quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CARTA ABERTA SOBRE FALSOS EMAILs

CARTA ABERTA A MINHA VIZINHA AURÉLIA QUE, POR FALTA DE CUIDADO E POR NÃO TER PESQUISADO ME ENVIOU UM E-MAIL QUE CONSIDERO FALSO E MENTIROSO.



Aurélia, tudo bem?


Sou Milton Tavares Campos, seu vizinho e companheiro de lutas pela melhoria do nosso bairro Sagrada Família. Recebi seu e-mail, e não quis me calar. Estou aproveitando para te responder que este e-mail que é totalmente falso. Como estas mentiras estão sendo usadas para confundir, decidi enviar a resposta na forma desta CARTA ABERTA. Meus filhos, amigos, colegas e conhecidos todos vão recebê-la. Aproveitei para enviar em anexo para todos a mensagem em slides que você me enviou. Agora vou aos fatos tratados na mensagem.


Mario Kozel não servia no Quartel de Quitaúna, em Osasco, Grande São Paulo, mas no Quartel General do 2º Exército, no Ibirapuera na capital de São Paulo, em cujo anexo da Rua Tutóia, no mesmo bairro fica o chamado DOI-CODI, onde as mais violentas torturas e assassinatos eram praticados pelos militares e policiais. Essas fotos da montagem anexa são do QG do 2º Exército no Ibirapuera, e não do quartel de Quitaúna. Até nos detalhes esta montagem é falsa. Mesmo sem consciência de seu papel, o soldado Mário Kozel defendia a segurança dos torturadores. Eu pessoalmente fui barbaramente torturado ali e a Dilma, hoje candidata à presidência da república também. Quem serve exército com uma metralhadora na mão, é treinado e condicionado para matar, não é uma figura inocente. Eu e a Dilma bem como muitos outros que enfrentávamos o governo militar não éramos também inocentes, éramos militantes conscientes e queríamos derrubar o governo pela resistência por ações de mobilização popular e também por ações armadas.


Eu participei de ações armadas e vou voltar a fazer se preciso for a qualquer momento.


Era uma guerra e muitos morreram! Mário Kozel morreu por ingenuidade e falta de preparo ao abrir um carro que foi lançado com explosivos contra o muro do quartel onde assassinatos eram praticados. Lá dentro do anexo do quartel, no DOI CODI, homens e mulheres eram assassinados nas câmaras de tortura, amarrados e indefesos. No dia seguinte a Rede Globo, a Folha de São Paulo e os órgãos da Editora Abril diziam que os "terroristas" haviam tentado fugir e no momento da recaptura reagiram a tiros e foram mortos numa ação de legítima defesa das "forças da ordem". O comandante do 2º Exército era na época o general Humberto de Souza Melo, sogro do Major Carlos Alberto Brilhante Ustra que comandava as torturas do DOI-CODI usando o nome falso de Tibiriçá Correia. Se você pesquisar melhor os fatos históricos, e eu acho que todo mundo que passa esses e-mails pra frente deveria fazê-lo, você vai descobrir que o atentado CONTRA O QUARTEL que matou o soldado Mário Kozel por seu despreparo militar, foi assumido publicamente por um ex-soldado do Exército chamado Eduardo Leite também conhecido como Bacuri, que foi barbaramente assassinado pelos militares, que antes de o matar vazaram seus dois olhos e deram varias machadadas em sua cabeça. Hoje Eduardo Leite é nome de uma rua em nossa Belo Horizonte cuja Câmara de Vereadores homenageou as vítimas das bárbaries da Ditadura Militar. Os episódios de sua morte estão narrados no livro "Rua Viva" do ex-vereador Betinho Duarte. Houve confrontos armados? Houve. Houve mortes de brasileiros? Houve. Só que a oposição armada matou em combate a homens que estavam armados para matar, e a Ditadura matou na tortura dezenas de pessoas que já estavam rendidas e imobilizadas. Esta é a grande diferença.


Não tenho receios de assumir o que fiz, e tenho muito orgulho de ser mineiro como Tiradentes, que convidado a se retratar quando subiu ao patíbulo, respondeu: "Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria!" Também sou discípulo de São Judas Tadeu, que diante do Centurião romano se recusou a renegar sua fé cristã, tendo por esta ousadia sido cortado em pedaços com a machadinha que vemos hoje empunhada por sua imagem.


De qualquer maneira Aurélia te agradeço pela oportunidade de recapitular esse tempo e de poder passar esse testemunho para todos, principalmente os da nova geração que não têm um conhecimento suficiente dos fatos daquela época.


Aceite meu abraço.


De seu vizinho,


Milton Tavares Campos.

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