sexta-feira, 31 de maio de 2013

AS ROSAS DA ESPERANÇA

Amigos,
Hoje, dia 31 de maio, sexta-feira, Eugênio, seu filho e eu compramos rosas e fomos ao local onde está instalado oMonumento à Resistência e à Luta pela Anistia em Minas Gerais. Retiramos as rosas colocadas no dia da inauguração e trocamos pelas que compramos hoje. Este monumento é uma homenagem aos  58 militantes políticos mineiros mortos e desaparecidos na luta contra a ditadura militar e foi instalado em frente ao Dops, no canteiro central da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. Gostaria que essa troca das rosas fosse uma iniciativa coletiva e semanal. Percebemos que as pessoas que lá estavam nesse momento não tinham conhecimento do que aconteceu em nosso país nessa época, por isso seria interessante que fosse impresso um informativo sobre o Monumento para ser distribuído às centenas de pessoas que transitam pelo local. Já conversei com o Dr. Paulo Abrão sobre a necessidade de iluminação do Monumento, pois o local é escuro à noite.
Envio algumas fotos tiradas hoje. 
Abraços.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À RESISTÊNCIA E À LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À RESISTÊNCIA E À LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.
INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À RESISTÊNCIA E À LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2
013. BELO HORIZONTE.
INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO À RESISTÊNCIA E Á
LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.
Segunda Edição do Prêmio Zuzu Angel  Teatro Odylo Costa Filho, da UERJ.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.


INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A RESISTÊNCIA E A LUTA PELA ANISTIA EM MINAS GERAIS . 25 de maio de 2013. BELO HORIZONTE.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

domingo, 19 de maio de 2013


Homenagem em frente ao cárcere »Mortos pela ditadura militar serão lembrados em monumento na Afonso PenaObra está sendo erguida próximo ao antigo Dops, hoje Delegacia Antidrogas

Publicação: 19/05/2013 07:00 Atualização: 19/05/2013 09:19
Fachada do prédio onde funcionava o Dops, hoje Delegacia Antidrogas, na avenida Afonso Pena (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Fachada do prédio onde funcionava o Dops, hoje Delegacia Antidrogas, na avenida Afonso Pena
O canteiro central da Avenida Afonso Pena, em frente ao Departamento de Investigação Antidrogas, que no passado abrigou a Delegacia de Segurança Pessoal e de Ordem Política e Social (Dops), local de prisão e tortura de presos políticos durante a Ditadura Militar (1964-1985), está sendo preparado para receber um monumento que vai lembrar os que morreram combatendo o regime militar. A inauguração será no próximo sábado, quando os nomes de 58 militantes serão colocados na placa. De acordo com o autor do monumento, o gaúcho Tiago Balem, a capital mineira será a primeira cidade brasileira a ter a obra, que também será instalada em outras 10 capitais. “Faz referência à bandeira nacional sendo descoberta e revelando o nome das pessoas”.

A presidente da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil, Cristina Rodrigues, afirma que o objetivo é transformar o antigo Dops em centro de cultura. “Estamos conversando com o governo do estado para isso”, afirma Cristina. A associação também pretende instalar marcos em outros locais que foram trincheiras na luta contra a ditadura, como a escadaria da Igreja São José, a Praça Sete, as faculdades de Medicina e Direito e a igreja dos dominicanos.

As vítimas do regime ditatorial que serão homenageadas no monumento morreram durante tenebrosas sessões de tortura ou foram executadas antes de ser presas. Entre os homenageados estão nomes conhecidos como o da estilista Zuleika Angel Gomes, a Zuzu Angel, mãe do militante Stuart Angel, que foi morto durante sessões de tortura. Zuzu passou a buscar a verdade, mas também morreu em um acidente de carro que é atribuído aos militares.


Além da inauguração do marco, na sexta-feira, a caravana da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça fará o julgamento de dois militantes: Cecílio Emigdio Saturnino, que já morreu, e Wellington Moreira Diniz.

Atos 
O ex-vereador Betinho Duarte (PSB), que coordena ações em prol da anistia, explica que o julgamento pode levar a três atos. O primeiro é o pedido de perdão, que é feito por um representante do Estado Brasileiro, se desculpando pelas violências cometidas. O segundo é uma indenização monetária, que pode chegar no máximo a R$ 100 mil. Se for comprovado que o réu foi mandado embora do trabalho ele tem direito à contagem do tempo de serviço e até receber uma aposentadoria vitalícia.

