quinta-feira, 4 de novembro de 2010

HOMENAGEM A DILMA

500 anos esta noite



Por Pedro Tierra*


De onde vem essa mulher


que bate à nossa porta 500 anos depois?


Reconheço esse rosto estampado


em pano e bandeiras e lhes digo:


vem da madrugada que acendemos


no coração da noite.


De onde vem essa mulher


que bate às portas do país dos patriarcas


em nome dos que estavam famintos


e agora têm pão e trabalho?


Reconheço esse rosto e lhes digo:


vem dos rios subterrâneos da esperança,


que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.


De onde vem essa mulher


que apedrejam, mas não se detém,


protegida pelas mãos aflitas dos pobres


que invadiram os espaços de mando?


Reconheço esse rosto e lhes digo:


vem do lado esquerdo do peito.


Por minha boca de clamores e silêncios


ecoe a voz da geração insubmissa


para contar sob sol da praça


aos que nasceram e aos que nascerão


de onde vem essa mulher.


Que rosto tem, que sonhos traz?


Não me falte agora a palavra que retive


ou que iludiu a fúria dos carrascos


durante o tempo sombrio


que nos coube combater.


Filha do espanto e da indignação,


filha da liberdade e da coragem,


recortado o rosto e o riso como centelha:


metal e flor, madeira e memória.


No continente de esporas de prata


e rebenque,


o sonho dissolve a treva espessa,


recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho,


afasta a força que sufoca e silencia


séculos de alcova, estupro e tirania


e lança luz sobre o rosto dessa mulher


que bate às portas do nosso coração.


As mãos do metalúrgico,


as mãos da multidão inumerável


moldaram na doçura do barro


e no metal oculto dos sonhos


a vontade e a têmpera


para disputar o país.


Dilma se aparta da luz


que esculpiu seu rosto


ante os olhos da multidão


para disputar o país,


para governar o país.


Brasília, 31 de outubro de 2010.


*Recebido de Vanderley Caixe, da Carta o Berro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário