terça-feira, 2 de abril de 2013


CRUELDADE EM SOLO BRASILEIRO
Como alguns de vocês devem se lembrar, no dia 18 de Janeiro de 2013, o cidadão espanhol (basco) JOSEBA VIZAN GONZALEZ foi preso no Rio de Janeiro por portar documentos falsos. A sua prisão repercutiu em diversos veículos de imprensa, não pelo porte dos documentos falsos, mas sim por estar sendo acusado de pertencer a um grupo militante armado na Espanha.
Joseba foi solto depois de 2 meses na prisão, o seu caso está muito longe de ser um caso policial. Joseba foi preso e torturado na Espanha por acreditar na liberdade do seu povo e do seu País, o País Basco. Joseba é um perseguido político, porém para a sua pátria mãe, a Espanha, ele seria um fugitivo, mesmo nunca tendo sido julgado nem condenado.
Um dia após sua prisão no Brasil, os pais de sua esposa (sogros de Joseba) vieram a socorro de sua filha e neta no Brasil, para lhes prestar apoio e ajuda neste momento tão difícil. Ambas se encontravam desamparadas em solo brasileiro, sem qualquer apoio diplomático. Contando apenas com a ajuda de alguns amigos que aqui fizeram nos 16 anos em que aqui viveram.
Os sogros de Joseba iriam embora hoje, dia 02 de Abril, após 2 meses de muita luta e sofrimento, mas iam felizes, pois Joseba estava fora da cadeia, cumprindo pena alternativa, conforme lhe foi sentenciado por um tribunal brasileiro, pois sua prisão era desproporcional ao único crime ora cometido: falsidade ideológica, que se fez necessário devido a sua situação de perseguido político em solo Espanhol.
JOSÉ MARCO MUYOR, sogro de Joseba se preparava ontem, dia 01 de Abril, para fazer sua última caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro, para se despedir da cidade. Estava com sua esposa e JOSEBA, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante. Joseba tentou sem sucesso reanima-lo, ajudado por alguns bombeiros, e depois por agentes do SAMU. Foi encaminhado para a UPA – Unidade de Pronto Atendimento de Botafogo por uma ambulância, mas já chegou na unidade em óbito.
Mal sabíamos todos que o sofrimento maior ainda estaria por vir. Uma família que fazia pouco tempo foi destroçada por uma prisão injusta, sem julgamento ou condenação, que passou as amarguras de buscar ajuda entre cidadãos brasileiros pois não encontrou apoio no governo do seu país, começava um novo calvário.
Neste dia 02 de Abril, acompanhei a esposa de Joseba na árdua missão de liberar o corpo do pai no IML – Instituto Médico Legal no Rio de Janeiro, lá fomos informados pelo policial civil JOSÉ que o corpo de JOSÉ MARCO MUYOR só poderia ser liberado mediante uma autorização do CONSULADO GERAL DE ESPANHA, do Rio de Janeiro. Por se tratar de um cidadão estrangeiro, o procedimento seria padrão. Ainda lhe perguntei se o Consulado Geral da Espanha saberia do que eu iria lhes pedir, no que ele nos respondeu: “Com certeza, o plantão consular de todos os países sabem que é procedimento padrão e para tanto será um documento muito simples”. Estávamos de posse do passaporte de JOSE MARCO MUYOR e da sua identidade Espanhola.
Rumamos eu e a esposa de Joseba para o Consulado Geral de Espanha, situado na Torre Rio Sul em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Chegamos ao local por volta das 12:30 do dia 02 de Abril, explicamos o que precisaríamos para que o corpo de JOSÉ MARCO fosse liberado pelo IML.
Fomos atendidas pelo Sr. Afonso Castilho que nos informou que tal procedimento não existe.
Colocamos o agente da Polícia Civil no telefone com os agentes consulares espanhóis, quem sabe eu não estávamos lhes pedindo o documento correto? De nada adiantou.
O Consulado Geral de Espanha disse que em nada poderia nos ajudar neste assunto. Que apenas cuidaria de algum assunto administrativo.
Voltamos a Polícia Civil do IML para entendermos o que poderíamos fazer para acabar com este sofrimento, mais uma vez o agente JOSÉ, estarrecido com a reação pouco usual por parte do Consulado Geral da Espanha, o policial Civil brasileiro nos deu duas opções: 
- Entrar na justiça brasileira através de um plantão judiciário para a liberação do corpo
OU 
- Aguardar o prazo de 72 horas de entrada no IML para que na presença dos familiares e de outras duas testemunhas o corpo fosse liberado SEM IDENTIFICAÇÃO, como INDIGENTE.
Não bastasse o sofrimento da perda de um pai, um sogro, um avó, a família ainda passa pelo profundo desgosto de ser IGNORADA POR AQUELES QUE DEVERIAM PRESTAR APOIO: O corpo Consular do seu próprio País.
Em nenhum momento NENHUM MEMBRO DO CONSULADO ESPANHOL se dispôs a tentar ajudar no problema, nunca foi lhes dado um só telefonema, nenhum facilitador, nenhuma palavra, nenhum apoio, nada.
À família ESPANHOLA lhes resta pedir SOCORRO ao GOVERNO BRASILEIRO para tentar enterrar seu pai que TINHA SIM UM NOME, não é um indigente, É UM CIDADÃO ESPANHOL, portador de todos os seus documentos.
Essa atitude CRUEL, DESUMANA do Governo Espanhol para com esta família me revolta, me entristece, me envergonha como SER HUMANO. SE ESSA FAMÍLIA NÃO ESTÁ SOFRENDO UMA PERSEGUIÇÃO POLÍTICA, NÃO SEI MAIS O QUE ISSO PODE SER.
Com profunda tristeza suplico a ajuda do GOVERNO BRASILEIRO, suplico AJUDA DOS DIREITOS HUMANOS, suplico ajuda dos órgãos competentes para que possamos não só como pátria, mas como SERES HUMANOS, ajudar a cessar tamanho sofrimento que aflige esta família.
Com esperança me subscrevo,
Irina Faria Neves
Rio de Janeiro, 02 de Abril de 2013

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