terça-feira, 17 de julho de 2012

JORNAL MOVIMENTO  SUCURSAL BELO HORIZONTE



A sucursal de Belo Horizonte foi a mais poderosa, chegou a reunir 500 apoiadores. Era a que mais vendia jornais, que mais vendia assinaturas e cotas de acionistas, depois da sede em São Paulo.


O núcleo do jornal em Belo Horizonte começou a partir das articulações de Marcos Gomes e Luiz Bernardes, que reuniram inúmeros colaboradores e acionistas no seu entorno. O jornalista Lélio Fabiano dos Santos, que usava sua sala de diretor da escola de Comunicação da PUC como uma pequenina redação, foi o primeiro correspondente. Lélio dividia seu pequeno salário com dois jovens jornalistas, Marco Antonio Vale e José Eustáquio.


Movimento teria uma sucursal em Belo Horizonte já em outubro de 1975. E isso se deveu bastante aos esforços de Alberto Dias Duarte, o Betinho, um pequeno empresário que havia sido militante da Ação Popular. Procurado por Marcos Gomes para ajudar a vender cotas, Betinho foi além, ofereceu uma das salas do prédio da rua Rio de Janeiro, onde funcionava a sua empresa Cifra Ltda., como sede da sucursal. “A infraestrutura praticamente toda era da minha empresa. Que eu me lembre, nunca recebi um centavo do jornal”, diz Betinho.


Ele cuidava da parte administrativa, enquanto Lélio comandava a redação. Com uma sede fixa, o grupo ia crescendo. A convite de Betinho entraram novos colaboradores, gente politizada e intelectualizada, como Aloisio Marques, João Batista dos Mares Guia, Fausto Brito, Flávio Andrade, Flaminio Fantini, Murilo Albernaz, Maria das Dores Freire e Fernando Pimentel18, todos muito atuantes nas intensas discussões internas de Movimento das quais se falará logo mais.


No começo de 1976, Raimundo Pereira foi a Belo Horizonte para organizar pessoalmente a estrutura da nova sucursal. Betinho foi nomeado chefe, tendo o jornalista Fernando Miranda como redator-chefe. A sucursal tornou-se uma usina de articulação, textos e ideias. No primeiro ano já havia mais de 30 pessoas colaborando das mais variadas maneiras. Belo Horizonte teve, por exemplo, uma das maiores produções de contos e crônicas entre as sucursais; naquele ano, 22 Estórias Brasileiras foram enviadas, embora apenas dez tenham sido publicadas. Quanto às reportagens, das 201 matérias enviadas, 64 foram publicadas e 41 vetadas pela censura.19 A sucursal cumpria as pautas indicadas pela sede, mas ia tomando a iniciativa de fazer outras matérias sem que o jornal tivesse condições de publicá-las.


“A produção era enorme, nós aglutinávamos dezenas de pessoas”, lembra Betinho. “Raimundo pedia algumas matérias, nós fazíamos essas matérias, mas também muitas outras, porque tínhamos aqui intelectuais brilhantes”. Ele conta como buscava agregar ainda mais:


Tinha João Machado, cujo apelido era João Campeão, que foi da executiva nacional do PT e hoje é do Partido Socialismo e Liberdade, Psol. Fui atrás dele e do Flávio Andrade, eles moravam no bairro Santo Antônio. Eu cheguei lá, falei: “Ô, vocês são intelectuais de quê? Vocês não fazem nada. Por que vocês não vão lá para o jornal Movimento?”. Eles foram.


Com tantos braços dispostos a ajudar, a turma de Belo Horizonte assumiu uma atividade importante: reimprimia os relatórios sobre a censura, feitos em São Paulo, e os distribuía. Enquanto a matriz os enviava para personalidades relacionadas, Minas enviava aos acionistas, assinantes e colaboradores, num total de 200 exemplares por semana.


Nas vendas, um grande grupo de estudantes universitários ajudava em mutirão. Betinho e Fernando Pimentel iam até o aeroporto da Pampulha todos os sábados para recolher os pacotes. De volta ao escritório, a turma já estava a postos para envelopar os exemplares e postar no correio local até as cinco da tarde. Mesmo assim, o jornal só chegava terça ou quarta-feira para os leitores.


A outra parte dos exemplares era levada pelos estudantes para ser vendida em faróis, bares e restaurantes, como conta Betinho. “Eles sabiam onde era o point de intelectuais e da classe média, saíam e vendiam para valer. Os estudantes vendiam não só por uma decisão política, mas também porque ganhavam uns trocados para tomar umas à noite”. Entre os vendedores estava Nilmário Miranda, recém-saído da prisão, que mais tarde seria deputado estadual, federal e ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos no primeiro governo de Lula, mas naquela época foi, segundo o ex-chefe da sucursal, “um dos maiores vendedores de assinaturas do jornal Movimento”.


A sucursal mineira rapidamente se tornou a mais rentável.


Até o início de 1978, a receita de Movimento em Belo Horizonte vinha principalmente de assinaturas (78%). Ajudou muito a ideia de Alberto Duarte, posta em prática pela primeira vez em Belo Horizonte, de vender assinaturas parceladas para o público de menor renda. “O preço da assinatura não era para trabalhadores, eu introduzi um esquema de venda em carnê, em suadas prestações mensais. Foi a popularização do jornal”. O método seria repetido em outros lugares.


Em um relatório de julho de 1976, Raimundo Pereira resumia:
A experiência de Belo Horizonte é a mais rica das experiências
das sucursais de Movimento – é a que mais vendeu assinaturas
e a que mais se reuniu para discutir o jornal; é das que mais enviou artigos e cartas ao jornal e mais formou novos
colaboradores; Belo Horizonte foi a única sucursal a apresentar ao Conselho de Redação um projeto formal para o seu funcionamento; a primeira sucursal a divulgar entre os nossos acionistas e principais colaboradores a lista de matérias vetadas.
A sucursal de Belo Horizonte foi origem do primeiro grande debate dentro do jornal, o chamado “caso Murilo Albernaz”, a ser contado depois. Os mineiros também foram dos que mais insistiram pela expansão formal do Conselho de Redação e houve inúmeras discussões visando a formulação do estatuto, que ele ainda não tinha.

http://www.oficinainforma.com.br/movimento/livro_movimento.html

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