo, Marcos sugere:
“Acho que foram as duas coisas, ele (Gasparian) foi se irritando com a relação e também houve a questão da conjuntura política. O País marchando com o Geisel, o jornal numa situação financeira complicada. Acho que ele não via ali sobretudo a flexibilidade que ele estava buscando. E, quando ele propôs aquela história de publicar anúncios gratuitos da Petrobras, a redação não topou. Quer dizer, você está ali naquela resistência desgraçada, fizemos aquelas matérias sobre o governo Geisel, pegamos todos os votos dele (no STM), o cara só votava contra todo mundo. Chamar o cara de democrata nacionalista era só o que nos faltava. A redação se rebelou”.
Gasparian achou que Marcos podia substituir Raimundo: Então, Gasparian conversou comigo: “Mas por que só pode ser o Raimundo? Por que você, por exemplo, não pode editar o jornal?” Eu falei: “Fernando, você não conhece a redação que trabalha com você, porque ninguém aqui vai se dispor a substituir o Raimundo. Tem unidade tranquila em torno disso, se você vier com essa proposta, vai ser um desastre. Não tem a menor possibilidade de eu substituir o Raimundo”.9
Com a saída de Raimundo e da equipe, Opinião passou a ser editado pelo jornalista Argemiro Ferreira, que permaneceu no cargo até junho de 1976. Foi sucedido pelo próprio Gasparian, que assumiu o comando da redação e nele se manteve até abril de 1977, quando decidiu fechar o jornal, por não suportar mais a censura implacável e o boicote financeiro.
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