quarta-feira, 18 de julho de 2012

Para entender a fome



Segundo a ONU, entre 9 e 10 milhões de pessoas morrem de fome por ano. Para quem nunca experimentou a fome crônica, é muito difícil entender o que ela significa
O poeta russo Nikolai Nekrasov (1821-1878) disse certa vez que "...no mundo impera um czar impiedoso: Fome é o seu nome!" Ele estava certo. De acordo com a FAO (Food and Agricultural Organization), órgão das Nações Unidas, tivemos, em 2009, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo passando fome crônica. Este é o mais alto índice desde 1970, quando começaram a ter estatísticas sobre o assunto. A fome se concentra nos países não desenvolvidos e é a maior vergonha para o planeta. Também, de acordo com a ONU e a UNICEF, temos entre 9-10 milhões de pessoas que morrem de fome por ano. Este número significa 26.000 mortes por dia ou 1.100 mortes por hora e é a maior causa de mortalidade no mundo.
Em 1974, a ONU reiterou que o homem tem o direito de ser livre da fome e a comunidade internacional deveria ter como objetivo garantir a todos o alimento suficiente para viver. Os anos se passaram, mas o problema continua. Para quem nunca experimentou a fome crônica, é muito difícil entender o que ela significa. Quando colocar algo no estômago é a maior preocupação da vida, fica impossível pensar no futuro.
Uma mãe que vê seu filho morrer de fome em seus braços não tem como entender qual o motivo de ele ter nascido. A fome é como uma doença seletiva, que não afeta determinados países e certas classes da sociedade. Ela não é classificada como uma pandemia, pois não é contagiosa, mas ela mata mais do que qualquer doença. Há quem diga que é inerente à civilização e que sempre existiu. Uns dizem que é falta de alimentos, mas na verdade, o que falta é o acesso aos alimentos. Os alimentos existem e o desperdício é grande. Problemas de colheitas, transporte, armazenamento, a ganância de quem vive da desgraça alheia e outras questões contribuem para esta vergonhosa situação.
No final de 2011, a editora-chefe da Deutsche Welle, a empresa internacional de comunicação da Alemanha, afirmou que a fome é politicamente tolerada e aceita, pois há coisas mais importantes e as vozes dos famintos não contam. O fato é que este impiedoso czar continua governando o mundo e, a cada ano que passa, ele fica mais poderoso e ávido por vidas humanas.
Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles As Sete Portas e A Nova Terra - Recomeço. Saiba mais em seu blog
18 de Julho de 2012 às 14:35




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