Além do julgamento, também serão homenageados os anistiados políticos Angelina Dutra de Oliveira, Antônio Ribeiro Romanelli, Imaculada Conceição Lucas de Oliveira, Maria Geralda Gomes e Oroslinda Maria Taranto Goulart. As famílias de Therezinha Martins Rabelo e Carmela Pezzuti também receberão homenagens.


Veja a relação completa dos homenageados no monumento:

Nomes e data da morte


1 – Abelardo Rausch Alcântara – 12 de fevereiro 1970 – Brasília
2 – Adriano Fonseca Filho – ARAGUAIA – 28 de novembro de 1973
3 – Alberto Aleixo – 07 de agosto de 1975 – Rio de Janeiro
4 – Antônio Carlos Bicalho Lana – 30 de novembro de 1973 – São Paulo
5 – Antônio Joaquim de Souza Machado – 15 de fevereiro de 1971- Rio deJaneiro
6 – Antônio dos Três Reis de Oliveira – 17 de maio de 1970 – Paraná
7 – Arnaldo Cardoso Rocha – 15 de março de 1973 – São Paulo
8 – Augusto Soares da Cunha – 01 de abril de 1964 – Governador Valadares
9 – Áurea Elisa Pereira Valadão – ARAGUAIA – 13 de junho de 1974
10 – Benedito Gonçalves – 20 de agosto de 1979
11 – Carlos Alberto Soares de Freitas – 15 de fevereiro de 1971 – Rio de Janeiro
12 – Carlos Antunes da Silva – 16 de janeiro de 1970 – Belo Horizonte
13 – Carlos Schirmer – 01 de maio de 1964 – Divinópolis
14 – Ciro Flávio Salazar Oliveira – ARAGUAIA – 30 de setembro de 1972
15 – Daniel José de Carvalho – 13 de julho de 1974 – Paraná
16 – David de Souza Meira – 01 de abril de 1968 – Rio de Janeiro
17 – Devanir José de Carvalho – 07 de Abril de 1971 – São Paulo
18 – Eduardo Antônio da Fonseca – 23 de dezembro de 1971 – São Paulo
19 – Eduardo Collen Leite – Bacuri – 08 de dezembro 1970 – São Paulo
20 – Elson Costa – 15 de janeiro de 1975 – São Paulo
21 – Feliciano Eugênio Neto – 29 de setembro de 1976 – São Paulo
22 – Geraldo Bernardo da Silva – 17 de julho de 1969 – Rio de Janeiro
23 – Getúlio de Oliveira Cabral – 29 de dezembro de 1972 – Rio de Janeiro
24 – Gildo Macedo Lacerda – 28 de Outubro de 1973 – Recife
25 – Guido Leão – setembro de 1979 – Betim
26- Hamilton Pereira Damasceno – fevereiro de 1972 – Rio de Janeiro
27 – Helber José Gomes Goulart – 16 de julho de 1973 – São Paulo
28 – Hélcio Pereira Fortes – 28 de janeiro de 1972 – São Paulo
29 – Idalísio Soares Aranha Filho -ARAGUAIA – 12 de julho 1972
30 – Itair José Veloso – 25 de maio de 1975 – São Paulo
31 – Ivan Mota Dias – 15 de maio de 1971- Rio de Janeiro
32 – Jeová Assis Gomes – 09 de janeiro de 1972 – Goiás
33 – João Batista Franco Drummond – 16 de outubro de 1976 – São Paulo
34 – João Bosco Penido Burnier – Padre – 11 de outubro de 1976 – Goiânia
35 – Joel José de Carvalho – 13 de julho de 1974
36 – José Carlos Novaes da Mata Machado – 28 de outubro de 1973 – Recife
37 – José Júlio de Araújo – 18 de agosto de 1972 – São Paulo
38 – José Maximino de Andrade Netto – 18 de agosto de 1975 – São Paulo
39 – José Toledo de Oliveira – ARAGUAIA – 21 de setembro de 1972
40 – Juarez Guimarães de Brito – 18 de abril de 1970 – Rio de Janeiro
41 – Lucimar Brandão Guimarães – 31 de julho de 1970 – Belo Horizonte
42 – Maria Auxiliadora Lara Barcelos – 01 de junho de 1976 – Alemanha
43 – Nativo Natividade de Oliveira – 23 de outubro de 1985 – Goiás
44 – Nelson José de Almeida – 11 de abril de 1969 – Teófilo Otoni
45 – Oracílio Martins Gonçalves – 30 de julho de 1979
46 – Orlando da Silva Rosa Bomfim Júnior – 08 de outubro de 1975 – São Paulo
47 – Osvaldo Orlando da Costa – ARAGUAIA – abril de 1974
48 - Otávio Soares Ferreira da Cunha – 04 de abril de 1964
49 – Paschoal Souza Lima – 30 de março 1964 – Governador Valadares
50 – Paulo Costa Ribeiro Bastos – 11 de Julho de 1972 – Rio de Janeiro
51 – Paulo Roberto Pereira Marques – ARAGUAIA – dezembro 1973
52 – Pedro Alexandrino Oliveira Filho – ARAGUAIA – 04 de agosto de 1974
53 – Raimundo Eduardo da Silva – 05 de Janeiro de 1971 – São Paulo
54 – Raimundo Gonçalves de Figueiredo – 28 de abril de 1971 – Recife
55 - Rodolfo de Carvalho Troiano – ARAGUAIA – 12 de janeiro 1974
56 – Walquíria Afonso Costa – ARAGUAIA – 25 de dezembro de 1974
57 - Walter de Souza Ribeiro – ARAGUAIA – 03 de abril 1974
58 – Zuleika Angel Jones – ZUZU ANGEL – 14 de abril de 1976 – Rio de Janeiro 


 (Alexandre Guzanshe / EM / DA Press)

Operários já trabalham na construção domonumento, que ficará no canteiro central da Afonso Pena, como mostra a projeção (Tiago Balem/Projecao )
Operários já trabalham na construção domonumento, que ficará no canteiro central da Afonso Pena, como mostra a projeção


O guerrilheiro rompe o silêncio »Calado desde a abertura e às vésperas de ser julgado, Wellington Diniz conta sua história de luta contra a ditaduraDiniz assaltou, foi acusado de assassinatos, preso, torturado, exilado, foi segurança de Lamarca e Fidel e fez cinema com Rosselini. Ele rompe o silêncio às vésperas de ser julgado em BH pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça

Publicação: 19/05/2013 07:30 Atualização: 19/05/2013 10:27
Daniel Camargos

'Teve um embate e eu estava presente. A Dilma tinha a convicção dela, que era uma visão mais antimilitar. E nós tínhamos uma visão mais militar. A Dilma acusou o Lamarca de não ter sustentação teórica. Houve tensão, as discussões foram sérias, mas nunca chegou às vias de fato' (Beto Novaes/EM/D.A Press)
'Teve um embate e eu estava presente. A Dilma tinha a convicção dela, que era uma visão mais antimilitar. E nós tínhamos uma visão mais militar. A Dilma acusou o Lamarca de não ter sustentação teórica. Houve tensão, as discussões foram sérias, mas nunca chegou às vias de fato'

Quem observa o senhor franzino, de 66 anos, morador do Bairro Carmo, em Sete Lagoas, é incapaz de imaginar o peso da história que ele carrega. Wellington Moreira Diniz lutou contra a ditadura militar no Brasil, participou de ações armadas em bancos e quartéis para abastecer organizações como Colina, Var-Palmares e VPR com armas e dinheiro; foi responsável pela segurança do ícone da resistência, o capitão Carlos Lamarca, e presenciou a jovem Dilma Rousseff, então com 21 anos, discutir asperamente com Lamarca. Fez ainda parte do grupo que roubou US$ 2,598 milhões (R$ 15 milhões atualmente) do cofre da amante do político Adhemar de Barros; foi preso e cruelmente torturado, depois libertado em troca do embaixador suíço que havia sido sequestrado por seus companheiros. Exilado no Chile, foi segurança do então presidente cubano, Fidel Castro, quando este visitou o país governado por Salvador Allende, em 1971. Trabalhou ainda como assistente em produções do diretor de cinema chileno Miguel Littín e do italiano Roberto Rosselini e lutou pela independência de Angola, participando da tomada do aeroporto na capital. 

Até a quarta-feira da semana passada, Wellington nunca havia contado sua trajetória. Em um depoimento de quase três horas, ele revelou ao Estado de Minas detalhes da sua biografia. Acusado de 38 assaltos, entre bancos, quartéis e automóveis, e de ter matado 12 pessoas em ações de resistência à ditadura, ele será julgado na próxima sexta-feira pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça. O deputado federal e ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) será o relator do processo de Wellington e destaca: “A anistia não discrimina luta armada e luta pacífica. Em uma situação de ditadura é considerado lícito que os militantes peguem em armas”.

“Se eu era bravo? Bravo é boi. Eu seguia as necessidades do momento”, entende Wellington. A ficha do Serviço Nacional de Informações (SNI) imputa 38 ações, mas ele garante ter participado de 45. Sobre as 12 mortes de que é acusado, garante não ser realidade. “Sempre atirei para cima. Se alguém trombou na bala não é problema meu”, ironiza. Um dos apelidos que recebia dos companheiros e também dos militares era 90. Uma alusão às duas pistolas .45 que sempre carregava na cintura durante as ações. Outro apelido – que ele não gosta, aliás – era “John Wayne da guerrilha”. “Isso é folclore”, rebate.

Distante da época elétrica, quando vivia entre um aparelho e outro e chegou a assaltar três bancos no mesmo dia, sendo um no Rio de Janeiro e outros dois em São Paulo, Wellington recita sua vida como se estivesse contando para si próprio. Em quase três horas de depoimento, fumou 18 cigarros, bebeu mais de uma garrafa de café - sem açúcar - e fez longas pausas. “Existem as pessoas que passam pela história e as pessoas que fazem a história. Foi uma opção de vida fazer história”, conclui, deixando o cigarro queimar até o filtro.

» O INÍCIO 
Wellington nasceu em Belo Horizonte, no Bairro Nova Suíça, filho de pai comerciante e mãe dona de casa. Começou a militância política na escola técnica industrial e logo depois integrou a Ação Popular (AP). Foi preso em 1968. “Foi um escândalo. Eu morava com meus pais e fui levado de cueca para o CPOR”, lembra. Foi interrogado, mas como não entregava nada seguiu preso. “Nesse tempo a tortura não era institucionalizada. Era só pancadaria. Eles batiam muito com cacetete de borracha”, detalha. 

Recebia toda semana a visita dos pais e, para não assustá-los, dizia que estava bem e se sentia em uma colônia de férias. Certo dia, durante a visita, um coronel mandou que ele tirasse a camisa. Wellington resistiu, mas foi agarrado. “Meu pai viu como eu estava, porque o cacetete de borracha deixa lanhos na pessoa”, lembra. O coronel levou o pai dele para outra sala e teve uma conversa reservada. No dia seguinte, o pai de Wellington, Nereu Diniz, então com 46 anos, foi internado em um hospital e morreu de problemas cardíacos. “Meu pai não tinha nenhuma militância, não era ligado a nenhum partido político. Ele era só meu pai”, indigna-se.

» AO ATAQUE

Três dias após deixar a prisão, em Belo Horizonte, foi decretado o Ato Institucional número 5 (AI-5). Porém, Wellington não esperou pelo endurecimento do regime militar e já estava vivendo clandestinamente no Rio de Janeiro. Ingressou no Comando de Libertação Nacional (Colina). O contato dele era o também belo-horizontino Juarez Guimarães de Brito. “Juarez é na minha vida de 66 anos a pessoa mais honesta, mais parceira, mais companheira e que me ensinou muito na vida”, afirma Wellington. O Colina fundiu com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), de Carlos Lamarca, e formou a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). 
Entre as ações empreendidas na resistência à ditadura,  Wellington destaca o assalto à agência do banco Andrade Arnaud, que ficava próximo ao Ministério da Guerra e à delegacia de repressão de assalto a bancos, na capital fluminense. “Isso deixou os militares furiosos”, recorda. Outro estratégia ousada foi o assalto à agência Urca da antiga União dos Bancos Brasileiros, que era onde os militares depositavam o dinheiro, pois era vizinho da Escola Superior da Guerra. Wellington também assaltou o carro do general Syzeno Sarmento, então ministro da Guerra. “Eu mesmo peguei o carro dele. Um carro bom, porque tinha placa fria e uma pistola .45 no porta-luvas”, lembra. 

O assalto ao quartel de Manguinhos, na Avenida Brasil, também marcou. “Éramos cinco pessoas. O Darcy Rodrigues chegou para o sentinela e gritou: qual é o f. que disparou a arma?”, lembra Wellington. O guarda, assustado, não soube responder e atendeu a ordem de Darcy, que estava vestido como militar. Cerca de 40 militares foram reunidos em uma sala e colocados em posição de sentido. “Estava todo mundo com o fuzil na mão. O Darcy entrou e deu posição de sentido. Aí eu entrei. Com uma Thompson (metralhadora) na mão”, recorda.


» O GRANDE ASSALTO
 (Ronaldo Moraes/O Cruzeiro/EM)
A maior ação e mais notória foi o roubo do cofre da amante de Adhemar de Barros, no Bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Adhemar morreu em março de 1969 e deixou grande parte do dinheiro com sua principal amante, Anna Gimel Benchimol Capriglione. No dia 18 de junho de 1969, 11 militantes da VAR-Palmares,     Wellington entre os líderes, invadiram a mansão, renderam todos os funcionários e levaram o cofre, que em valores de hoje tinha o equivalente a R$ 15 milhões. 
 “Eu não podia trocar dinheiro. Nem eu e nem o pessoal mais militarizado. Isso ficava para os simpatizantes. A Dilma (a presidente Dilma Rousseff) estava começando e foi junto com a Iara (Iara Averbeck, militante e namorada de Carlos Lamarca) trocar parte do dinheiro em uma casa da câmbio no Copacabana Palace”, lembra. A maior parte, entretanto, foi levada para o embaixador da Argélia por Wellington

 “Todo dinheiro era para a organização. Eu nunca coloquei a mão em um tostão de todas as operações que fiz. Eu inclusive apanhei porque não tinha uma nota de US$ 1”, sustenta Wellington. Os militantes decidiram que cada um dos participantes poderia ficar com uma nota de US$ 1 como recordação do feito, mas Wellington recusou, o que fez ele apanhar ainda mais na prisão por não revelar onde estava a nota. A história do assalto é contada no livro O cofre do dr. Rui (Civilização Brasileira), escrito por Tom Cardoso. Até a quarta-feira da semana passada, Wellington nunca havia contado sua trajetória. Em um depoimento de quase três horas, ele revelou ao Estado de Minas detalhes da sua biografia. Acusado de 38 assaltos, entre bancos, quartéis e automóveis, e de ter matado 12 pessoas em ações de resistência à ditadura, ele será julgado na próxima sexta-feira pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça. O deputado federal e ex-ministro dos Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) será o relator do processo de Wellington e destaca: “A anistia não discrimina luta armada e luta pacífica. Em uma situação de ditadura é considerado lícito que os militantes peguem em armas”.

 “Se eu era bravo? Bravo é boi. Eu seguia as necessidades do momento”, entende Wellington. A ficha do Serviço Nacional de Informações (SNI) imputa 38 ações, mas ele garante ter participado de 45. Sobre as 12 mortes de que é acusado, garante não ser realidade. “Sempre atirei para cima. Se alguém trombou na bala não é problema meu”, ironiza. Um dos apelidos que recebia dos companheiros e também dos militares era 90. Uma alusão às duas pistolas .45 que sempre carregava na cintura durante as ações. Outro apelido – que ele não gosta, aliás – era “John Wayne da guerrilha”. “Isso é folclore”, rebate. 

Distante da época elétrica, quando vivia entre um aparelho e outro e chegou a assaltar três bancos no mesmo dia, sendo um no Rio de Janeiro e outros dois em São Paulo, Wellington recita sua vida como se estivesse contando para si próprio. Em quase três horas de depoimento, fumou 18 cigarros, bebeu mais de uma garrafa de café – sem açúcar – e fez longas pausas. “Existem as pessoas que passam pela história e as pessoas que fazem a história. Foi uma opção de vida fazer história”, conclui, deixando o cigarro queimar até o filtro.

» LAMARCA
 (Arquivo)
Após a fusão entre a Colina e a VPR que originou a VAR-Palmares, Wellington passou a comandar a terceira base operacional da organização. “O meu grupo propôs uma operação para matar o Lamarca (Carlos)”, lembra. O motivo é que eles tinham visto uma notícia no jornal em que Lamarca, então capitão do Exército e um dos melhores atiradores do país, dava um curso de tiro para gerentes de banco reagirem aos assaltos. Wellington não sabia, entretanto, que no final de janeiro de 1969 Lamarca havia desertado e fugido do quartel de Quitaúna, em São Paulo, com uma Kombi carregada de fuzis, metralhadoras e munição e entrado para a VPR. 

O plano não foi pra frente e meses depois Wellington foi deslocado para uma tarefa. Quando entra no aparelho se depara com Lamarca. “Ele morreu de rir. Disse que eu queria matá-lo, mas teria era que cuidar dele”, afirma. Wellington se recorda de quando passou a ser segurança do principal nome da guerrilha armada. “Fui com ele quando foi fazer uma cirurgia plástica. As enfermeiras pensaram que éramos um casal. Me gozaram muito no hospital. Mas elas não sabiam que debaixo do capote que vestia havia duas pistolas .45, uma metralhadora Thompsom e algumas granadas”, detalha.

» DILMA
 (Arquivo)
Após o assalto ao cofre da amante do governador Adhemar de Barros houve um encontro da VAR-Palmares em Teresópolis, na região serrana fluminense. Um grupo, liderado por Lamarca, priorizava as ações armadas, e outro, do qual Dilma fazia parte, tinha o discurso da conscientização da massa de trabalhadores. Eram os “foquistas”, que desejavam implantar focos de guerrilha ante os “massistas”. 

 “Teve um embate e eu estava presente. A Dilma tinha a convicção dela, que era uma visão mais antimilitar. E nós tínhamos uma visão mais militar, que foi o grupo que formou a Vanguarda Popular Revolucionária. A Dilma acusou o Lamarca de não ter sustentação teórica. Houve tensão, as discussões foram sérias, mas nunca chegou às vias de fato”, recorda Wellington.


» A QUEDA
Wellington viveu um tempo como camponês na região serrana do Rio de Janeiro preparando aquele que seria o cativeiro – caso o plano fosse efetivado – do então ministro da Marinha, Augusto Rademaker, e do militar Gary Prado, que estava no Brasil e foi um dos responsáveis pela caçada que matou Ernesto Che Guevara. “Fui ao Rio porque ia ter um encontro para fechar essa questão. Como eu era o segurança do Lamarca, sempre ia na frente para averiguar. Na hora em que abri a porta do apartamento tinha um Fal (fuzil) na minha cara”, lembra.

Wellington diz que correu, mas se deparou com outros militares. Chegou a trocar tiros, mas foi atingido de raspão na cabeça e outro nas costas. Acabou preso. “Ai me meteram duas algemas. Um militar enfiou o fuzil na minha boca, quando eu estava caído. Fui levado para o DOI-Codi, na Barão de Mesquita. No elevado da Barão de Mesquita dei uma cabeçada no motorista do carro e ele esbarrou o carro na mureta”, destaca a própria valentia. Preso, Wellington afirma ter conseguido segurar 72 h oras sem abrir a boca. Ele sabia muito. Sabia onde estava Lamarca e também o destino do dinheiro do cofre da amante do Adhemar de Barros e, por isso, foi torturado intensamente. 


» EXÍLIO E FIDEL
Com o sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, comandado por Lamarca, Wellington entrou na lista dos 70 nomes que seriam trocados pelo diplomata. Foram para o Chile, que era governado por Salvador Allende. Chegando ao país andino, ele trabalhou com o cineasta Miguel Littín, como assistente de câmera no filme A terra prometida. Porém, quando o general Augusto Pinochet tomou o poder, seu nome foi incluído na lista de procurados e teve que deixar o país. 

Antes, em 1971, quando o então presidente cubano Fidel Castro visitou o Chile, Wellington foi destacado pelo Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) para compor a equipe de segurança do líder cubano. “Precisavam de pessoa com certa experiência e desenvoltura para auxiliar nos trabalhos. Com gente disposta ao que desse e viesse. Fidel era um ídolo, assim como Che Guevara. E nos tratava de igual para igual, chamando-nos de companheiro e tomando um café igual nós estamos tomando aqui”, relata. 


» CINEMA E REVOLUÇÃO
 (Reprodução)
No Chile, além de trabalhar na produção de filmes, Wellington conheceu Renzo Rosselini, filho do cineasta italiano Roberto Rosselini. Quando teve que deixar o país após a tomada do poder por Pinochet, Wellington chegou à Itália, passando por México e Bélgica antes. Lá, conta que foi assistente de direção de Roberto Rosselini em filmes feitos para a  tevê italiana RAI. No Brasil, quando retornou, foi assistente de direção de Helvécio Ratton no filme A dança dos bonecos (1986). “Um cara extremamente corajoso. Não era de falar muito e nem de discutir, mas era um sujeito de muita ação”, lembra Ratton. 

Porém, antes de retornar ao Brasil, Wellington também esteve em Angola e participou da luta pela libertação do país, que culminou na independência, em 1975. No país africano nasceu um de seus seis filhos. Após retornar ao Brasil, estudou medicina oriental e, por muitos anos, teve um clínica de acupuntura no Bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte, além de dar aulas e escrever livros sobre o assunto. Há três anos mora em Sete Lagoas. Mudou-se  para a cidade para viver mais próximo de sua mãe, que morreu em março deste ano.

» IDEOLOGIA

Wellington afirma que na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antigos companheiros o sondaram sobre a oportunidade de trabalhar em Brasília. Porém, ele permanece radical. “Eu não tenho estômago ainda. Eu ainda não tenho essa capacidade de exercer minha serenidade frente a pessoas que torturaram ou que financiaram a tortura. Eu não tenho o que fazer lá”, afirma. Wellington não se arrepende de nada do seu passado. “Tenho muito orgulho de ter feito parte de uma situação que pode resultar hoje na nossa possibilidade de falar”, garante. O ex-combatente faz questão de deixar um recado para os jovens: “Acredito profundamente no ser humano e acredito nessa juventude que está vindo aí. Que pode trazer novos valores saindo desse colonialismo mental que existe até hoje. Não somos nós, os dinossauros da história, quem vai promover essas mudanças. Essas mudanças estão na mão dos jovens que não recebem pressão ideológica do jeito que recebíamos e que tem a liberdade de poder criar algo novo. Tenho um orgulho muito grande de ter participado na construção deste espaço. Quando vejo meus filhos com valores novos, com propostas novas, a vida está feliz e eu estou realizado”. 

Glossário
AI-5 – O Ato Institucional número cinco foi decretado pelo presidente Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Fechou o Congresso e deu poderes absolutos para o regime ditatorial militar. 

AP – A Ação Popular foi um movimento surgido da esquerda católica, em Belo Horizonte, que combateu o poder dos militares. 

Adhemar de Barros – Político paulista, governou São Paulo, foi derrotado por Juscelino Kubitschek para a Presidência da República e cunhou a expressão “rouba, mas faz”. 

Augusto Pinochet – Governou o Chile entre 1973 e 1990, após tomar o poder com um golpe militar. Morreu em dezembro de 2006.

Carlos Lamarca – Capitão do Exército brasileiro, campeão de tiro, desertou e passou a combater a ditadura em organizações de esquerda. Morreu no sertão da Bahia, após intensa perseguição, em 17 de setembro de 1971.

Colina – Sigla de Comando de Libertação Nacional, grupo de extrema- esquerda iniciado em Minas Gerais. Em 1969, se fundiu com a VPR e formou a VAR-Palmares. 

Fidel Castro – Liderou a Revolução Cubana, em 1959, e presidiu Cuba até 2006, quando passou o poder para seu irmão, Raul Castro

Miguel Littín – Um dos mais importantes cineastas chilenos. Diretor de obras como Ata geral do Chile (1986) e A terra prometida (1974)

Roberto Rosselini – Cineasta italiano, diretor de vários filmes célebres, como Roma, cidade aberta (1945). Morreu em 1977. 

Salvador Allende – Primeiro presidente socialista eleito democraticamente. Governou o Chile entre 1970 e 1973, quando se matou, durante o golpe e bombardeio empreendido pelo sanguinário Augusto Pinochet. 

VAR-Palmares – Sigla de Vanguarda Armada Revolucionária Palmares. Adotou a tática de guerrilha e surgiu da fusão do Colina e com a VPR. 

VPR – Sigla de Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi a primeira organização de esquerda em que o capitão do Exército 
Carlos Lamarca ingressou.